ONU alerta para risco de "inverno catastrófico" na Ucrânia após novos ataques russos
No Conselho de Segurança da ONU, o presidente ucraniano falou que, "com temperaturas abaixo de zero, vários milhões de pessoas" estão "sem abastecimento de energia, sem aquecimento e sem água". "Isso é obviamente um crime contra a humanidade", apontou Zelensky.
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou na quarta-feira para o risco de um "inverno catastrófico" para milhões de ucranianos após os mais recentes "ataques implacáveis e generalizados" por parte da Rússia contra civis e importantes infraestruturas.
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Em mais uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para debater a situação na Ucrânia, e convocada de urgência, a subsecretária-geral para Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz da ONU, Rosemary DiCarlo, deu detalhes sobre a nova onda de ataques russos com recurso a mísseis e drones que aterrorizou o povo de Kiev, Odessa, Lviv, Mykolaiv, Kharkiv e Zaporijia, e que deixaram pelo menos quatro mortos e 30 feridos.
"Enquanto os ucranianos procuravam desesperadamente abrigo dos bombardeamentos, eles também tiveram que lidar com temperaturas congelantes. De facto, esses últimos ataques renovam o medo de que este inverno seja catastrófico para milhões de ucranianos, que enfrentam a perspetiva de meses de frio sem aquecimento, eletricidade, água ou outros serviços básicos", disse DiCarlo.
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"Mesmo antes dos últimos ataques, as autoridades ucranianas informaram que praticamente não havia grandes centrais termoelétricas ou hidroelétricas intactas na Ucrânia. O bombardeamento de hoje [quarta-feira] provavelmente tornará a situação ainda pior", avaliou a representante da ONU.
Zelensky denunciou à ONU "crimes contra a humanidade" após novos ataques russos
DiCarlo deixou claro que os ataques contra civis e infraestruturas civis são proibidos pelo direito humanitário internacional e exigiu à Russia que "cesse imediatamente essas ações".
"Tem que haver responsabilidade por violação das leis de guerra", insistiu.
A seguir a Rosemary DiCarlo, foi a vez do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, falar - por videochamada - perante o corpo diplomático, tendo pedido que a "justiça dentro das estruturas da ONU" seja restaurada, criticando o facto de a Rússia, como responsável "por todo este terror", continue a ter poder de veto dentro do Conselho de Segurança, onde tem bloqueado todas as tentativas de ação contra a sua agressão.
"Não podemos ser reféns de um terrorista internacional", disse, referindo-se a Moscovo.
Zelensky denunciou ainda à ONU "crimes contra a humanidade" após os novos ataques russos à infraestrutura na Ucrânia.
"Com temperaturas abaixo de zero, vários milhões de pessoas sem abastecimento de energia, sem aquecimento e sem água, isso é obviamente um crime contra a humanidade", apontou Zelensky.
O chefe de Estado Ucraniano aproveitou ainda a reunião para pedir aos seus aliados que lhe forneçam mais defesas antiaéreas e antimísseis em resposta a estes últimos ataques perpetrados pela Rússia, que acusou de tentar destruir a infraestrutura energética do país para fazer milhões de pessoas sofrerem durante o inverno.
"Putin decidiu que, se não puder tomar a Ucrânia à força, tentará congelar o país até a submissão", dizem EUA
Acusações semelhantes foram feitas por aliados de Kiev, como pela embaixadora norte-americana junto à ONU, Linda Thomas-Greenfield, que acusou o Presidente russo, Vladimir Putin, de estar "determinado a reduzir a escombros as instalações de energia da Ucrânia".
"O motivo de Putin não poderia ser mais claro e mais frio. Ele está claramente a usar o inverno como arma para infligir um imenso sofrimento ao povo ucraniano. Ele decidiu que, se não puder tomar a Ucrânia à força, tentará congelar o país até a submissão", avaliou a diplomata.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.595 civis mortos e 10.189 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.