“Fico”, respondeu Celso Sabino, ministro do Turismo do governo de Lula da Silva, após semanas de pressão da direção do União Brasil, partido a que pertence, para abandonar o executivo. “Tenho a confiança do presidente Lula e pretendo continuar os trabalhos que venho desenvolvendo”, prosseguiu. André Fufuca, ministro do Desporto e quadro do Progressistas, teve posição idêntica. “Seguirei contribuindo para a boa gestão e governabilidade do país, lado a lado com o presidente Lula”, afirmou, “a minha fidelidade, primeiramente, é com o povo, por isso fico”. Não são os “fico” mais famosos da história do Brasil, esse pertencem e pertencerão sempre ao príncipe Dom Pedro (imperador Dom Pedro I no Brasil, rei Dom Pedro IV em Portugal) que não cumpriu as ordens das cortes portuguesas para voltar a Lisboa em 9 de janeiro de 1822 e deu assim início ao processo de independência do país sul-americano, mas têm agitado as águas da política local nos últimos tempos. Embora de direita, os partidos União Brasil e Progressistas aceitaram, com relutância, fazer parte da composição do governo de esquerda do Partido dos Trabalhadores, oferecendo votos no Congresso Nacional a favor de projetos do executivo em troca de ministérios. Mas a relação foi-se deteriorando até, dia 2 de setembro, ambas as formações, que juntas têm mais de 100 parlamentares na Câmara dos Deputados e no Senado, oficializarem o desembarque do governo. Entre a espada e a parede, Sabino e Fufuca estiveram cerca de um mês em suspenso até se decidirem, esta semana, por ficarem. “A verdade é que o presidente Lula é um fenómeno eleitoral e com centrão ou sem centrão ele vai, sem dúvida nenhuma, reeleger-se”, continuou Sabino. O “centrão” a que o titular do Turismo se refere é o conjunto de partidos e deputados, maioritariamente da direita conservadora, que apoiam os governos independentemente da ideologia, desde que recompensados com cargos, de que União Brasil e Progressistas são expoentes.“Lula adubou muito bem o solo”, disse ainda Sabino à CNN Brasil, “e agora chegou a hora de colher o resultado de muito trabalho, com tudo o que nós estamos entregando e vamos entregar, o presidente sairá vitorioso, independentemente de quem for o adversário nas eleições de 2026”. Lula disse, por sua vez, que “é pequenez essa coisa de atrapalhar os ministros”. “Porquê isso? Se o ministro está fazendo bom trabalho não devem tirá-los por raiva, por inveja, por disputa política”, acrescentou na TV Mirante, filial da Globo no estado do Maranhão. “Quando chegar a época das eleições, cada um vai para o canto que quiser, eu não vou implorar para nenhum partido ficar comigo, mas quem for para o outro lado vai precisar de sorte porque a extrema-direita não voltará a governar o Brasil”.Sabino desejava sobretudo continuar até à COP30, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas que se realiza na sua cidade natal, Belém, de 10 a 21 de novembro, e chegou a negociar a permanência até lá com a direção do União Brasil. Perante a irredutibilidade do partido, optou por arriscar a expulsão.“Como ele quer ficar no governo e manter as regalias num partido que faz oposição ferrenha? Ele não pode fazer do seu projeto pessoal algo acima das regras partidárias”, reagiu Ronaldo Caiado, dirigente do União Brasil, governador de Goiás e pré-candidato à presidência em 2026 que disse em entrevista recente ao DN que “o Brasil de Lula é um misto de mau-caratismo e incompetência”.Fufuca também foi afastado pelo Progressistas, partido do qual era vice-presidente e líder no estado do Maranhão. “Diante da decisão de desobedecer a orientação da Executiva Nacional do partido e permanecer no ministério do Desporto, o ministro André Fufuca fica, a partir de agora, afastado de todas as decisões partidárias, bem como da vice-presidência nacional do partido”, comunicou o Progressistas.“A direção nacional do Progressistas realizará, ainda, intervenção no diretório do Maranhão, retirando o ministro do comando da formação no estado. O partido reitera o posicionamento de que não faz e não fará parte do atual governo, com o qual não nutre qualquer identificação ideológica ou programática”.Para Fufuca, o trabalho que vem desempenhando no ministério “está acima de disputas partidárias”. “Eu estou com Lula, o Lula do Bolsa Família, do Mais Médicos, do Fies, do Prouni, do Vale Gás, o Lula que falou alto e bom para os EUA ‘respeitem o nosso Brasil’”, disse o ministro durante evento na cidade de Imperatriz citando programas sociais do governo e a recente participação do presidente na Assembleia Geral da ONU. Na ocasião, admitiu ainda ter “cometido um erro” ao apoiar o então presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Lula, por sua vez, fez força para que Sabino e Fufuca continuassem - e até busca encontrar partidos alternativos para concorrerem em 2026 - porque avalia que eles possam servir de ponte com o citado centrão e setores da direita conservadora, mesmo afastados do União Brasil e do Progressistas. .Romeu Zema: “O Governo Lula usa a estrutura de poder para perseguir inimigos”