Pode uma mulher de origem indiana derrotar Trump (e Biden)?

Nikki Haley, antiga governadora da Carolina do Sul e ex-embaixadora na ONU, passou de crítica a apoiante do ex-presidente. Agora é a sua primeira adversária na corrida à Casa Branca em 2024.

A corrida à Casa Branca está lançada dentro do Partido Republicano. Menos de três meses depois de o ex-presidente Donald Trump anunciar a sua candidatura a 2024, a antiga governadora da Carolina do Sul e ex-embaixadora dos EUA nas Nações Unidas é a primeira (e não será a última) a seguir-lhe os passos. Nikki Haley, que passou de crítica a apoiante do ex-presidente, defende uma "mudança geracional" no partido e, aos 51 anos, quer ser o rosto dessa mudança, face a um adversário com 76 anos. Para alguns, o facto de ser mulher e filha de indianos poderá também retirar argumentos aos democratas e ao próprio Joe Biden, caso avance para a reeleição apesar dos seus atuais 80 anos.

"Devem saber isto sobre mim. Não tolero bullies. E quando chutamos de volta dói-lhes mais se estivermos a usar saltos", disse Haley no vídeo de três minutos e meio em que anunciou a sua candidatura. "Nunca perdi uma eleição e não pretendo começar agora", acrescentou. Hoje, discursará em Charleston, na Carolina do Sul, onde ficará a sede da sua campanha, viajando depois para New Hampshire e Iowa, dois Estados-chave em qualquer corrida à Casa Branca.

No vídeo, Haley lembrou o seu passado numa pequena cidade da Carolina do Sul, dizendo que cresceu "nem negra, nem branca", mas "diferente". Noutras ocasiões, esta filha de imigrantes indianos do Punjab - que foram para os EUA, vindos já do Canadá, quando o pai foi dar aulas numa universidade da Carolina do Sul - falou do impacto que os insultos racistas tiveram na sua vida. Contudo, insiste que os EUA não são um país racista.

"Penso que, enquanto uma mulher de cor e filha de imigrantes legais da Índia, ela não daria qualquer razão ao Partido Democrata para existir. Toda a porcaria woke deles iria pela janela fora", disse à rádio Voice of America um doador republicano, Eric Levine, usando uma expressão do ativismo pela igualdade racial, social ou de género que se tornou sinónimo de políticas liberais ou de esquerda. "Acho que ela é uma candidata espetacular", acrescentou.

Existe ainda a possibilidade de a corrida ser entre duas mulheres de origem indiana, se a atual vice-presidente, Kamala Harris (cuja mãe nasceu no Tamil Nadul), for escolhida como candidata dos democratas. Biden ainda não acabou com o impasse, dizendo se avança ou não, com as sondagens a mostrar que a maioria dos democratas é contra: uma da Associated Press indicava, na semana passada, que só 37% querem que se recandidate.

No seu vídeo, Haley não menciona Trump uma só vez, apesar de ele ser o alvo a abater, segundo as sondagens. Um inquérito Reuters/Ipsos divulgado ontem dava ao ex-presidente o apoio de 43% dos republicanos registados que foram inquiridos. A ex-governadora da Carolina do Sul não ia além dos 4%, tendo um longo caminho pela frente, sendo o principal adversário de Trump o atual governador da Florida, Ron DeSantis, com 31%. Para o ex-presidente, quantos mais candidatos houver contra si melhor será - já que estes acabam por dividir o voto anti-Trump que existe dentro do Partido Republicano.

Haley não foi uma das defensoras iniciais de Trump nas primárias republicanas de 2016, tendo apoiado primeiro a candidatura do senador Marco Rubio (da Florida) e depois a de Ted Cruz (do Texas). Na altura governadora da Carolina do Sul (cargo que ocupava desde 2011), chegou a dizer que Trump era "tudo aquilo que um governador não quer num presidente" e criticou que este não tivesse condenado o Ku Klux Klan.

Contudo, quando ele chegou à Casa Branca aceitou fazer parte da sua Administração, enquanto embaixadora dos EUA nas Nações Unidas. Foi a primeira norte-americana de origem indiana a conseguir um cargo no Executivo, tendo ficado durante menos de dois anos. Saiu no final de 2018, por vontade própria, descrevendo Trump como um "amigo". Apesar de ter admitido que o presidente "não esteve no seu melhor" durante o assalto ao Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, recusou apoiar o seu impeachment .

Desde o momento em que deixou a ONU que se falava que poderia avançar para uma candidatura presidencial - pensou-se que logo em 2020 ou que pudesse substituir Mike Pence na vice-presidência. Em 2021 disse, contudo, que apoiaria Trump se ele resolvesse avançar, algo que achava que ele não iria fazer. O mau resultado do partido nas intercalares de novembro do ano passado terá sido, portanto, o empurrão de que necessitava.

Haley disse também há dois anos que falaria com o ex-presidente primeiro caso resolvesse avançar. Algo que terá cumprido. Trump disse recentemente que quando ela o informou de que estava a pensar candidatar-se ele lhe disse que o devia fazer. Na sua rede Truth Social não deixou, contudo, de a criticar: "A Nikki tem que seguir o seu coração, não a sua honra. Ela deve definitivamente concorrer!", escreveu a 2 de fevereiro.

Outros potenciais candidatos

Ron DeSantis: O governador da Florida, de 44 anos, é considerado o principal adversário de Donald Trump, mesmo não tendo ainda avançado para a corrida à nomeação republicana. O seu nome ganhou mais força depois das intercalares de novembro, tendo sido um dos grandes vencedores da noite em que os republicanos ficaram aquém do desejado. As suas posições sobre questões de género, o aborto ou o ensino de temas raciais nas escolas têm-lhe valido apoios.

Mike Pence: O ex-vice-presidente, de 63 anos, é outro dos nomes que se fala para concorrer à nomeação republicana, tendo percorrido já alguns dos Estados-chave à boleia da promoção das suas memórias: So Help Me God (em português seria "Que Deus me ajude"). O facto de não ter aceitado travar a validação dos resultados das presidenciais de 2020 é um ponto negativo para muitos da linha mais dura do partido.

Mike Pompeo: O antigo secretário de Estado e ex-diretor da CIA, de 59 anos, estará também a equacionar uma candidatura em 2024. Lançou em janeiro as suas memórias: Never Give an Inch - Fighting for the America I Love (que em português seria "Nunca ceder um centímetro - lutar pela América que amo").

Liz Cheney: A filha do ex-vice-presidente Dick Cheney, de 56 anos, é uma das republicanas mais críticas de Donald Trump, tendo apoiado a sua segunda tentativa de impeachment (pelo assalto ao Capitólio). Perdeu por isso as primárias para uma apoiante do ex-presidente e não pôde recandidatar-se a um novo mandato na Câmara dos Representantes por Wyoming. Estará também a equacionar uma candidatura à Casa Branca.

susana.f.salvador@dn.pt

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG