O Partido Popular de Espanha (PP, direita) disse esta terça-feira que a votação da amnistia dos independentistas catalães foi uma humilhação do Governo do socialista Pedro Sánchez e que o executivo depende já de "respiração assistida".."É difícil uma humilhação maior", disse o dirigente do PP Miguel Tellado, depois de a aprovação da amnistia pelo parlamento de Espanha ter sido hoje travada pelo partido independentista catalão Juntos pela Catalunha (JxCat), que negociou a lei com os socialistas, mas recusou agora viabilizar a versão que foi a votos, para negociar mais alterações ao texto..Antes, durante o debate no plenário dos deputados, o líder do PP, o partido com mais assentos no parlamento e que lidera a oposição em Espanha, tinha já falado numa "humilhação constante" do Governo de Pedro Sánchez, que depende de uma 'geringonça' de oito formações políticas de esquerda, nacionalistas e independentistas para aprovar leis.."Cada voto é um calvário", disse Alberto Núñez Feijóo, que considerou que o governo espanhol, que tomou posse em novembro, vive já em "respiração assistida"..Feijóo considerou também que a amnistia "chegará mais longe do que alguma vez se suspeitou", depois da votação desta terça-feira.."Começou por ser corrupção, agora já acolhe terrorismo e, quem sabe, em breve, alta traição", acrescentou..A aprovação da amnistia foi hoje travada pelo partido separatista do ex-presidente do governo regional catalão Carles Puigdemont, que vive na Bélgica desde 2017 para fugir à justiça espanhola após ter protagonizado uma declaração unilateral de independência da Catalunha naquele ano e seria um dos principais beneficiários da lei..A lei de amnistia teve 171 votos a favor e 179 contra, mas não foi chumbada em definitivo, voltando agora à comissão parlamentar de justiça, onde poderão ser introduzidas alterações ao texto..O JxCat disse hoje não concordar com a versão da lei que foi a votos esta tarde e quer introduzir-lhe alterações que ampliem o âmbito de aplicação, dando mais garantias de que Puigdemont e outros líderes separatistas serão amnistiados..A deputada Miriam Nogueras, do JxCat, atacou "a cúpula do poder judicial" em Espanha e decisões recentes de juízes que tutelam a investigação de casos relacionados com o processo independentista na Catalunha, coincidindo com a apresentação e debate da lei da amnistia..Essas decisões e despachos judiciais envolvem Puigdemont e outros separatistas em casos ainda em investigação e consideram que estão em causa crimes que podem ser classificados como terrorismo ou traição..Um dos processos está relacionado com manifestações na Catalunha em 2019 que bloquearam o aeroporto de Barcelona e outro com denúncias de ligações do governo regional liderado por Puigdemont com o regime russo de Vladimir Putin, em troca de apoio do Kremlin à independência da Catalunha..Nas últimas semanas, e face a algumas destas decisões de juízes, já tinham sido introduzidas alterações na proposta para alargar o âmbito da aplicação da amnistia, para abranger crimes de terrorismo desde que não tenham "causado violações graves de direitos humanos de forma manifesta e com intenção direta"..No entanto, o JxCat considera esta alteração insuficiente e lembrou hoje que o acordo que assinou com o PSOE para viabilizar o atual Governo de Sánchez referia uma "amnistia integral"..O ministro da Justiça, Félix Bolaños, disse que os socialistas e o executivo continuarão a trabalhar para a aprovação de uma lei de amnistia constitucional, argumentando que é algo de que "o país precisa" para "abrir uma nova etapa" de convivência na Catalunha e da Catalunha com o resto de Espanha e assim "devolver à política o que nunca deveria ter saído da política"..Bolaños afirmou que Espanha é um Estado de direito "forte e robusto", com mecanismos que garantem a possibilidade de recursos perante todas as decisões de magistrados, como as conhecidas nas últimas semanas, e condenou os ataques ao poder judicial feitos hoje no parlamento e a posição do partido de Puigdemont..O ministro e dirigente socialista lembrou que o JxCat negociou a lei de amnistia com o PSOE e considerou "incompreensível" que o partido tenha votado ao lado do PP e do Vox (extrema-direita), que querem perseguir judicialmente e pôr na prisão os separatistas catalães..Bolaños recusou, por outro lado, que esteja em risco a continuidade do governo e assegurou que a legislatura tem ainda mais três anos..A lei de amnistia abrangerá pessoas envolvidas no movimento de autodeterminação da Catalunha entre 2011 e 2023, o que inclui o referendo ilegal e a declaração unilateral de independência de 2017.