Quem é Keir Starmer? O advogado que devolveu os trabalhistas ao poder no Reino Unido
Keir Starmer, o político que mudou o rumo do Partido Trabalhista do Reino Unido para aproximá-lo de posições mais ao centro, será o novo primeiro-ministro britânico, colocando um ponto final a 14 anos de governos conservadores
A ascensão de Starmer também coincide com o centenário da chegada ao poder do primeiro chefe de governo trabalhista, Ramsay MacDonald, que esteve no cargo entre janeiro e novembro de 1924 com um governo minoritário, que depois se repetiu entre 1929 e 1931.
Após esse período, o partido voltou ao governo após a Segunda Guerra Mundial com Clement Attlee (1945-1951), quando aprofundou o estado de bem-estar social e estabeleceu o Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês).
Nas décadas de 1960 e 1970, o Partido Trabalhista viveu a sua era de ouro com Harold Wilson e James Callaghan, antes das chegadas de Tony Blair e Gordon Brown, primeiros-ministros entre 1997 e 2010.
Aos 61 anos, Starmer assume agora o lugar deixado pelos trabalhistas Blair e Brown, derrotando o ainda primeiro-ministro conservador, Rishi Sunak, que ficou menos de dois anos no cargo.
Entrada tardia na política
Trabalhista desde o berço, tendo herdado seu primeiro nome de Keir Hadie, fundador e primeiro líder do partido no início do século XX, Starmer assumiu as rédeas do grupo político há quatro anos.
Em abril de 2020, sucedeu a Jeremy Corbyn, defensor de uma ideologia mais à esquerda, após um duro revés do grupo nas eleições legislativas de 2019. Depois desse fracasso, Starmer mudou o rumo do partido, afastando-o das teses mais radicais de Corbyn.
O novo primeiro-ministro, no entanto, entrou tarde na política e chegou pela primeira vez ao parlamento aos 52 anos (a mesma idade com que o antigo primeiro-ministro Tony Blair deixou a liderança do Partido Trabalhista), após ser eleito pelo distrito londrino de Holborn e Saint Pancras em 2015.
Mas sua ambição para alcançar voos mais altos na política sempre foi clara desde o início. É disso exemplo a resposta que deu quando questionado numa entrevista sobre como gostaria de ser lembrado. "Como alguém que teve um governo trabalhista ousado e reformista. Como um grande pai e amigo", respondeu.
E o sonho de chegar ao número 10 de Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro, finalmente concretizou-se.
Advogado e adepto do Arsenal
Nascido no bairro londrino de Southwark, ao sul da capital, estudou direito na Universidade de Leeds, e continuou sua formação como advogado de grande reputação em Oxford.
Criado numa família com poucos recursos económicos, foi o primeiro membro da família a ir para a universidade.
Starmer exerceu advocacia na área dos direitos humanos antes de ser nomeado Procurador-Geral da Justiça.
Antigo procurador-geral de Inglaterra e do País de Gales entre 2008 e 2013, Starmer, descrito pelos detratores como aborrecido e pouco carismático, é caricaturado pelos adversários como um "advogado esquerdista de Londres".
Foi nomeado cavaleiro pela rainha Isabel II pelo papel à frente da Procuradoria da Coroa, e os opositores conservadores gostam de usar o seu título, "Sir", para o retratar como sendo elitista.
Casado e com dois filhos adolescentes, Starmer gosta de sublinhar as credenciais de homem simples, especialmente a paixão pelo futebol e o apoio ao clube londrino Arsenal, e as raízes na classe trabalhadora.
"O meu pai era fabricante de ferramentas e a minha mãe enfermeira", costuma repetir.
A mãe sofria de uma doença crónica que a deixava em sofrimento, e Starmer afirmou que visitá-la no hospital e ajudar a cuidar dela lhe deixou uma marca indelével e ajudou a formar o seu forte apoio ao Serviço Nacional de Saúde financiado pelo Estado.
O direito serviu de ponte para que conhecesse a mulher, Victoria, que também se dedica à advocacia. "Estávamos a trabalhar juntos num caso e tive a audácia de questionar parte do trabalho que ela estava a fazer. Então, a primeira opinião dela sobre mim foi dizer aos amigos: 'quem ele pensa que é?'", contou numa entrevista.
Apaixonado por futebol, praticou o desporto como amador. Seguro de si mesmo, chegou a afirmar que derrotaria Boris Johnson, ex-primeiro-ministro conservador, se ambos fossem adversários numa partida de futebol.
"Detesto perder, principalmente no futebol e na política. Jogo futebol toda semana, no meio do campo, a comandar. Muita gente fala que o importante é competir. Não sou dessa opinião. O que importa é vencer", afirmou noutra ocasião.
Agora, com seu novo cargo de primeiro-ministro, será mais difícil frequentar o seu pub preferido para assistir aos jogos do seu clube, o Arsenal, do qual é adepto fervoroso e sócio há muitos anos, ou de se misturar entre a multidão no Emirates Stadium.
Com Lusa