Portugal, em conjunto com 26 aliados que incluem outros 18 países da União Europeia, avisou esta terça-feira (12 de agosto) que “o sofrimento humano em Gaza atingiu níveis inimagináveis” pedindo a Israel que levante as restrições ao trabalho das organizações não-governamentais no terreno e permita a entrada de mais ajuda humanitária. A declaração conjunta surgiu numa altura em que os militares israelitas, que estão a reforçar as ações junto à cidade de Gaza, põem em causa os números de mortes por fome extrema no enclave palestiniano e denunciam uma “campanha orquestrada” por parte do Hamas. “A Fome está a alastrar-se diante dos nossos olhos. É necessária uma ação urgente para travar e reverter esta situação. O espaço humanitário deve ser protegido e a ajuda nunca deve ser politizada”, lê-se no comunicado, assinado pelos ministros de Negócios Estrangeiros de 19 países da União Europeia (UE), além da própria chefe da diplomacia dos 27, Kaja Kallas, e mais dois comissários. Somam-se também ao apelo países como Austrália, Canadá, Japão e Reino Unido. Os 27 aliados (26 países mais os representantes da UE) defendem que “devem ser tomadas medidas imediatas, permanentes e concretas para facilitar o acesso seguro e em grande escala da ONU, das ONG internacionais e dos parceiros humanitários”. E dizem que “não deve ser utilizada força letal nos locais de distribuição [de ajuda], e os civis, voluntários e profissionais de saúde devem ser protegidos”.No comunicado conjunto, agradecem ainda os esforços dos EUA, Qatar e Egito na busca de um cessar-fogo e da paz. “Precisamos de um cessar-fogo que possa pôr fim à guerra, que permita a libertação dos reféns e entrada de ajuda humanitária em Gaza, por via terrestre, sem obstáculos”, dizem. Esta terça-feira (12 de agosto), uma delegação do Hamas, liderada por Khalil al-Hayya, chegou ao Cairo para negociações com os mediadores egípcios para um acordo. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, já deixou contudo claro que não está disponível para negociar um acordo parcial de cessar-fogo e libertação de reféns. “Percorremos um longo caminho. Ficou claro para nós que eles estavam apenas a levar-nos para o caminho errado”, insistiu ao canal i24.O apelo surge numa altura em que Israel põe em causa os números de mortes por fome extrema e desnutrição na Faixa de Gaza, acusando o Hamas de inflacionar os dados. O COGAT, organismo dentro das Forças de Defesa de Israel que coordena as atividades nos territórios palestinianos, denuncia “uma campanha orquestrada como parte de um esforço mais amplo de desacreditar o Estado de Israel e alcançar ganhos políticos”.Segundo o COGAT, existe “uma diferença significativa” entre os números de mortes atribuídas a desnutrição relatados pelas autoridades de saúde da Faixa de Gaza (controladas pelo Hamas) e os casos documentados. Entre estes, alegam que a maioria tinham outros problemas de saúde pré-existentes, alegando que não representam a população em geral, mas um grupo seletivo.Segundo os dados das autoridades de saúde de Gaza, 227 pessoas (incluindo mais de uma centena de crianças) morreram de desnutrição desde o início da guerra - no seguimento do ataque do 7 de outubro de 2023, que fez cerca de 1200 mortos em Israel. Além das mortes por desnutrição, os ataques israelitas terão também matado esta terça-feira (12 de agosto) pelo menos 67 palestinianos (incluindo 16 pessoas que procuravam ajuda humanitária).