O novo PM britânico: milionário, jovem e hindu
Ao tomar posse hoje como chefe do governo britânico, Rishi Sunak cumpre a profecia de David Cameron. "Não faltará muito para termos um primeiro-ministro britânico-indiano em Downing Street", augurou o então líder britânico junto do homólogo indiano Norendra Modi num discurso em 2015.
Nesse ano Sunak, que antes trabalhara para o banco de investimento Goldman Sachs e gerira fundos especulativos, foi eleito deputado pela primeira vez por Richmond, no nordeste de Inglaterra, vila com a qual passou a ter laços quando passou a ser proprietário de um solar na região. Sunak nasceu e cresceu em Southampton, no sul, cidade onde os seus pais se radicaram nos anos 60. A mãe, Usha, nasceu na Tanzânia e o pai, Yashvir, no Quénia, são hindus com origens no Punjab, Índia. A mãe gere uma farmácia e o pai é médico de clínica geral.
O jovem Rishi teve uma educação privilegiada, ao frequentar o colégio Winchester, em Oxford, onde estudou filosofia, economia e política, e mais tarde rumou aos Estados Unidos para obter um mestrado em gestão em Stanford. Foi aí que conheceu Akshata Murty, herdeira do bilionário Narayana Murthy [pai e filha assinam o apelido de forma diferente], um dos fundadores da empresa de tecnologia Infosys.
Akshata, que se casou com Rishi em 2009, tem ações da empresa do pai avaliadas em 700 milhões de dólares e dirige uma marca de moda com o seu nome. A sua fortuna foi notícia em abril, quando se soube que, ao ter estatuto de não residente no Reino Unido, contornava o pagamento de impostos sobre os dividendos. A empresária anunciou então que passaria a ter domicílio fiscal em Londres.
Nessa altura Sunak era ministro das Finanças há dois anos e enfrentou pedidos de demissão. Esta acabou por acontecer em julho, mas não por causa das finanças da sua mulher ou das suas. Alegou que o governo estava "do lado errado" em questões éticas graves, o que levou a contribuir de forma decisiva para o fim da linha de Boris Johnson no número 10 de Downing Street.
Sunak interrompia a sua rápida ascensão política, que o levara de deputado a subsecretário de Estado no governo de Theresa May a secretário do Tesouro e ministro das Finanças de Johnson. O seu mandato coincidiu com o gasto de milhares de milhões de libras em programas de ajuda de emergência para particulares e empresas.
No entanto, o novo primeiro-ministro, que perdeu a corrida à liderança do partido ao criticar o programa económico defendido por Liz Truss, tomou medidas que não estão no seu ADN. É um defensor do Brexit, do mercado livre e da menor intervenção possível do Estado, exceto na luta contra a imigração. Além de ser o primeiro chefe de governo de origem asiática, é preciso recuar a 1783 para encontrar alguém mais jovem em Downing Street: William Pitt, apodado de o Novo, tinha 24 anos.
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