Destruição na Ucrânia
Destruição na UcrâniaEPA/NATIONAL POLICE OF UKRAINE

Portugal continua a ser o sétimo país mais pacífico num mundo que é cada vez mais menos pacífico

Índice Global de Paz 2025, divulgado esta quarta-feira pelo Instituto para a Economia e Paz, revela um mundo cada vez menos pacífico. Islândia mantém-se no topo, Rússia ocupa agora última posição.
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Portugal continua a ocupar a sétima posição no Índice Global de Paz 2025, divulgado esta quarta-feira pelo Instituto para a Economia e a Paz (IEP), fundado e presidido pelo australiano Steve Killelea. No pódio dos países mais pacíficos do mundo estão agora a Islândia (número um já no anterior relatório, e desde 2008), a Irlanda e a Nova Zelândia. No fundo da tabela, portanto os menos pacíficos, surgem o Sudão, a Ucrânia e a Rússia. Pela primeira vez, a Rússia é o país menos pacífico do mundo, segundo o IEP.

O Índice Global de Paz, sublinham os autores do relatório, "revela um declínio contínuo na paz global, com muitos indicadores-chave que precedem grandes conflitos mais altos do que em qualquer outro momento desde a Segunda Guerra Mundial. O aumento das mortes em conflitos, a aceleração das tensões geopolíticas e a assertividade das potências médias estão a impulsionar a 'Grande Fragmentação' - uma reformulação fundamental da ordem global e marcar o surgimento de uma nova era geopolítica. Quando combinados com a competição entre as grandes potências, tecnologias de guerra assimétricas e o aumento da dívida em economias frágeis, a perspectiva de novos conflitos é alta."

O relatório reflete a degradação da situação internacional em 2024, não só pela persistência do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que está a conduzir a um forte investimento em Defesa na Europa (até em países como a Alemanha), como pela multiplicação de frentes de guerra no Médio Oriente, com Israel a combater em Gaza e no Líbano e a intervir militarmente também no Iémen e na Síria. Esta guerra aberta atual entre Israel e o Irão é novidade, mas não esquecer que no ano passado, por duas vezes, israelitas e iranianos trocaram ataques, ainda que de impacto reduzido. No Índice Global de Paz, o Irão surge como o 142.º menos pacífico e Israel como o 155.º, posições destinadas, adivinha-se, a baixar ainda mais no próximo relatório do IEP.

As principais conclusões sobre o estado do mundo são:

- A paz global está no nível mais baixo desde o início do Índice, e as condições que precedem o conflito são as piores desde a Segunda Guerra Mundial.

- A paz global tem-se deteriorado todos os anos desde 2014, com uma centena de países a verem a sua situação deteriorar-se na última década.

- Há atualmente 59 conflitos ativos a envolver Estados - o maior número desde o final da Segunda Guerra Mundial, com 152.000 mortes relacionadas com conflitos registadas em 2024.

- Houve 17 países com mais de 1000 mortes em conflitos internos em 2024, o maior número desde 1999, e outros 18 países que registaram mais de 100 mortes.

- O mundo está num ponto de inflexão, com a influência global e a fragmentação do poder.

- O número de países globalmente influentes quase triplicou desde o fim da Guerra Fria, passando de 13 para 34 em 2024.

- Os conflitos estão a tornar-se mais internacionalizados, com 78 países envolvidos em conflitos além das suas fronteiras em 2024.

- O impacto económico global da violência atingiu 19,97 biliões de dólares em 2024, com as despesas militares a representarem, por si só, 2,7 biliões de dólares (estes biliões correspondem aos trillions anglo-saxónicos).

Segundo a análise que Steve Killelea faz hoje, "o conceito de 'guerras para sempre' é mais real do que em qualquer outra altura da história. O Índice Global da Paz deste ano mostra que o mundo está num ponto de inflexão crítico, com a 'Fragmentação Global' a aumentar drasticamente. Esta situação é impulsionada pelo aumento das potências de nível médio, pela concorrência entre as grandes potências e por níveis insustentáveis de endividamento nos países mais frágeis do mundo. Isto está a conduzir a um realinhamento fundamental e a um possível ponto de viragem para uma nova ordem internacional, cuja natureza ainda não pode ser compreendida."

Steve Killelea
Steve KilleleaDiana Quintela / Global Imagens

Numa entrevista no ano passado ao DN, Steve Killelea explicou como construiu o Índice Global de Paz, que junta diferentes indicadores: "Existem certos conceitos que criam uma sociedade pacífica. É muito parecido com o corpo humano. Existem certas coisas que sabemos que nos mantêm saudáveis, como uma dieta adequada, bom exercício, uma disposição mental correta. Se tivermos essas coisas, é menos provável que adoeçamos. Da mesma forma, alguns tipos de características também são verdadeiras para a sociedade. Nós rotulamos isso de paz positiva. Portanto, são as atitudes, instituições e estruturas que criam e sustentam sociedades pacíficas. E estas sociedades são muito mais resilientes. Mas o que é vital é que as mesmas qualidades que criam sociedades pacíficas também criam uma série de outras coisas que consideramos importantes, como um rendimento per capita mais elevado, um melhor desempenho na ecologia, um melhor desempenho nas medidas de bem-estar e felicidade, e melhores resultados para o desenvolvimento. Portanto, em muitos aspetos, a paz positiva descreverá um ambiente ideal sob o qual o potencial humano pode florescer. Portanto, este conceito de paz positiva pode ser aplicado olhando para a saúde geral da sociedade. Se quisermos, é como um termómetro que verifica a saúde de um país".

O investimento em Defesa que Portugal vai fazer nos próximos anos, sob pressão da NATO e também no contexto de um esforço no âmbito da União Europeia, deverá ter impacto na futura posição do país, e da Europa Ocidental e Central em geral, que continua a ser a zona do mundo mais pacífica. Nesse campo, é relevante um alerta do relatório elaborado pelo IEP: "os gastos militares da Europa são quase quatro vezes maiores que os da Rússia, mas a sua capacidade militar combinada é apenas um terço maior. À medida que os orçamentos de Defesa aumentam, desviando fundos da Saúde e da Educação, os governos correm o risco de exacerbar tensões sociais já elevadas. A prioridade da Europa deve ser a eficiência e a integração, não os níveis de gastos. Sem uma visão estratégica unificada e sistemas de comando integrados, o seu potencial de defesa permanece inexplorado. A Europa deve buscar equilibrar as necessidades de Defesa com a coesão interna."

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