Papa sai de Chipre com plano de levar 50 migrantes para Itália

Francisco deixou mensagem de "fraternidade". Hoje segue para a Grécia, onde vai visitar um campo de refugiados em Lesbos.

O Papa Francisco lançou ontem um apelo à fraternidade e ao diálogo na dividida ilha de Chipre, lembrando também que as diferenças entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa Grega não são "irreconciliáveis". Numa viagem que tem contudo como principal foco os migrantes e refugiados, Francisco, de 84 anos, estará a planear levar 50 migrantes consigo para Itália. Mas primeiro viaja, este sábado, para a Grécia, onde tem previsto visitar um campo de refugiados na ilha de Lesbos.

"Gostaríamos de expressar a nossa gratidão pela iniciativa de transferir 50 migrantes de Chipre para Itália", disse o presidente cipriota Nicos Anastasiades, numa receção na quinta-feira à noite. "A sua iniciativa simbólica é, acima de tudo, um forte sinal da necessária revisão da política de migração europeia", referiu, apesar de o Vaticano ainda não ter confirmado os planos. Em 2016, no regresso da sua primeira visita à ilha grega de Lesbos (à qual voltará este domingo), Francisco levou três famílias de refugiados sírios, incluindo seis crianças, que ficaram a cargo da comunidade de Sant"Egidio.

A notícia de que o Papa se preparava para repetir o gesto terá levado centenas de migrantes católicos do Médio Oriente, África e Ásia à Igreja da Santa Cruz, esperando poderem ser também escolhidos. "A vossa presença, irmãos e irmãs migrantes, é muito importante nesta celebração", disse, defendendo "o sonho de uma humanidade livre de muros de divisão". Chipre recebeu em 2020 o mais elevado número de pedidos de asilo na Europa em relação ao tamanho da sua população. Francisco apelou ainda a maior união na Europa em vez do nacionalismo e das "paredes de medo".

Esta igreja fica junto à linha de divisão da ilha, patrulhada pelas Nações Unidas. Chipre está dividido desde que, em 1974, forças turcas ocuparam a região norte em resposta a um golpe militar patrocinado pela junta grega no poder em Atenas. O norte só é reconhecido por Ancara. Na véspera, o Papa tinha lamentado a "terrível laceração" de Chipre. "Penso no sofrimento profundo de todas as pessoas incapazes de regressar às suas casas e locais de culto", referiu. O norte acusou entretanto o sul de querer usar a visita do Papa com "objetivos políticos".

O segundo dia de visita oficial a Chipre ficou marcado pela missa campal no estádio de futebol GSP, em Nicosia, para cerca de sete mil fiéis - muitos oriundos das Filipinas ou do Sudeste Asiático, que representam o maior grupo dos cerca de 25 mil católicos que há na ilha de maioria ortodoxa-grega. "Diante da nossa própria escuridão interior e dos desafios pela frente na Igreja e na sociedade, somos chamados a renovar o nosso sentido de fraternidade", disse o Papa. "Se continuarmos divididos, se cada pessoa só pensar em si ou no seu grupo, se recusarmos mantermo-nos juntos, se não dialogarmos e andarmos de mãos dadas, nunca ficaremos completamente sarados da nossa cegueira."

Na sua 35.ª viagem internacional desde que se tornou Papa em 2013, Francisco segue agora para a Grécia, onde se reúne hoje com as autoridades políticas e o líder da igreja ortodoxa grega, Ieronymos II. No encontro com o responsável desta igreja em Chipre, o Papa lembrou que "no que diz respeito às nossas relações, a história abriu grandes sulcos entre nós, mas o Espírito Santo deseja que com humildade e respeito nos voltemos a aproximar".

susana.f.salvador@dn.pt

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