O ex-presidente Barack Obama resolveu responder às “alegações bizarras” de que foi alvo por parte do atual chefe de Estado depois de a diretora nacional dos Serviços de Informações, a ex-democrata Tulsi Gabbard, ter publicado um relatório no qual acusa as mais altas esferas do governo de Obama de terem elucubrado uma “conspiração sediciosa” ao afirmarem que o líder russo Vladimir Putin interferiu nas eleições de 2016 para benefício de Donald Trump. “Por respeito ao cargo da presidência, o nosso gabinete normalmente não dignifica com uma resposta os constantes disparates e desinformações que saem desta Casa Branca. Mas estas alegações são suficientemente escandalosas para merecerem uma resposta. Estas alegações bizarras são ridículas e constituem uma tentativa frágil de desviar a atenção”, afirmou Patrick Rodenbush, o porta-voz de Barack Obama, em referência ao caso Epstein. .Administração Trump cede no caso Epstein.A iniciativa de Gabbard centrou-se em recorrer a emails da administração Obama, segundo os quais se concluiu então que não tinha havido uma tentativa de atacar os sistemas de voto estaduais em favor de Trump. De facto, essa nunca foi a questão nas investigações levadas a cabo pelas agências, nem o que concluíram quatro relatórios, incluindo o do procurador especial Robert Mueller: Moscovo interferiu ao nível da pirataria e divulgação de emails do Partido Democrata e de Hillary Clinton e em paralelo usou as redes sociais com desinformação para influenciar a opinião pública. O documento de Gabbard também alegou que o desacreditado “dossier Steele” - da pena do ex-agente britânico Christopher Steele, pago pela campanha de Clinton -, o qual apontava para um elevado nível de cooperação entre a campanha de Trump e o Kremlin e que o FSB tinha material comprometedor do candidato republicano, foi tido em conta nos relatórios de então. Mas o que esses documentos - além do relatório Mueller, o relatório do inspetor-geral do Departamento de Justiça, o relatório da Comissão dos Serviços Secretos do Senado e o relatório do procurador especial John Durham - demonstram é que o conteúdo do “dossier Steele” foi recebido de forma crítica e não influenciou as conclusões dos mesmos.Ao apresentar o seu relatório, na sexta-feira, Gabbard disse que a avaliação feita então pelo conjunto das agências de serviços secretos era “informação politizada que foi usada como base para inúmeras difamações que procuravam deslegitimar a vitória do presidente Trump”. Este republicou um vídeo gerado por IA que o apresentava sorridente, na Casa Branca, enquanto ao seu lado Obama era algemado por agentes do FBI e depois preso. Na terça-feira, enquanto recebia o homólogo filipino Ferdinand Marcos Jr., Trump voltou à carga, ao ser questionado sobre quem é que deveria ser investigado pelo Departamento de Justiça. “Barack Hussein Obama é o cabecilha. Hillary Clinton estava lá com eles, assim como o sonolento Joe Biden. E o resto deles também. Comey [diretor do FBI], Clapper [diretor nacional dos Serviços de Informações], todo o grupo, e eles tentaram manipular uma eleição e foram apanhados. E depois manipularam a eleição em 2020.” Pouco antes, Trump responsabilizara Clinton. “A ideia foi do presidente Obama, mas ele também a recebeu da desonesta Hillary Clinton, desonesta como uma nota de 3 dólares. Hillary Clinton e os democratas gastaram 12 milhões de dólares com Christopher Steele para escrever um relatório que era totalmente falso”, acusou. “Nada no documento divulgado na semana passada contradiz a conclusão amplamente aceite de que a Rússia tentou influenciar as eleições presidenciais de 2016, mas não conseguiu manipular os votos”, acrescentou o gabinete de Obama. “Estas conclusões foram confirmadas num relatório de 2020 da comissão dos Serviços Secretos do Senado, liderada pelo seu então presidente Marco Rubio.”Barack Obama tem sido alvo de teorias da conspiração por parte de Trump desde 2011. A primeira, que manteve durante anos apesar das provas publicadas em contrário, era a de que Obama não tinha nascido nos EUA (e, associado, que este seria muçulmano e não cristão). Depois, a de que era um mau estudante e que teria sido admitido na universidade por discriminação positiva ou por ser estrangeiro. Já presidente, acusou Obama de ter postos escutas nos seus telefones. Em 2020, acusou Obama do “maior crime político na história americana” - classificou-o de Obamagate -, mas nunca apresentou quaisquer provas sobre o tema.