O reverendo Johnnie Moore, diretor executivo da Fundação Humanitária de Gaza (FHG), denunciou esta quarta-feira o “boicote politicamente motivado” que visa acabar com a sua operação de distribuição de alimentos no enclave palestiniano e culpou a “desinformação” pelos relatos de mais de 500 mortos entre os que procuram ajuda. “Não tivemos um único incidente violento nos nossos centros de distribuição ou na proximidade dos nossos centros de distribuição”, alegou numa conferência de imprensa em Bruxelas. “Não vamos ser fechados. É muito simples.”O pastor evangélico norte-americano lamentou a “controvérsia” em torno do que diz deveria ser “a notícia menos controversa no mundo” - que a FHG conseguiu, num mês, distribuir gratuitamente 55 milhões de refeições na Faixa de Gaza. E mencionou os “heróis” que estão a tornar isso possível: não só os profissionais norte-americanos (incluindo ex-militares) que apesar das “quantidade injustificada de criticismo” continuam a trabalhar todos os dias; mas principalmente os funcionários locais, dando conta de que 12 já foram mortos pelo Hamas. A FHG é um projeto que começou a ser desenhado na administração de Joe Biden, que tentou sem sucesso redesenhar o sistema de ajuda. Mas só arrancou com Donald Trump - que o reverendo conhece há 14 anos - porque o presidente decidiu “romper com as convenções e “tentar algo diferente”. Em maio, queixou-se que o Hamas estava a tratar “muito mal” as pessoas de Gaza, porque lhes roubava a comida. “Disse que os EUA iam fazer algo sobre isso. E é isso que é a FHG”, indicou. Os EUA assumiram publicamente estar por detrás do financiamento da fundação privada, que não revela outros doadores - alega que entre eles há países europeus - porque essas pessoas e organizações não têm que ser alvo de perseguição. Ele próprio contou que estava em Bruxelas com segurança, por ter sido alvo de ameaças. A fundação foi recebida com críticas da parte dos especialistas, que falam numa “militarização da ajuda alimentar” (esta é distribuída em zonas onde estão militares israelitas) e criticam o facto de a FHG estar a obrigar os habitantes de Gaza a deslocarem-se quilómetros para irem até aos quatro centros que existem - havendo relatos de caos e de mortes diárias. Algo que o reverendo rejeita, mesmo depois de as Forças de Defesa de Israel já terem admitido incidentes com vítimas entre os que procuram ajuda. .Ajuda em Gaza: “Felizmente eu sobrevivi, mas por que razão o mundo não faz nada perante esta aberração?”. “Existe uma campanha de desinformação para tentar exagerar não apenas o número de mortes civis na Faixa de Gaza, mas atribuir 100% dessas mortes a indivíduos que esperam a ajuda da FHG. E nós não reconhecemos os relatos nas notícias”, explicou na conferência organizada pela Associação de Imprensa Europa-Israel, acusando o Hamas de mata civis de propósito para poder atribuir essas mortes ao FHG.O reverendo Moore critica a “agenda política que mantém as pessoas de Gaza reféns”, dizendo que não está interessado em “jogos políticos”. E explica que o objetivo do FHG não é substituir a ONU ou outras organizações, querendo estender a mão para cooperar. “Estamos interessados em ação.” Mas não poupa críticas ao atual sistema de ajuda humanitária, que permite o “desvio em massa” dessa ajuda. “Estamos a ter todo o escrutínio do mundo. E o sistema anterior, financiado pelos contribuintes europeus e norte-americanos e árabes, não tem qualquer escrutínio. Mas estava cheio de falhas.” E deu o exemplo de uma situação em que 50 camiões das Nações Unidas foram desviados por grupos armados ligados ao Hamas, falando num relatório que sairá em breve que mostra que isso não acontece só em Gaza. “É uma questão sistemática em conflitos em todo o mundo.”O reverendo defende que é necessário repensar o sistema no futuro, queixando-se que as pessoas estejam agora a discutir “as nuances da lei humanitária nas costas das pessoas que desesperadamente necessitam de assistência humanitária”. E queixa-se de que tenha que passar mais tempo a defender-se do que a alargar as operações, indicando que o objetivo sempre foi aumentar o número de centros, nomeadamente no norte. “Passamos mais tempo a tentar provar que deveríamos existir do que a trabalhar em proximidade com as pessoas na Faixa de Gaza.”