Papa Francisco rejeita rumores de que quer renunciar... por enquanto

Problemas de saúde, um consistório em agosto e uma visita a Áquila levaram muitos a falar da possível renúncia. Francisco fala em coincidências, mas elogia o exemplo de Bento XVI
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O Papa Francisco disse numa entrevista à Reuters que não está a pensar renunciar ao cargo, procurando calar os rumores que têm surgido por causa dos problemas de saúde que tem enfrentado (que obrigaram até a deslocar-se de cadeira de rodas) e por ter marcado para agosto um consistório para criar mais 21 cardeais (a maioria com menos de 80 anos e, por isso, elegíveis para lhe suceder). Nessa mesma altura, irá visitar o santuário de Áquila, associado ao Papa Celestino V, que renunciou em 1294, e que Bento XVI visitou também quatro anos antes de lhe seguir o exemplo, em 2013.

Francisco falou em coincidências. "Isso nunca entrou na minha mente. Por enquanto não, verdade. Mas quando chegar a hora em que vir que não o posso fazer [gerir a Igreja Católica por causa de problemas de saúde], vou fazê-lo [renunciar]. E esse foi o grande exemplo do Papa Bento XVI. Foi uma coisa muito boa para a Igreja. Ele disse que os Papas devem parar a tempo", afirmou na entrevista de 90 minutos. Sobre quando poderá ser obrigado a renunciar, disse não saber: "Deus o dirá."

Esta não é a primeira vez que Francisco nega estar a pensar em renunciar, tendo vindo também a público rejeitar outros rumores nesse mesmo sentido, em setembro do ano passado, após ter sido operado ao intestino em julho. À Reuters, o Papa lembrou que na operação que durou seis horas lhe tiraram 33 centímetros do cólon sigmoide. Questionado sobre os rumores de que teria sido detetado um cancro, riu-se. "A mim não me contaram", afirmou, para depois dizer em tom sério que não tinha cancro. "Isso são boatos da corte. O espírito da corte ainda existe no Vaticano. E se pensarmos nisso, o Vaticano é a última corte europeia de uma monarquia absoluta."

Por causa da operação do ano passado, o Papa tem-se mostrado reticente em se sujeitar a uma nova anestesia e ser operado ao joelho. "Foi um ligamento que ficou inflamado e, porque andava mal, isso moveu um osso [que causou] uma fratura ali, e esse é o problema", disse à Reuters, acrescentando que está a melhorar lentamente e que o osso já está calcificado. Por causa dos problemas de locomoção, foi aconselhado a cancelar a viagem que tinha previsto à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul neste início de julho.

Contudo, o Papa espera já estar bem para viajar até ao Canadá a partir de 24 de julho, tendo também prevista uma deslocação ao Cazaquistão em setembro. E quer ir à Ucrânia e à Rússia, para "servir a causa da paz", havendo conversas nesse sentido. "É possível que consiga ir à Ucrânia. A primeira coisa é ir à Rússia tentar ajudar de alguma forma, mas gostaria de ir a ambas as capitais", contou à Reuters.

Francisco tem 85 anos, tendo passado os últimos nove à frente da Igreja Católica - apesar de originalmente ter dito que o seu pontificado seria curto, de, no máximo, cinco anos. Mas acaba por já ser mais longo do que o de Bento XVI, que fez 95 anos em abril. Eleito em 2005, renunciou em 2013, citando o declínio da sua saúde física e mental. Apesar de frágil fisicamente, o Papa emérito continua bem, recebendo ocasionalmente visitas. A maioria dos comentadores acredita que Francisco nunca renunciará antes da morte de Bento XVI, de forma a evitar um cenário em que existam dois Papas eméritos.

A relação entre ambos tem sido cordial, apesar de por vezes terem existido alguns choques devido às diferentes visões da Igreja: mais liberal, no caso de Francisco, e mais conservadora, no de Bento XVI. Um desses choques foi sobre o celibato dos padres, em relação ao qual o Papa quereria ver algumas exceções (homens casados poderiam ser ordenados na região da Amazónia, para fazer face à falta de padres) - mas acabaria por recuar, cedendo à posição conservadora.

O Papa foi questionado pela Reuters sobre a decisão do Supremo Tribunal dos EUA de revogar o antecedente que estabelecia o direito ao aborto. Francisco disse respeitar a decisão, alegando não ter suficiente informação para se expressar do ponto de vista técnico. E reiterou a sua posição contra o aborto, que comparou a contratar um "assassino", e questionou se "é legítimo eliminar uma vida humana para resolver um problema".

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