A média de idades nos Camarões é de 18 anos e estima-se que mais de 80% dos 29 milhões de habitantes tenha menos de 42 anos. O que significa que nunca conheceram outro presidente a não ser Paul Biya, que está no cargo desde novembro de 1982 e anunciou na semana passada que é candidato ao oitavo mandato nas eleições de 12 de outubro. Se vencer poderá ficar no poder até aos 99 anos - caso viva até lá, sendo frequentes as suas ausências do país por alegados problemas de saúde (um tema tabu nos Camarões). “Garantir a segurança e bem-estar dos filhos e filhas do nosso amado e lindo país é o dever sagrado ao qual dediquei o meu tempo e energia desde que assumi o leme do Estado”, escreveu o presidente de 92 anos numa mensagem partilhada nas redes sociais. “Os resultados são palpáveis, visíveis e louváveis”, referiu, acrescentando contudo que “muito ainda está por fazer” e que “diante de um cenário internacional cada vez mais difícil, os desafios” que os Camarões enfrentam “são cada vez mais prementes”. Daí que diga que não pode “fugir” à sua “missão” e que vai ser candidato a um oitavo mandato de sete anos . “O melhor ainda está para vir.”Paul Biya é o mais velho chefe de Estado do mundo, mas não é o presidente que está há mais tempo no cargo - esse recorde é de Teodoro Obiang, que está à frente da Guiné Equatorial desde o golpe de Estado de 1979. Ao contrário do seu vizinho do sul, Biya não chegou ao poder num golpe, mas depois da demissão surpresa do primeiro presidente.Ahmadou Ahidjo renunciou por questões de saúde em 1982, com Biya (primeiro-ministro desde 1975) a suceder-lhe como previa a lei. Nos anos seguintes, este cristão do sul dos Camarões (ao contrário de Ahidjo que era um muçulmano do norte) consolidou o seu poder e acabou por mandar o antigo mentor para o exílio, apesar de ter prometido mais democracia. Foi sob pressão que aceitou o multipartidarismo em 1990, mas este foi-se esvaziando. Em 2008, Biya aboliu os limites de mandatos. O partido Reunião Democrática do Povo de Camarões domina o cenário político face a uma oposição dividida (muitos partidos são “satélites” do Reunião) e perseguida. Biya tem vencido as presidenciais sempre com mais de 70% dos votos. Nas de 2018, em que apareceu num único evento de campanha, o seu principal opositor, Maurice Kamto, contestou o resultado e declarou-se vencedor. Acabou detido durante quase nove meses sem acusação e só foi libertado devido à pressão internacional. Kamto já anunciou que é candidato às eleições de outubro.O anúncio da candidatura de Biya, apesar de já ser esperado, foi recebido com críticas sem precedentes nas redes sociais e nos media. Muitos defendem uma renovação e querem um líder mais jovem. As ausências prolongadas do presidente fazem sempre soar os alarmes sobre a sua saúde e capacidade de governar. “As pessoas estão interessadas no meu funeral. Vemo-nos em 20 anos”, disse em 2004, quando voltou aos Camarões após uma dessas ausências. No ano passado, ficou seis semanas sem ser visto em público, voltando a circular rumores da sua morte. A presidência diz que ele é saudável, mas as discussões sobre a sua saúde foram proibidas por “questões de segurança nacional”.Os Camarões são um país rico em petróleo, madeiras ou cacau, mas têm problemas económicos e de segurança. Há mais de uma década que lidam, na região mais a norte, com a ameaça dos terroristas do Boko Haram, baseados na Nigéria. E depois há o conflito com os separatistas anglófonos nas regiões do Noroeste e do Sudoeste (parte da antiga colónia britânica, quando o resto do país era uma colónia francesa). Em 2017, os separatistas declararam a independência da República Federal da Ambazónia. Pelo menos seis mil pessoas morreram e milhares foram forçados a deixar as suas casas por causa deste conflito. Devido à idade, Biya nunca foi ao terreno, o que alguns dizem que prejudicou a sua capacidade de reação. Outro problema é o facto de nunca ter nomeado um possível sucessor, o que poderá complicar a situação se morrer no cargo. Um dos nomes que se fala é do seu filho mais velho: Franck Biya, apesar de o empresário manter uma postura política discreta. Franck é fruto do primeiro casamento do presidente, com Jeanne-Irène Atyam, que morreu em 1992. Biya voltou a casar em 1994 com Chantal, 37 anos mais nova, com quem tem mais dois filhos.