Polónia envia caças para a Ucrânia e surpreende aliados da NATO
Apesar de sempre terem defendido um maior apoio aos ucranianos, polacos ainda há dias disseram que só enviariam aviões no âmbito de uma coligação internacional.
O presidente Andrzej Duda anunciou esta quinta-feira que a Polónia irá enviar "nos próximos dias" quatro caças MiG-29 de fabrico soviético para a Ucrânia. Outros seguirão depois. Mas esta decisão terá apanhado de surpresa os aliados da NATO, já que ainda na semana passada os polacos tinham dito que o eventual envio de aviões de combate só iria acontecer dentro do quadro de uma coligação internacional. A Eslováquia é outro país que tem defendido o envio dos seus MiG e a questão é se esta decisão polaca irá levar outros a seguir o exemplo.
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"Até agora, toda a gente concordou que não é altura de enviar caças", disse o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, questionado sobre a decisão polaca. Já os EUA indicaram que, o facto de a Polónia ser o primeiro país da NATO a enviar os caças - tal como foi o primeiro a dizer que iria enviar os seus tanques Leopard 2 de fabrico alemão -, "não muda" a decisão norte-americana de não enviar os seus próprios F-16 para Kiev.
Do lado russo, não houve esta quinta-feira uma reação, mas Moscovo tem sempre alegado que o envio de mais armas para a Ucrânia só irá prolongar o conflito. Os países da Aliança Atlântica têm-se mostrado reticentes com a ideia de fornecer caças a Kiev por receio de que isso possa ser visto pela Rússia como uma escalada - mas também pensavam isso com os tanques Leopard 2 e acabaram por ceder.
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Os MiG-29 polacos, cerca de uma dúzia, estarão operacionais, tendo sido herdados da antiga República Democrática Alemã. "Estes MiG ainda estão ao serviço da Força Aérea da Polónia. Estão nos últimos anos de serviço, mas ainda estão em pleno funcionamento", disse Duda numa conferência de imprensa em Varsóvia ao lado do homólogo checo, o ex-general da NATO Petr Pavel. E explicou que outros aviões estão em manutenção e poderão seguir mais tarde para Kiev. A Polónia substituirá os seus velhos MiG pelos sul-coreanos FA-50, que comprou, e depois pelos F-35 norte-americanos.
Já há um ano que os polacos diziam estar preparados para enviar os seus MiG para a Ucrânia, na condição de os EUA os substituírem pelos seus aparelhos mais modernos. Alegaram na altura que os enviariam pela base norte-americana de Rammstein, na Alemanha, com Washington a dizer não.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem pedido aos aliados que lhe forneçam caças modernos - nomeadamente os F-16. Mas, até agora, só os Países Baixos mostraram abertura para isso e a Finlândia admitiu enviar os seus Hornets, também de fabrico norte-americano. A Polónia e a Eslováquia têm defendido contudo o envio dos seus velhos MiG soviéticos, para substituir os que a Ucrânia perdeu desde a invasão. Os pilotos ucranianos estão preparados para voar nestes aparelhos, tendo o Reino Unido começado também a dar-lhes formação para que possam eventualmente voar nos de fabrico ocidental.
Apesar da disponibilidade da Eslováquia para enviar os seus próprios MiG, o país atravessa uma crise política, com o primeiro-ministro, Eduard Heger, apenas como interino - após ter perdido uma moção de censura em dezembro. Além disso, abandonou o seu partido e juntou-se a outro. Vozes na oposição alegam que não deve haver uma decisão sobre o envio dos caças antes das eleições, previstas apenas para setembro. O ministro da Defesa eslovaco, Jaroslav Nad, quer contudo uma decisão mais cedo e defende que o Parlamento tenha uma palavra a dizer.
O anúncio do presidente polaco surgiu horas depois de o ministro do Interior, Mariusz Kaminski, alegar que Varsóvia desmantelou uma rede de espionagem russa que atuava no país. Nove pessoas suspeitas de trabalhar para os serviços secretos russos foram detidas. "Os suspeitos estavam a realizar atividades de espionagem contra a Polónia e a preparar atos de sabotagem a favor dos serviços de informação russos", afirmou, dizendo que todos os detidos são "estrangeiros" de países do leste da Polónia.
O alvo do grupo eram os caminhos de ferro, já que tinha como missão espiar as rotas de abastecimento e o equipamento enviado para a Ucrânia. Os agentes da Agência de Segurança Interna Polaca (ABW) encontraram câmaras, equipamentos eletrónicos e transmissores de GPS que deveriam ser colocados nos transportes que tinham como destino a Ucrânia.
Drone vs. caça russo
Os EUA divulgaram esta quinta-feira um vídeo de 40 segundos onde é possível ver um caça russo Su-27 a lançar combustível sobre um drone Reaper americano, que voava por cima de águas internacionais no Mar Negro e que acabou por cair. O Pentágono alega que o drone estava numa missão de rotina quando foi intercetado de forma "imprudente" e "pouco profissional".
Com a libertação de combustível, os controladores do aparelho ficaram sem imagem durante 60 segundos. Quando esta regressou era visível que parte da hélice tinha sido destruída. A Rússia nega ter causado o acidente, alegando que o drone perdeu o controlo. As águas em que caiu são profundas, pelo que a recuperação dos destroços pode ser difícil para os russos, com os EUA a dizer que apagaram toda a informação relevante e que o que sobra não têm valor.
susana.f.salvador@dn.pt
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