A mais elevada participação eleitoral em quase três décadas (79,4%) puniu o partido conservador do anterior presidente Yoon Suk Yeol, que há exatamente seis meses abriu caminho para uma crise democrática ao proclamar a lei marcial. Contados mais de 99,5% dos votos, Lee Jae-myung, o candidato do Partido Democrático, de centro-esquerda, recolhera mais de 17,1 milhões de votos, ou 49,36%. O seu adversário, Kim Moon-soo, do Partido do Poder Popular, de centro-direita, recebeu a confiança de 14,3 milhões de eleitores, ou 41,23%. Num breve discurso de vitória, Lee destacou as prioridades da sua presidência, entre as quais o reatamento do diálogo com a Coreia do Norte e a renovação da democracia.Foi junto da Assembleia Nacional, onde há seis meses Lee e outros 200 deputados furaram o cordão militar e votaram uma moção a rejeitar a lei marcial, que o presidente eleito se dirigiu aos seus apoiantes. "Desde aquela noite de insurreição, o povo tem suportado o frio e o vento, exigindo que este país pertença aos seus cidadãos comuns. O poder deve servir o povo, não os interesses privados de um presidente", disse, antes de elogiar os eleitores. “Vocês provaram através dos votos que a soberania pertence ao povo.” Lee, que irá assumir o cargo assim que a Comissão Nacional de Eleições certificar o resultado, nas próximas horas, reiterou as suas prioridades: revitalizar a economia, pacificar a sociedade e renovar a democracia e promover a paz com o vizinho do norte. Sobre as relações com Pyongyang, o novo chefe de Estado quer retomar o diálogo e apostar na via diplomática, em contraste com o anterior presidente. “A vitória sem guerra é melhor do que vencer através da guerra, mas a verdadeira segurança reside na paz que torna a guerra desnecessária”, afirmou atrás de um vidro de segurança. Lee tem segurança reforçada desde que no ano passado foi vítima de um esfaqueamento por parte de um homem que queria matá-lo para impedir que chegasse ao poder.A economia é, no entanto, a prioridade máxima. "A partir do momento em que a minha vitória for confirmada, dedicarei todos os meus esforços para recuperar os vossos meios de subsistência — de forma rápida e decisiva", prometeu. A Coreia do Sul, uma das principais economias do mundo, conheceu o primeiro trimestre com o menor crescimento entre as 19 maiores economias. A inflação, a estagnação e as taxas aduaneiras impostas aos seus produtos por parte da administração Trump são alguns dos desafios imediatos. Se a tomada de posse é um processo rápido, a formação de um governo é demorada, pelo que o Partido Democrata anunciou o lançamento de uma equipa de resposta económica de emergência a operar sob o comando de Lee a partir do momento em que a eleição for certificada. As nomeações dos ministros têm de ser confirmados pelos deputados e enquanto o novo gabinete não entra em funções os ministros cessantes mantêm-se em funções. O presidente interino Lee Ju-ho deverá assumir de forma provisória o cargo de primeiro-ministro. Sobre as questões relacionadas com o que disse ter sido uma tentativa de golpe militar, Lee prometeu acabar de vez com a interferência dos militares na política. "Vou restaurar a democracia e construir uma república onde os cidadãos vivam não com ódio e medo, mas com dignidade e cooperação."Lee Jae-myung, que irá cumprir um mandato único de cinco anos, deverá tentar mudar a Constituição de forma a que o seu sucessor passe a ter quatro anos em funções e possa recandidatar-se uma vez. Outra alteração proposta é a nomeação parlamentar do primeiro-ministro. "A responsabilidade do presidente deve ser reforçada e os poderes devem ser descentralizados", afirmou em campanha.PerfilDerrotado em 2022 por Yoon Suk Yeol, o presidente destituído depois de ter proclamado a lei marcial, Lee Jae-myung, de 60 anos, também tem os seus problemas com a justiça: nada menos do que cinco processos em tribunal. Mas o novo presidente é um sobrevivente. Aos 13 anos, o seu braço esquerdo foi esmagado num acidente de na fábrica em que trabalhava desde os 11 anos. Tentou o suicídio, mas falhou e acabou por recuperar. Foi trabalhador-estudante e conseguiu formar-se como advogado de direitos humanos graças a uma bolsa. Na política foi presidente de Câmara e governador até ganhar popularidade como opositor da presidente Park Geun-hye, que acabou por ser destituída por corrupção.