Protestos regressam a Maputo após ser confirmada a vitória de Chapo
Ainda decorria a leitura do acórdão do Conselho Constitucional, que confirmou a vitória de Daniel Chapo e da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) nas presidenciais moçambicanas, e já os apoiantes do candidato derrotado Venâncio Mondlane se manifestavam nas ruas de Maputo. Pneus foram queimados e ouviam-se tiros. Também a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) rejeita os resultados, avisando que vai mobilizar a população para “salvar a democracia”. Nos protestos desde as eleições morreram pelo menos 130 pessoas.
Na contagem final, o Conselho Constitucional disse que Chapo conseguiu 65,17% dos votos nas eleições de 9 de outubro, abaixo dos mais de 70% que lhe tinham sido dados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) no final desse mesmo mês. Também deu à Frelimo, que está no poder desde a independência em 1975, menos 24 lugares na Assembleia da República do que o inicialmente anunciado, sem explicar o porquê dessas mudanças.
A Frelimo elege 171 deputados e mantém a maioria absoluta (também faz o pleno na conquista das dez Assembleias Regionais e, consequentemente, dos dez governadores). O Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos, que apoiou a candidatura presidencial de Mondlane) estreia-se com 43 deputados (mais 12 em relação ao que tinha dito a CNE) e passa a ser o principal partido da oposição, relegando a Renamo para a terceira posição, com 28 deputados (mais oito do que o inicialmente previsto).
“Chegou a hora de pensarmos com calma e serenidade sobre a melhor forma de criar uma realidade democrática que representa a riqueza, a diversidade do país. Esse diálogo é chave para superar as nossas diferenças”, disse Chapo, numa mensagem transmitida em direto pelo Facebook. O jurista de 47 anos, secretário-geral da Frelimo, vai suceder na presidência a Filipe Nyusi.
Também no Facebook da Frelimo, o ex-presidente Joaquim Chissano reiterou os apelos à unidade no país. E defendeu abrir a porta do partido no poder aos “talentos” que outras formações políticas têm, para que sejam encontradas as soluções para “os muitos problemas” que Moçambique tem. “Não há dois povos em Moçambique. Há um povo moçambicano”, indicou.
Mas a oposição promete manter a contestação aos resultados. “Não reconhecemos os resultados e nem o suposto vencedor, muito menos os números atribuídos ao seu partido. A Renamo entende que Moçambique merece um Governo legítimo escolhido pelo povo e não por um grupinho de pessoas”, disse o líder do partido, Ossufo Momade, numa conferência de imprensa, avisando que vai mobilizar a população “para salvar a democracia”.
Também Venâncio Mondlane quer continuar a lutar. “O povo moçambicano exige que a gente continue firme, que a gente não pare a nossa luta e continuemos todos unidos e fortes”, indicou no Facebook. O candidato presidencial, que alega ter ganhado com mais de 50% (CNE deu-lhe 20,32% e o Conselho Constitucional 24,19%), continua em parte incerta, apelando aos seus apoiantes a manifestarem-se.
As ruas da capital estavam esta segunda-feira de manhã desertas à espera do anúncio final dos resultados, sendo depois visíveis colunas de fumo em vários pontos de Maputo. Pneus ardiam nas principais avenidas da cidade e havia também o relato de tiros.
COM LUSA