“O principal objetivo da Moldova é tornar-se membro da UE até 2030”

“O principal objetivo da Moldova é tornar-se membro da UE até 2030”

A antiga república soviética da Moldova aposta na ligação ao Ocidente para escapar à influência russa, e isso passa pela integração europeia. O DN falou com Mircea Pascaluta, secretário de Estado das Infraestruturas, à margem da conferência sobre o aeroporto de Chisinau organizada pela Aviation-Event.
Publicado a
Atualizado a

Quão importante é o estatuto de candidato à União Europeia para a Moldova?
É a estratégia nacional mais importante e agradeço a abertura dos parceiros europeus à candidatura do nosso país. A nível interno, a nível político, mas também a todos os outros níveis, estamos a trabalhar arduamente para nos tornarmos membros da União Europeia. O nosso principal objetivo é tornarmo-nos membros da UE até 2030. Temos agora este estatuto de candidato e espero sinceramente que dentro de algum tempo se abram as negociações e comecemos a avançar juntos muito, muito rapidamente nas reformas necessárias, também no desenvolvimento da nossa economia, e, claro, dos transportes. Portanto, contamos com o forte apoio dos nossos parceiros europeus para nos desenvolvermos juntamente com eles.

A experiência bem-sucedida da Roménia na União Europeia desde 2007, sendo um país muito próximo em termos de língua e de cultura, foi decisiva para fortalecer o espírito europeísta na Moldova?
Sim. Muitos dos nossos cidadãos têm cidadania romena, e muitos outros estão no estrangeiro, vivem em vários países da União Europeia, e sabem bem o que representa ser um Estado-membro. Ao mesmo tempo, a Roménia é um parceiro estratégico e um bom amigo. Temos a mesma língua, temos a mesma história, a mesma cultura, e agora estão a ajudar-nos muito nesta candidatura. Fornecem muita informação, fornecem muita assistência técnica, porque é uma grande facilidade termos a mesma língua, especialmente no processo de transposição dos regulamentos da UE, algo muito desafiador neste momento. Temos a oportunidade de aprender com as melhores práticas dos romenos e também com as fases erradas que tiveram. Estão a ajudar-nos a superar todos esses desafios e a avançar muito, muito rápido. Temos o seu apoio também em todos os fóruns políticos, no Parlamento Europeu, no Conselho Europeu, na Comissão Europeia, e no domínio dos Transportes, a comissária Adina Vălean, que é da Roménia, ajudou muito.

Participa numa conferência internacional sobre o futuro do aeroporto de Chisinau. Qual a importância do aeroporto, qual a importância da infraestrutura em geral, para o desenvolvimento da Moldova?
Todos os principais destinos são na UE, a grande maioria dos voos é para a UE, e isso mostra não só a força da nossa ligação como realça o aeroporto de Chisinau ser a forma mais rápida de termos contacto direto com a União Europeia, com as cidades europeias. Temos uma diáspora muito grande, pois mais de um milhão dos nossos cidadãos trabalha no estrangeiro, a maioria deles na UE. Eles utilizam o nosso aeroporto, por isso, para nós, parte da nossa estratégia neste processo de integração na UE é ter ligações diretas, voos diretos com o máximo de cidades europeias. Assim, para nós é muito importante ter uma infraestrutura adequada e ter rotas de voo para garantir que todos os nossos cidadãos possam usar o nosso aeroporto para visitar os seus familiares na UE. Também os da nossa diáspora, para virem cá. E na verdade o avião é já um dos principais meios de transporte utilizados pela nossa diáspora quando tem férias e vem visitar o país. E através destas ligações aéreas, os nossos cidadãos sentem o que é a UE. Têm a possibilidade de, em poucas horas, estar nos mais diferentes países da UE e ver a sua cultura e o seu desenvolvimento ao mesmo tempo. Por seu lado, a nossa diáspora pode trazer a cultura europeia, divulgar a experiência europeia aqui no país.

