Palestinianos recebem comida numa cozinha humanitária em Gaza.
Palestinianos recebem comida numa cozinha humanitária em Gaza. EPA/MOHAMMED SABER

Quando é que existe "fome" e em que quatro outros locais já foi declarada antes da cidade de Gaza?

A classificação de segurança alimentar divide-se em cinco níveis. Desde que foi introduzido, em 2004, o mais grave só foi atingido em quatro ocasiões, sempre em África. Agora chega ao Médio Oriente.
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As Nações Unidas declararam esta sexta-feira (22 de agosto) a situação de fome na Cidade de Gaza, algo que Israel nega. Mas o que é que essa declaração significa? E em que outros locais já foi declarada a fome antes?

A declaração de fome (no inglês famine, sendo que por vezes a palavra surge em maiúscula em português para diferenciar da simples vontade de comer) é feita pelo Quadro Integrado de Classificação da Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), que é um organismo das Nações Unidas sedeado em Roma.

"A Fome é uma situação em que pelo menos uma em cada cinco famílias sofre uma extrema falta de alimentos e enfrenta a fome e a miséria, resultando em níveis extremamente críticos de subnutrição aguda e morte", segundo o IPC.

É declarada quando se reúnem três condições:

- pelo menos 20% dos lares (um em cada cinco) enfrentam uma escassez extrema de alimentos;

- pelo menos 30% das crianças com menos de 5 anos (uma em cada três) sofrem de desnutrição aguda;

- e pelo menos duas pessoas em cada 10.000 morrem de fome todos os dias.

O IPC prevê cinco níveis de segurança alimentar (as chamadas “fases”): segurança alimentar geral, insegurança alimentar moderada/limitada, crise aguda de alimentação e subsistência, emergência humanitária e fome/catástrofe humanitária.  

No enclave palestiniano, além da fome na cidade de Gaza, o IPC alerta que esta situação deverá estender-se às províncias de Deir el-Balah (centro) e Khan Yunis (sul) até ao final de setembro.

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Esta é a primeira vez que a fome é declarada na região do Médio Oriente, tendo o IPC declarado no passado outras quatro situações de fome desde que instituiu as cinco "fases" de segurança alimentar, em 2004.

Somália (2011)

A 20 de julho de 2011, foi declarada a situação de fome em partes do sul da Somália. Cerca de 490 mil pessoas na Somália enfrentavam níveis catastróficos de insegurança alimentar aguda (Fase 5 do IPC) devido a conflitos, seca e escassez de chuvas. O problema prolongou-se até 2012, estimando-se que 260 mil pessoas tenham morrido. Em 2017, uma nova situação de fome conseguiu ser evitada.

Sudão do Sul (2017)

Após três anos de guerra civil e o colapso económico do país, foi declarada a fome a 20 de fevereiro de 2017 na parte do centro-norte do Sudão do Sul. Cerca de 80 mil pessoas estavam em risco. A situação melhorou em poucos meses e em junho a situação já era considerada de Fase 4.

Sudão do Sul (2020)

O IPC voltou a falar de situação de fome de Fase 5 em novembro de 2020, desta vez em quatro áreas do estado de Jonglei. A zona de Pibor foi particularmente afectada pela violência e pelas inundações, que destruíram casas, meios de subsistência, incendiaram infraestruturas essenciais, provocaram deslocações em massa, cortaram o acesso a serviços humanitários e criaram desafios operacionais quase intransponíveis para os profissionais humanitários que prestavam ajuda. Estes choques locais, combinados com dificuldades económicas, em particular o aumento significativo dos preços, levaram dezenas de milhares de pessoas à fome, segundo o IPC.

Sudão (2024)

Em dezembro do ano passado, o IPC declarou fome em cinco áreas do Sudão, projetando que outras cinco poderiam seguir pelo mesmo caminho até maio. Metade da população do país (24,6 milhões de pessoas) enfrentava elevados níveis de insegurança alimentar aguda.

Na origem do problema está a guerra, que desencadeou deslocações em massa, um colapso económico, o colapso de serviços sociais essenciais e graves perturbações sociais, combinados com um acesso humanitário precário.

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