O foco pode ter passado para os bombardeamentos entre Israel e Irão, mas a situação não mudou na Faixa de Gaza - ainda esta segunda-feira, 16 de junho, terão sido mortas 56 pessoas - e o reconhecimento do Estado Palestiniano por parte da União Europeia continua a ser prioritário.Isso mesmo defenderam participantes da iniciativa de diálogo trilateral entre europeus, palestinianos e israelitas (EPICON), organizado pelo think tank alemão Candid Foundation com o apoio da União Europeia, que chegou ontem a Lisboa depois de passar por outras capitais dos 27.Em redor da mesa no Goethe Institut, ao abrigo da regra de Chatham House (a informação discutida pode ser revelada, mas não atribuída a ninguém), estiveram defensores da paz israelitas e palestinianos, além de professores universitários e líderes de opinião portugueses. O DN foi um dos participantes. Na agenda dos primeiros, a defesa da necessidade de a União Europeia - e Portugal - fazer mais para ajudar a pôr fim ao conflito, acreditando que isso passa, desde logo, pelo fim da guerra em Gaza e da violência na Cisjordânia, e pelo reconhecimento do Estado da Palestina. Algo que dizem ter influência não apenas do ponto de vista humanitário, mas também no facto de deixar Israel e Palestina em pé de igualdade em questões de soberania quando chegar a hora de negociar.Do lado português, antigos políticos à esquerda e à direita lembraram a posição comum de Portugal de defender a solução de dois Estados, prevista pelos Acordos de Oslo, deixando a porta aberta ao diálogo com os dois lados. Diante da possibilidade de França ser o próximo país a reconhecer o Estado palestiniano, houve também alertas portugueses para que não se aposte tudo no presidente francês, Emmanuel Macron, lembrando que a sua posição não só não é consensual dentro da Europa, como é preciso ser vista ao abrigo da atual situação política francesa. Entre os representantes da sociedade civil palestiniana e israelita, a crença de que os Acordos de Oslo não resultaram porque foram impostos de cima para baixo, não tendo sido escutada a própria sociedade. Algo que querem mudar, queixando-se dos entraves que existem atualmente ao contacto entre organizações israelitas e palestinianas interessadas na paz. Foi ainda destacada a importância de dar voz às mulheres no diálogo, lembrando, por exemplo, o impacto que tiveram no processo de paz da Irlanda do Norte.A questão da “desumanização” foi também abordada, com a crença de que esta existe de parte a parte e tem de ser enfrentada se um dia palestinianos e israelitas quiserem viver lado a lado. Assim como a necessidade de haver o reconhecimento mútuo do trauma que uns e outros sofrem há décadas. Se os israelitas presentes eram críticos do governo de Benjamin Netanyahu, os palestinianos também não se mostraram defensores da Autoridade Palestiniana, apesar de reconhecerem mudanças recentes e apontarem como ponto de partida para algo melhor no futuro. Esta terça-feira, 17 de junho, o diálogo prossegue na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (entrada livre, mediante inscrição) com o tema “Lei Internacional e o Conflito Israelo-Palestiniano: a Responsabilidade Renovada da Europa”.