A Moldova, ao modernizar o aeroporto de Chisinau, pretende atrair também o turismo?
Claro. Estamos agora a focar-nos na diáspora, porque há uma procura muito grande, mas paralelamente estamos a trabalhar, quando estamos a discutir com as transportadoras aéreas, para trazer a componente turística, porque é muito importante para o futuro da economia. Somos um país pequeno, mas lindo. Temos vinho muito bom, e para nós é muito importante promover isso.

O vinho é a principal estratégia para atrair o turismo?
Na verdade sim, porque temos muitas adegas, muitos produtores, que têm vinhos muito bons. E também temos paisagens muito bonitas e lugares lindos para visitar, para visitas curtas, para uma pequena pausa.

Como está a guerra na Ucrânia, mesmo aqui ao lado, a afetar a Moldova?
Infelizmente, a guerra na Ucrânia afetou-nos muito, especialmente na infraestrutura de transportes. Para nós foi muito desafiante e continua a ser muito desafiante utilizar as nossas infraestruturas, porque quando a guerra começou, tentámos ajudar os nossos amigos ucranianos e garantimos o trânsito dos refugiados, por isso ajudámos muito. Centenas de milhares dos ucranianos transitam pelo nosso país. Neste momento, penso que temos mais de 80 000 ucranianos a viver na Moldova. E foi um grande impacto logo em 2022, porque concentrámos e reorientámos grande parte do nosso orçamento para ajudar os cidadãos ucranianos. Ao mesmo tempo, assegurámos e disponibilizámos e damos autorização para o trânsito de mercadorias ucranianas através da nossa infraestrutura, das nossas estradas, dos nossos caminhos de ferro. E estamos a investir muito nos caminhos de ferro para garantir que utilizarão os nossos caminhos de ferro para o trânsito de mercadorias da Ucrânia para a UE. A mesma coisa nas estradas. E na aviação, como mencionei, temos milhares de ucranianos que utilizam o aeroporto de Chisinau como o principal. Então, existe um grande impacto financeiro, e estamos a tentar investir para manter a nossa infraestrutura adequada para esse processo. E aqui contamos com o apoio da União Europeia, porque é um grande desafio para nós. O nosso orçamento é limitado, obviamente não estávamos preparados para esta guerra.

Em termos da relação com a Rússia, a guerra na Ucrânia foi decisiva para a Moldova apostar na integração na União Europeia e sair da esfera de influência russa?
Não podemos ter boas relações com um Estado que faz guerra e mata pessoas na Ucrânia. Somos muito francos e a nossa posição é muito forte, vamos para a UE. Não somos contra o povo da Rússia, mas somos contra os criminosos que estão no governo e fazem esta guerra na Ucrânia.

Como é que a situação separatista na Transnístria, região pró-russa, afeta as perspetivas moldovas de integrar a União Europeia?
Na verdade, a Transnístria beneficia do nosso processo de integração na UE. Muitos parceiros privados da Transnístria estão a trabalhar com o mercado da UE. E para a UE será a mesma coisa que Chipre no alargamento de 2004. Portanto, precisamos de nos unir para trabalharmos para que essa região se torne uma região integrada do nosso país com um processo democrático.

A visita recente a Chisinau do secretário de Estado americano Antony Blinken também é importante, mostrando não só o apoio à Moldova por parte da União Europeia, mas também dos Estados Unidos?
Claro. Os Estados Unidos são um parceiro estratégico para nós, especialmente nestes momentos geopolíticos desafiantes. Também no domínio dos transportes, pois temos uma cooperação muito boa com os americanos. Eles fornecem muita assistência técnica e também estamos a discutir envolvê-los em projetos concretos de infraestrutura. Portanto, a visita do secretário Blinken a Chisinau foi um sinal claro de que não estamos sozinhos e que na Moldova contamos com o apoio da UE e dos Estados Unidos.

Em Chisinau

O DN viajou a convite da Aviation-Event

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt