Lula da Silva é o presidente de honra do PT.
Lula da Silva é o presidente de honra do PT. FOTO: EPA / André Borges

O partido de Lula vai a eleições dividido entre quatro candidatos

Presidente apoia o favorito Edinho Silva no sufrágio interno. Mas entre os 1,6 milhões de filiados há três outras correntes, muitas disputas pelo poder, estado a estado, e dúvidas sobre o pós-Lula.
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O Partido dos Trabalhadores (PT), formação cujo presidente de honra é Lula da Silva, atual chefe de Estado do Brasil, vai a votos no início de julho mas a campanha interna, iniciada esta semana, já agita o Brasil. Edinho Silva, apoiado por Lula e pela maioria dos históricos, como José Dirceu, é o favorito numa eleição para líder que deve envolver apaixonadamente os 1,6 milhões de filiados do partido que por mais tempo, 17 anos, governou o Brasil desde a redemocratização em 1985.

Classificado por politólogos como de esquerda e de centro-esquerda, a formação fundada em 1980 por um misto de sindicalistas e de intelectuais decidiu retomar o modelo de eleições diretas depois de dois sufrágios num modelo híbrido, em 2017 e 2019, ganhas pela deputada Gleisi Hoffmann, com apoio de Lula. Hoffmann, entretanto, trocou, em março, o PT pelo governo, onde exerce agora o cargo de ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, e foi substituída interinamente pelo senador Humberto Costa.

Para dirigir a formação nos próximos dois anos, Edinho Silva é o favorito do presidente do Brasil e, por isso, o favorito à vitória a 6 de julho, primeira volta, ou 20 de julho, a eventual segunda. Edinho foi de 2017 a 2024 prefeito de Araraquara, uma das raras cidades no interior do Estado de São Paulo sob o domínio dos “petistas” naquele período, mas, desde as últimas municipais, já nas mãos do Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaro. O político de 59 anos foi ainda ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo de Dilma Rousseff.

Representante da “Construindo um Novo Brasil (CNB)”, principal corrente interna, chegou a ter a concorrência dentro da ala de Washington Quaquá, o prefeito de Maricá, no Rio de Janeiro, que desistiu à beira da data limite para a oficialização das candidaturas. “É para preservar a unidade da CNB”, justificou Quaquá nas redes sociais.

“Nós temos de conversar com uma parte do eleitorado que votou Bolsonaro em 2022, senão, não temos como crescer”, disse Edinho em entrevista ao site UOL. “E o PT precisa preparar-se para o pós-Lula, quando o presidente não estiver mais nas urnas, mas o sucessor não será um nome, será o PT forte, organizado e em sintonia com a sociedade brasileira, um PT forte construirá nomes”, acrescentou numa entrevista à CNN Brasil.

Lula faz 80 anos em outubro, terá 81 nas próximas eleições, às quais deve concorrer, e 85 no final de eventual segundo mandato (quarto, se somados os exercidos entre 2002 e 2010).

Além do apoio conhecido, mas não-verbalizado, do presidente da República, Edinho terá também o voto de José Dirceu, presidente do partido de 1995 a 2002 e principal figura dos primeiros governos de Lula até ser derrubado pelo escândalo do Mensalão. “O apoio (...) baseia-se na legitimidade e na sua experiência como vereador, deputado estadual, presidente duas vezes do PT paulista, quatro vezes prefeito e ministro de Estado no Governo da presidenta (sic) Dilma”, escreveu em carta.

Presidente do PT entre 2011 e 2017 e atual deputado, Rui Falcão, 81 anos, é o principal concorrente de Edinho. Com o apoio de parte da corrente “Novo Rumo”, é jornalista e foi coordenador das campanhas à presidência de Lula, em 1994, e de Dilma Rousseff, em 2010. “O PT deixou de estar na base, de consultar os filiados, os trabalhadores”, disse, em conferência de imprensa. “Precisamos aprender com as Igrejas Evangélicas, em termos de presença quotidiana.”

Romênio Pereira, fundador do PT e hoje secretário de Relações Internacionais do partido, representa a corrente “Movimento PT”. O candidato da ala “Articulação de Esquerda”, por sua vez, é Valter Pomar, historiador e dirigente nacional do partido.

Mas além da eleição no PT nacional, reportagem do jornal O Globo revela disputas para a presidência de 18 diretórios regionais que opõem, por exemplo, aliados de Gleisi Hoffmann e de Zeca Dirceu, filho de José Dirceu, no Paraná, e protegidos de dois ex-governadores, o hoje senador Jaques Wagner e o hoje ministro Rui Costa, na Bahia.

“Acho que o PT é uma exceção no cenário político brasileiro e que as disputas entre facções, como a dominadora, a CNB do Lula, e as demais é salutar, sendo que o mais interessante desta eleição é o ex-presidente Rui Falcão concorrer”, diz o cientista político Vinícius Vieira ao DN.

“Entretanto, o partido tem dois desafios principais: o de curto prazo é, mais do que manter a presidência em 2026, encontrar uma estratégia para reter um mínimo de poder no Senado, onde o bolsonarismo parece [estar] com estratégia forte, de forma a tentar, através da câmara alta, o impeachment de juízes do Supremo”, continua o professor da Faculdade Getúlio Vargas.

“O de longo prazo é manter-se relevante no pós-Lula, seja após ele se reformar ou após eventual derrota, ou seja, fazer com que o PT seja maior do que o lulismo, o que não é fácil numa política, como a brasileira, muito afeita a personalismos”.

Além de Lula no Planalto, o PT tem hoje quatro dos 27 governadores estaduais, 252 de 5569 prefeitos, nove de 81 senadores e 67 de 513 deputados federais.

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