Dezenas de milhares de palestinianos vão perder, a partir desta quinta-feira, o acesso a serviços de educação e saúde providenciados pela agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA, na sigla em inglês) por causa da entrada em vigor da interdição aprovada por Israel. A medida vai afetar desde já os escritórios em Jerusalém Oriental, que têm que fechar (sem que tenha sido encontrada uma alternativa para a gestão dos serviços de saúde e educação), mas a proibição de contacto com oficiais israelitas vai tornar também quase impossível que a agência opere na Faixa de Gaza ou na Cisjordânia ocupada.No final de outubro, o Knesset aprovou legislação que proíbe a UNRWA de operar dentro de Israel - o que, segundo a lei israelita, inclui Jerusalém Oriental - e proíbe qualquer contacto entre funcionários israelitas e os membros da agência. “Israel vai terminar toda a colaboração, comunicação e contacto com a UNRWA ou qualquer pessoa a atuar em seu nome”, reiterou esta terça-feira o embaixador de Israel nas Nações Unidas, Danny Danon, antes de um debate no Conselho de Segurança sobre o tema.Para o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, o cenário é “desastroso” e só vai “aumentar a instabilidade e aprofundar o desespero no território palestiniano ocupado” no “momento crítico” do cessar-fogo em Gaza. Isso, alega, vai “corroer a confiança” dos palestinianos na comunidade internacional, “colocando em risco qualquer perspetiva de paz e segurança”. Os EUA, que estão do lado de Israel, consideram esta posição exagerada. A UNRWA foi criada em 1949, após a Guerra da Independência desencadeada pela criação do Estado de Israel, em 1948. Dá acesso a cuidados de saúde e educação a milhões de palestinianos que vivem em Gaza, na Cisjordânia, mas também na Síria, Líbano e Jordânia. Cerca de 5,9 milhões de pessoas estão registadas como refugiadas palestinianas, uma vez que são descendentes de árabes deslocados dessa guerra - o único caso em que o estatuto passa de uma geração para a outra. O mandato da UNRWA, que emprega cerca de 30 mil pessoas (a maioria palestinianos) é alargado a cada três anos, apesar de ser cada vez mais criticada por Israel. A gota de água para os israelitas foram as acusações de que 12 dos seus funcionários estiveram envolvidos nos ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023, levando muitos países (a maioria de forma temporária) a suspender as ajudas financeiras à agência. A proibição, por cumplicidade geral da UNRWA com o terrorismo, surge também no meio de tensão entre Israel e o próprio secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declarado “persona non grata”.