Ocidente aplica pressão diplomática no G20
Chefes da diplomacia da UE e dos Estados Unidos esperam que a Índia e o grupo das maiores economias ajam no sentido de condenar a Rússia. Kiev anuncia reforço militar para Bakhmut.
Os Estados Unidos e a União Europeia mostraram-se confiantes de que da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G20, que termina hoje em Nova Deli, saia uma condenação à invasão russa da Ucrânia e que o país anfitrião pressione Moscovo para acabar com a agressão. Na frente da guerra, Kiev deu indicações de que estava a reforçar posições em Bakhmut e o chefe dos mercenários russos desmentiu que a cidade do Donbass esteja na iminência de ser capturada.
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A presidência indiana do G20 escolheu como mote "Uma Terra, uma família, um futuro", mas a ideia de harmonia entrou em choque com a realidade. A caminho da capital indiana, no Usbequistão, o secretário de Estado norte-americano avisou não estar nos seus planos encontrar-se com o homólogo russo - nem com o chinês. "Não tenho planos para ver qualquer um dos dois [Sergei Lavrov e Qin Gang] no G20", disse Antony Blinken, o qual iria partilhar a mesma mesa em reuniões de trabalho.
As relações com a China agravaram-se nas últimas semanas com o caso do balão chinês abatido pela força aérea dos EUA e com as repetidas advertências de Washington para que Pequim não transfira material militar ou tecnológico para Moscovo, além de ter criticado a iniciativa pela paz do regime comunista. "Por um lado tenta apresentar-se publicamente neutra e em busca da paz, ao mesmo tempo apregoa a falsa narrativa da Rússia sobre a guerra", disse Blinken.
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Os indianos também não condenaram a invasão russa, e desde então aproveitaram para comprar petróleo a preço de saldo a Moscovo. Apesar de o governo indiano querer que a agenda do G20 incida em temas como o combate à pobreza ou o financiamento para enfrentar as alterações climáticas, a guerra na Ucrânia acaba por ser o centro das atenções.
No sábado, o encontro dos ministros das Finanças do G20 terminou sem acordo para a declaração final devido ao veto russo e chinês. Um alto funcionário do Departamento de Estado norte-americano disse aos jornalistas que desta vez deverá sair uma declaração a condenar a invasão. O chefe da diplomacia europeia também se mostrou confiante, mas para que o país anfitrião use a sua influência. "Espero que a Índia utilize as suas capacidades diplomáticas para fazer a Rússia compreender que esta guerra tem de acabar. Nas palavras do primeiro-ministro indiano [Narendra] Modi, este não é o momento para a guerra", disse Josep Borrell. "O sucesso da reunião será medido pelo que pudermos fazer sobre isso", concluiu.

"Sê corajoso como a Ucrânia", lê-se numa parede em Kiev.
© SERGEY SUPINSKY/AFP
Horas depois de os militares ucranianos reconhecerem que a situação em Bakhmut estava "extremamente tensa", na linha do que o presidente Zelensky também vinha a dizer, e com o lado russo a dar a tomada da cidade por adquirida, a vice-ministra da Defesa Hanna Maliar anunciou que foram enviados reforços para aquela cidade de Donetsk. A governante não pormenorizou sobre o número de militares envolvidos nem qual é a sua missão - poderá ser para dar apoio logístico ou dar cobertura para uma eventual retirada.
Yevgeny Prigozhin, o chefe do grupo privado de mercenários Wagner - que há dias exigia munições ao exército russo - desmentiu a queda iminente de Bakhmut. "As forças ucranianas estão a levar novas reservas para Bakhmut e a tentar aguentar a cidade por todos os meios", disse o homem que foi classificado como "criminoso de guerra" pelo procurador-geral dos EUA Merrick Garland.
Finlandeses aprovam NATO
Sem surpresa, e depois de um dia de debate, o parlamento finlandês aprovou a futura adesão do país à Aliança Atlântica. Apenas sete deputados votaram contra - e 184 a favor - da legislação que aceita os termos do tratado da NATO. A votação realizou-se antes da ratificação dos parlamentos da Hungria e da Turquia para não correr o risco de se atrasar mais o processo, uma vez que no dia 2 de abril há eleições legislativas. Em Budapeste, começou o debate parlamentar sobre a adesão à NATO da Finlândia e da Suécia, e a votação pela ratificação deveria decorrer na próxima semana. No entanto, o governo de Viktor Orbán deu indicações de que o voto poderá ser adiado até ao final do mês depois de ter afirmado que os deputados estão preocupados com "o grande potencial de guerra" que a fronteira entre a Finlândia e a Rússia representa.
Lukashenko e Xi em sintonia
Em visita à China, o líder da Bielorrússia Alexander Lukashenko disse ao homólogo Xi Jinping que o seu país "apoia plenamente" as propostas de Pequim para acabar com a guerra da Ucrânia. A China publicou na semana passada um documento de 12 pontos sobre a guerra iniciada por Moscovo, no qual apela para "a cessação das hostilidades" e às conversações de paz, enquanto se reafirma neutra. O presidente ucraniano disse estar interessado em discutir o plano chinês com Xi, enquanto outros funcionários ucranianos recordaram que uma trégua só é possível com a saída das forças ocupantes.
Moscovo condiciona cereais
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia afirmou que só concordará em prorrogar o acordo sobre cereais do mar Negro, que permite a exportação segura de cereais dos portos ucranianos, e sobre o qual Kiev já disse querer renovar, se os seus interesses estiverem assegurados. "A continuação do acordo só é possível se forem tidos em conta os interesses dos produtores agrícolas e de fertilizantes russos em termos de livre acesso aos mercados mundiais", afirmou o ministério. O acordo foi firmado em julho após negociações promovidas pela Turquia e Nações Unidas.
cesar.avo@dn.pt
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