Carlos III e Camila durante o Discurso do Rei no Parlamento britânico, semelhante ao Discurso do Trono no Canadá.
Carlos III e Camila durante o Discurso do Rei no Parlamento britânico, semelhante ao Discurso do Trono no Canadá.HENRY NICHOLLS / POOL / AFP

Por que é que a visita de 24 horas do rei Carlos III ao Canadá é histórica?

Além de ser a primeira viagem ao país desde que sucedeu a Isabel II, será apenas a terceira vez que o chefe do Estado estará no Discurso do Trono. E num momento em que Trump insiste no 51.º estado.
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A visita do rei Carlos III ao Canadá, que começa esta segunda-feira, dura apenas 24 horas, mas é histórica porque é a sua primeira ao país desde que subiu ao trono em setembro de 2022 e será apenas a terceira vez que o monarca estará presente para fazer o Discurso do Trono.

Além disso, surge num momento em que a soberania canadiana está em causa, devido à retórica do presidente norte-americano, Donald Trump, que quer transformar o país no 51.º estado dos EUA.

O Discurso do Trono é escrito pelo primeiro-ministro canadiano para estabelecer a agenda do governo no início de uma nova sessão parlamentar - semelhante ao Discurso do Rei no parlamento britânico.

É normalmente lido pelo representante máximo do monarca no Canadá, atualmente a governadora-geral Mary Simon.

A rainha Isabel II leu o discurso pela primeira vez em 1957, tendo repetido esse gesto 20 anos depois, em 1977, para celebrar o Jubileu de Prata (25 anos no trono).

Em maio, o atual primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, convidou o rei para a abertura da 45.ª sessão do parlamento, num gesto visto como estratégico em plena tensão com os EUA.

Trump, além de querer transformar o Canadá num estado norte-americano (chamava o anterior chefe de governo Justin Trudeau de "governador"), impôs tarifas ao país que é um dos principais aliados e parceiros económicos.

O rei Carlos III é chefe de Estado do Reino Unido e do Canadá, assim como de outros 13 países da Commonwealth.

"A visita real é um lembrete do vínculo entre o Canadá e a Coroa – um vínculo forjado ao longo de gerações, moldado por histórias partilhadas e alicerçado em valores comuns. Um laço que, ao longo do tempo, evoluiu, tal como o Canadá, para refletir a força, a diversidade e a confiança do nosso povo", disse Carney antes da chegada do monarca.

Sobre a presença do rei no Discurso do Trono, o primeiro-ministro fala de uma "honra histórica que corresponde ao peso dos nossos tempos".

Carney disse que o discurso "irá delinear o ambicioso plano do governo para agir com urgência e determinação e promover a mudança que os canadianos desejam e merecem", falando da necessidade de "definir uma nova relação económica e de segurança com os EUA, construir a economia mais forte do G7, reduzir o custo de vida e manter as comunidades seguras".

Uma sondagem, citada pelo jornal The Star, diz que 48% dos canadianos consideram "bom para a soberania do Canadá" que o rei faça o discurso, com apenas 22% a dizer que se opõem.

O primeiro-ministro canadiano criticou o facto de o rei ter convidado Trump para uma inédita segunda visita de Estado ao Reino Unido em plena disputa com o Canadá. "Para ser franco", disse numa entrevista à Sky News, os canadianos "não ficaram impressionados com aquele gesto, dadas as circunstâncias".

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, levava na sua viagem à Casa Branca um trunfo para apaziguar Trump, sabendo da sua admiração pela família real – uma carta escrita pelo próprio monarca com o convite para a visita oficial.

O rei, de 76 anos, tem entretanto enviado sinais do seu apoio ao Canadá, usando medalhas canadianas no uniforme, reforçando que ele é o rei do Canadá e descrevendo a bandeira canadiana como "um símbolo que nunca deixa de despertar um sentimento de orgulho e admiração",

Carney estará no aeroporto de Otava junto com a mulher, Diana, e a governadora-geral para receber Carlos III e a rainha Camilla. A chegada está prevista pelas 13h15 locais (18h15 em Lisboa).

A visita oficial, numa altura em que o monarca ainda está a receber tratamento por causa de um cancro diagnosticado no ano passado, vai começar em Lansdowne Park, quando deve lançar o primeiro disco numa partida de hóquei de rua, além de manter encontros com indivíduos e organizações que mostram a diversidade do Canadá.

Depois o rei plantará uma árvore em Rideau Hall, residência da governadora-geral (e do monarca quando está no Canadá), havendo ainda encontros separados com Carney e Simon.

O ponto alto será contudo esta terça-feira, quando os monarcas forem até ao Senado acompanhados por uma escolta real e honras militares. Segundo a Reuters, viajarão numa carruagem cerimonial com uma escolta de 28 cavalos. O discurso deverá durar 25 minutos, estando previsto às 11.00 locais (16h00 em Lisboa).

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