Ofensiva russa embate na realidade

Kiev crê que as forças de Moscovo já iniciaram uma "grande ofensiva" a antecipar a chegada de armamento à Ucrânia. Até agora, os avanços dão-se à custa de enormes perdas.
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A ofensiva russa, acentuada nas últimas semanas no Donbass e tendo como alvos Bakhmut e arredores, bem como Vuhledar, Avdiivka e para oeste de Kremina, pode estar a dar alguns ganhos territoriais - os mercenários do grupo Wagner anunciaram a tomada de mais uma aldeia, Krasna Hora, a norte de Bakhmut - , mas os custos humanos estarão a ser elevados, a crer nos dados prestados pelas forças armadas ucranianas e analisados pelos serviços de informações da Defesa britânica.

Os soldados russos estarão a morrer em maior número na Ucrânia neste mês do que em qualquer outro momento desde a primeira semana da invasão, isto de acordo com dados ucranianos. Segundo o Estado-Maior das forças armadas ucranianas morreram 6490 militares do lado russo na última semana, o que dá uma média de 927 soldados por dia, quando na semana anterior os dados mostravam 824 soldados russos a morrer em cada 24 horas.

Estes números só foram ultrapassados na semana do lançamento da operação militar especial, em que Kiev estimou o número de mortes diárias em 1140. No total, e só desde fevereiro do ano passado, Kiev contabilizou do lado invasor quase 138 mil mortos, um número que deve ser visto com cautela, embora em novembro o chefe do Estado-Maior dos EUA tenha estimado que o número de mortes e de feridos se situava em cem mil para cada lado.

Estes números não são confirmados por outras fontes, mas para Londres as tendências estão "provavelmente exatas".

O aumento de óbitos acontece na sequência do que Kiev diz ser uma "grande ofensiva" lançada pela Rússia. "As nossas tropas estão a repelir muito fortemente", disse o secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Oleksiy Danilov. "A ofensiva que planearam já está a ter lugar, gradualmente, mas não é a ofensiva que imaginaram". A Rússia está a enfrentar "grandes problemas".

"O aumento das baixas russas deve-se provavelmente a uma série de fatores, incluindo a falta de pessoal treinado, coordenação e recursos em toda a frente - isto é exemplificado em Vuhledar e Bakhmut", disse o serviço de informações do Ministério da Defesa do Reino Unido.

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Só em Vuhledar um ataque falhado custou às forças russas mais de 30 veículos blindados e a destruição de uma brigada, dias depois de o ministro da Defesa Sergei Shoigu elogiar os "sucessos" naquela área de Donetsk.

Do lado ucraniano não há dados sobre as suas baixas, embora "também continue a sofrer uma elevada taxa de perda", disse Londres.

O chefe da força Wagner Yevgeny Prigozhin disse ter tomado uma aldeia perto da cidade devastada de Bakhmut, tendo indicado que à volta não há militares do exército russo. A declaração sugere que as tensões entre os militares russos e Wagner prossegue, depois de Prigozhin ter posto fim ao recrutamento nas prisões e só poder reclamar como vitória a captura de Soledar, a norte de Bakhmut.

No dia em que Prigozhin se gaba de tomar Krasna Hora, dois reclusos que foram para a frente da guerra - entre outros 40 a 50 mil - e acabaram detidos por soldados ucranianos falaram à CNN. Foi-lhes prometido fortalecer uma segunda linha para "lutar contra os nazis" e seis meses seriam recompensados com dinheiro, liberdade e um currículo limpo. "Pensávamos estar a combater os polacos e vários mercenários. Alemães. Pensávamos que não restava lá ninguém do exército ucraniano, que tinham deixado o país", disse um deles.

Ambos testemunham a tática do grupo, que lança ondas de soldados impreparados uns atrás de outros só para encontrarem a morte ou, no caso destes dois, da captura.

cesar.avo@dn.pt

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