Quais são os seis países dos Balcãs em lista de espera para entrar na União Europeia?
A Albânia, onde vivem 2,8 milhões de pessoas, apresentou a sua candidatura à União Europeia em 2009 e desde 2014 que tem o estatuto de país candidato. Em 2020 foi dado o acordo para o início das negociações. Mas apesar de todas as recomendações positivas e de Tirana seguir com a aplicação das reformas relacionadas com a agenda da UE, a adesão continua pendente. Os albaneses questionam se o entrave se prende com o facto de a maioria da população ser muçulmana e isso não agradar aos países europeus que temem uma "invasão" migratória. Mas um dos problemas passa pelo cultivo ilegal de canábis - a Albânia foi o sexto maior fornecedor do mundo e o maior da Europa entre 2015 e 2019, segundo um relatório da ONU de 2020. Os grupos criminosos que se dedicam a este tráfico expandiram-se também para o de cocaína, sendo que durante anos o governo virou as costas ao problema e em alguns casos foi mesmo acusado de conluio - já foi criada uma estrutura especial de luta contra a corrupção e o crime organizado. Contudo essa não é a principal razão para o impasse. O primeiro-ministro socialista Edi Rama queixa-se de que a adesão está "refém" da Bulgária. O problema não é a Albânia, mas o outro país que faz parte do pacote de adesão: a Macedónia do Norte.
Primeiro foi a Grécia a bloquear a adesão da Macedónia do Norte exigindo que mudasse o nome - Macedónia é também uma região grega. Os dois países chegaram entretanto a acordo. Agora o travão vem da Bulgária. Sófia quer que Skopje reconheça que a nação e a língua macedónias têm raízes búlgaras anteriores à sua criação, em 1944, como república da antiga Jugoslávia. A Macedónia do Norte, que é independente desde 1991 e tem cerca de dois milhões de habitantes, pediu a adesão em 2004 e começou oficialmente as negociações em 2020, tendo cumprido já os critérios para a conseguir. O primeiro-ministro Zoran Zaev diz que o país está preparado para dar os passos que ainda forem necessários, mas espera que a Bulgária desbloqueie a situação.
Independente desde 2006 (era uma das repúblicas da antiga Jugoslávia e fez depois parte da União da Sérvia e Montenegro), o país de 650 mil habitantes pediu em 2008 a adesão à UE. As negociações começaram em 2012. Dos 33 capítulos de negociação que foram objeto do respetivo relatório analítico, foram provisoriamente encerrados apenas três. O governo de Zdravko Krivokapic, um antigo professor que entrou na política depois dos protestos anticorrupção de 2019 e está no poder desde o ano passado (é o primeiro governo em três décadas que não envolve o Partido Democrático dos Socialistas de Montenegro), acredita que cumprirá todas as exigências europeias para a adesão até 2025. Mas se o fará ou não depende da "vontade política dos 27". Os principais entraves são os capítulos 23 e 24, referentes ao "Poder Judiciário e Direitos Fundamentais" e à "Justiça, Liberdade e Segurança". No relatório de 2020, a Comissão Europeia alertou que a corrupção "continua prevalente" em muitas áreas e apelou a uma forte vontade política para a erradicar.
O pedido para a Sérvia entrar na UE foi apresentado em 2009 e as negociações para a adesão começaram em 2014, tendo sido abertos 18 capítulos, com dois já fechados provisoriamente. Mas a adesão esbarra nas tensões com o Kosovo, que declarou unilateralmente a independência em 2008, não sendo por isso reconhecida por Belgrado. "É vital que Kosovo e Sérvia normalizem as suas relações", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendendo um diálogo moderado pela UE. Diante do atraso em juntar-se ao clube europeu, a Sérvia - onde vivem quase sete milhões de pessoas - tem reforçado os laços com China e Rússia. O que gera preocupação em Bruxelas. Na cimeira com os 27, o presidente sérvio, Aleksandar Vucic, congratulou-se com a relação com Moscovo, elogiando o homólogo russo Vladimir Putin e o facto de a Sérvia não estar a sofrer com a subida dos preços da energia, como a UE.
O Kosovo, com menos de dois milhões de habitantes, tem o estatuto de candidato potencial à adesão. Tendo declarado unilateralmente a independência da Sérvia em 2008, o Kosovo não é reconhecido por cinco países da UE - Chipre, Grécia, Roménia, Eslováquia e Espanha. Um reconhecimento oficial está pendente de negociações com a Sérvia, mantendo-se a tensão entre Belgrado e Pristina. O último tema de confronto prendeu-se com a decisão do primeiro-ministro do Kosovo, Albin Kurti, de aplicar um acordo sobre matrículas de 2016, obrigando os veículos com matrículas sérvias a mudar para umas provisórias do Kosovo. Há anos que a Sérvia força os condutores do Kosovo a comprar matrículas sérvias. A decisão gerou tensão na fronteira.
A Bósnia e Herzegovina, com quase quatro milhões de habitantes, é outro potencial candidato. Sarajevo pediu oficialmente para ser membro da UE em 2003. Contudo, segundo uma nota do Parlamento Europeu, "a instabilidade política interna e a falta de reformas políticas reduziram as perspetivas do país de aderir à UE". No relatório do ano passado, lia-se, por exemplo, que a Constituição da Bósnia e Herzegovina ainda continua a violar a Convenção Europeia sobre Direitos Humanos. não tendo também sido feito qualquer progresso em matéria de lei eleitoral, para garantir transparência do financiamento dos partidos políticos. O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, lamentou num encontro com o primeiro-ministro bósnio, Zoran Tegeltija, em julho, a falta de progresso.
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