Destruição à vista em resultado do ataque a Nuseirat. Segundo o Hamas, morreram 210 palestinianos.
Destruição à vista em resultado do ataque a Nuseirat. Segundo o Hamas, morreram 210 palestinianos.BASHAR TALEB/AFP

Palestinianos denunciam massacre na libertação de reféns

Operação “audaciosa” em Nuseirat tirou quatro reféns do cativeiro e deu garrafa de oxigénio a Netanyahu, mas à custa de um “massacre de civis”, como criticou o chefe da diplomacia europeia Josep Borrell.
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Em Israel celebrou-se a libertação de quatro reféns com um raro momento de unanimidade nacional - “uma grande luz na terrível escuridão” nas palavras do líder da oposição Yair Lapid -, mas na Palestina condenou-se a operação de resgate, que envolveu centenas de militares, polícias e agentes do Shin Bet, o serviço de segurança interna israelita, assim como a alegada participação dos Estados Unidos, e se saldou em pelo menos 210 mortos e 400 feridos, segundo o Hamas. O movimento islamista também diz que vários sequestrados acabaram por morrer. Do lado de Israel também se registou a morte do comandante da unidade de contraterrorismo da polícia, Arnon Zamora.

“Uma operação audaciosa em plena luz do dia, durante a qual [o exército, o Shin Bet e a polícias] invadiram dois edifícios diferentes no coração da Faixa de Gaza e, sob fogo, resgataram os quatro reféns mantidos pelos terroristas do Hamas. Continuaremos a fazer tudo para que nos devolvam os 120 raptados que ainda se encontram detidos em Gaza”, disse o porta-voz das forças israelitas, Daniel Hagari. O mesmo disse ainda que a “missão só estará concluída quando regressarem a casa” os restantes cativos.

Cartazes afixados em Telavive dos quatro reféns libertados na operação de sábado. (GIL COHEN-MAGEN / AFP)

“De boa saúde”, foram libertados Noa Argamani, de 26 anos, uma estudante universitária que se tornou na imagem dos reféns pois o momento em que os sequestradores a levam de moto do festival de música eletrónica foi visto em todo o mundo; Almog Meir Jan, de 22 anos; Andrey Kozlov, de 27 anos, recém-emigrado da Rússia, e Shlomi Ziv, de 41 anos, ambos estavam a trabalhar na segurança do festival. 

Do total de 251 pessoas sequestradas em 7 de outubro pelos grupos armados que agiram em nome do Hamas e da Jihad Islâmica, 116 permanecem cativas em Gaza, incluindo 41 que estarão mortas, segundo o exército israelita. Estas estimativas não têm em conta as afirmações do porta-voz das brigadas al-Qassam, o braço armado do Hamas. “O inimigo conseguiu, através de massacres horríveis, libertar alguns dos seus prisioneiros, mas, ao mesmo tempo, matou alguns deles durante a operação”, disse Abu Obeida. “A operação representará um grande perigo para os prisioneiros inimigos e terá um impacto devastador nas suas condições e vidas”, afirmou ainda.

Já o Hamas fez mira aos Estados Unidos, na sequência da notícia da Axios de que a célula de reféns dos EUA em Israel apoiou o esforço para resgatar os quatro reféns - informação que não foi desmentida pelo conselheiro de segurança Jake Sullivan, ao afirmar que os EUA “apoiam todos os esforços para garantir a libertação dos reféns”, o que “inclui negociações em andamento ou outros meios”. Para o movimento que controla Gaza desde 2007, “a participação americana na operação criminosa que foi levada a cabo prova mais uma vez o papel cúmplice da administração americana, a sua plena participação nos crimes de guerra cometidos na Faixa de Gaza”. Indiferente às acusações, o presidente Joe Biden afirmou que os EUA não vão parar de trabalhar “até que todos os reféns regressem a casa e se alcance um cessar-fogo”. 

O ataque do exército israelita a Nuseirat, que coincidiu com o resgate dos cativos, foi condenado pelo presidente da Autoridade Palestiniana Mahmoud Abbas, que pediu uma sessão de emergência do Conselho de Segurança da ONU na sequência do que chamou de “massacre sangrento”, pelo representante diplomático da UE Josep Borrell, e pelos governos da Jordânia e do Irão. 

Segundo o exército israelita, a operação estaria a ser preparada há semanas. Coincidência, calhou no dia em que o político mais popular de Israel, o ministro Benny Gantz, se preparava para anunciar a sua retirada do gabinete de emergência formado após o ataque do Hamas a Israel. Desde abril que Gantz tem vindo a pedir a realização de eleições antecipadas em setembro. Uma proposta descartada por Netanyahu, que também é rejeitado por multidões em manifestações periódicas, bem como nas sondagens: a mais recente, do Canal 12, mostra que apenas 19% dizem votar num partido que apoie o atual primeiro-ministro. Ciente da fragilidade do executivo, Netanyahu instou Gantz a permanecer no governo. “Não desistas da unidade”, disse numa mensagem partilhada nas redes sociais depois de numa conferência de imprensa ter dito que a operação de resgate dos reféns “vai ficar gravada na história”. 

cesar.avo@dn.pt 

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