As agências da Organização das Nações Unidas vão tentar aproveitar ao máximo a janela aberta por Israel de “pausas táticas” diárias de 10 horas e do estabelecimento de “caminhos seguros” e tentar inverter a situação de fome que se está a generalizar na Faixa de Gaza. Segundo o Programa Alimentar Mundial da ONU, um terço dos palestinianos não come “há vários dias” e quase meio milhão de pessoas enfrentam “condições semelhantes à fome”. Israel nega que haja fome em Gaza, apenas “insegurança alimentar”, mas perante os relatos da ONU, as notícias da morte diária de pessoas por desnutrição e a consequente pressão internacional, as forças armadas israelitas anunciaram o levantamento parcial do estrangulamento a que sujeitam o enclave desde março. “A pausa começará nas zonas onde o exército israelita não opera: al-Mawasi, Deir al-Balah e a cidade de Gaza, todos os dias até novas ordens”, anunciou o exército israelita. “Esta decisão foi coordenada com a ONU e as organizações internacionais após discussões sobre o assunto”, tendo acrescentado que “rotas seguras designadas serão estabelecidas de forma permanente das 6 às 23 horas, a fim de permitir a passagem segura das caravanas da ONU e das organizações humanitárias que enviam e distribuem alimentos e medicamentos à população em toda a Faixa de Gaza”.No sábado à noite, a força aérea israelita lançou farinha, açúcar e comida enlatada, iniciativa inédita e simbólica ocorrida sob ordens do governo. Em paralelo, as autoridades israelitas voltaram a ligar a eletricidade de uma central de dessalinização no sul de Gaza. A falta de água potável é outro problema grave, acentuado com o corte de energia àquela instalação em março. Ao lançamento aéreo realizado por Israel, seguiram-se outros da Jordânia e dos Emirados Árabes Unidos, que distribuíram 25 toneladas de ajuda humanitária no norte do território.“É hora de agir”, afirmou a diretora do Programa Alimentar Mundial, Cindy McCain. “O PAM tem equipas no terreno e comida suficiente para chegar às pessoas necessitadas em toda a Faixa de Gaza em grande escala.” No mesmo dia em que anunciou esta abertura à ajuda humanitária, o governo de Benjamin Netanyahu voltou a ser pressionado de forma interna e externa. Ao nível doméstico, mais de 340 professores universitários pediram ao governo para “pôr fim à crise humana” em Gaza. Do exterior, o chanceler alemão Friedrich Merz ligou ao primeiro-ministro e exigiu o fornecimento “urgente” de ajuda humanitária à população civil “faminta” de Gaza e pediu “mais medidas substanciais” a Netanyahu para lá das reveladas no início do dia. Na sexta-feira, um comunicado conjunto de Berlim, Londres e Paris pedia o levantamento das restrições da entrada de assistência a Gaza. O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico saudou a decisão israelita, mas lembrou que chega “com muito atraso”. David Lammy afirmou que o “acesso à ajuda deve ser urgentemente acelerado nas próximas horas e dias”, e “outras barreiras à ajuda removidas”. Conclui: “O mundo está a assistir.” Porém, o líder israelita descarta qualquer responsabilidade ao apontar o dedo à ONU. “Existem corredores seguros. Sempre existiram, mas agora é oficial. Não haverá mais desculpas”, afirmou Netanyahu. .Israel interrompe combates em três zonas de Gaza face à fome. Camiões já estão a entrar no território