Objetivos da Rússia na Ucrânia só podem ser atingidos pela força militar, diz Kremlin

Kremlin afirma que Kiev deve reconhecer as "novas realidades" territoriais. "Sem ter em conta este conjunto de questões, a transição para um acordo pacífico é impossível", garantiu o porta-voz da presidência russa. Disse ainda que Moscovo não reconhece o Tribunal Penal Internacional que terá iniciado procedimentos contra a Rússia.
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Os objetivos da Rússia na Ucrânia só podem ser atingidos pela via militar, tendo em conta a posição de Kiev, disse esta terça-feira o Kremlin, noticia a Reuters.

"Temos que atingir os nossos objetivos. Atualmente, isso só é possível por meios militares devido à atual posição do regime de Kiev", justificou Dmitry Peskov, porta-voz da presidência russa, em conferência de imprensa.

Peskov afirmou que Kiev tem de aceitar as "novas realidades" que surgiram após a Rússia lançar o que designou de "operação especial militar", a 24 de fevereiro de 2022, se quiser o fim do conflito.

A Rússia, recorde-se, formalizou no ano passado a anexação de quatro regiões ucranianas, que ocupa parcialmente: Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia. Uma anexação que não é reconhecida por Kiev e pelos aliados do Ocidente.

O porta-voz da presidência russa disse que a posição de Moscovo para o fim do conflito é "bem conhecida".

"A situação e as novas realidades também são bem conhecidas. Sem ter em conta este conjunto de questões, a transição para um acordo pacífico é impossível", garantiu Peskov.

Um condição rejeitada pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que só admite acordos de paz quando as tropas russas deixarem o território ucraniano.

Aliás, em entrevista à BBC, no passado mês de fevereiro, o chefe de Estado ucraniano exclui a possibilidade do país ceder território à Rússia como parte de um acordo de paz.

"As armas modernas aceleram a paz. As armas são a única linguagem que a Rússia entende", disse Zelensky à BBC numa entrevista que assinalou um ano de guerra.

Também esta terça-feira, Peskov fez saber que as autoridades russas rejeitaram a jurisdição do Tribunal Penal Internacional (TPI), garantindo que essa será a postura do país caso seja interposto um processo contra Moscovo por crimes de guerra na Ucrânia.

A Rússia "não reconhece esse tribunal", afirmou Dimitry Peskov, acrescentando que "será assim que Moscovo irá abordar o assunto" num eventual processo no âmbito do conflito na Ucrânia.

Citado pela agência de notícias russa Tass, Peskov sublinhou ainda que o TPI ignorou a morte de civis "às mãos de nacionalistas ucranianos" antes da invasão e após o início do conflito armado em 2014 na região de Dovbass, no leste da Ucrânia.

"Durante anos, nenhum tribunal internacional, nem mesmo os que não são reconhecidos pela Rússia, nem outros membros da comunidade internacional se preocuparam em prestar atenção à destruição de infraestruturas civis e à morte de civis nas mãos de nacionalistas ucranianos no Donbass", criticou o porta-voz do Kremlin.

De acordo com o jornal, os casos estão relacionados em concreto com o alegado "sequestro de crianças ucranianas" e com o "ataque deliberado contra infraestruturas civis" da Ucrânia.

O New York Times cita fontes do TPI relacionadas com "as últimas decisões", que não identifica por estarem impedidas de se pronunciarem publicamente sobre o assunto.

Estas são as primeiras acusações internacionais desde 24 de fevereiro de 2022, a data da nova invasão da Ucrânia pelas forças russas e, segundo o jornal, são resultado do trabalho das equipas de investigação sobre crimes de guerra.

As investigações prolongaram-se durante vários meses e concentram-se sobretudo "no sequestro de crianças e de adolescentes ucranianos" e que foram enviados para campos de "reeducação russos", além dos ataques deliberados contra equipamentos civis.

O procurador Karim Khan, do TPI, deve primeiro apresentar o caso aos juízes de instrução sendo que os investigadores ainda se encontram a trabalhar na recolha de provas para depois, caso reúnam as supostas evidências, sejam emitidas as eventuais ordens de prisão.

O Kremlin nega as acusações de crimes de guerra mas, segundo a notícia publicada hoje, os investigadores internacionais e ucranianos "reuniram provas sólidas de uma série de atrocidade desde o primeiro dia da invasão", 24 de fevereiro de 2022.

Com Lusa

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