Nova versão da resolução para um "cessar-fogo imediato" em Gaza votada hoje na ONU
O Conselho de Segurança das Nações Unidas deverá votar este sábado uma nova resolução a pedir um “cessar-fogo imediato” na Faixa de Gaza, depois de uma primeira proposta dos EUA ter sido vetada ontem pela Rússia e pela China devido à linguagem ambígua do texto. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, que esteve em Israel, acusou Moscovo e Pequim de usarem de forma “cínica” o direito de veto - apesar de, desde o início da guerra, Washington já ter usado esse mesmo poder em três ocasiões. E que poderá voltar a usar já este sábado, diante do texto mais forte proposto pelos dez membros não-permanentes.
A resolução norte-americana dizia ser “imperativo” um “cessar-fogo imediato e sustentado” diante da “necessidade urgente de alargar o fluxo da ajuda humanitária” a todos os civis, defendendo o levantar de “todas as barreiras” à entrega dessa mesma ajuda dentro do enclave palestiniano. Condenava ainda todos os atos de terrorismo, incluindo o ataque do Hamas de 7 de outubro, exigindo o acesso a todos os reféns que este grupo ainda tem.
O texto recebeu três votos negativos: Rússia e China (ambos membros permanentes com direito de veto) e Argélia - autora das resoluções passadas sobre o tema. Teve ainda a abstenção da Guiana. O embaixador russo nas Nações Unidas, Vasily Nebenzia, acusou os EUA de tentarem “vender um produto” ao usar a palavra “imperativo” na resolução e de tentarem “enganar propositadamente a comunidade internacional”. E defendeu que isso “não é suficiente”, sendo necessário “exigir um cessar-fogo”.
O embaixador chinês, Zhang Jun, defendeu que o mínimo que o Conselho de Segurança deve fazer é apelar a um cessar-fogo imediato e incondicional, criticando EUA e Reino Unido que apelidaram de “hipócrita” o veto de Moscovo e Pequim. O embaixador chinês defendeu ainda que a nova versão do texto, que já estava ontem a circular, era muito mais clara nesse sentido. O representante argelino, Amar Bendjama, considerou que a resolução norte-americana iria dar luz verde à “continuação do derramamento de sangue”.
A embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield, defendeu que o novo texto que pode ser votado já hoje não apoia as negociações que estão a decorrer no Qatar, dando uma desculpa ao Hamas para deixar cair o acordo que está em cima da mesa. O que pode significar que os EUA se preparam para vetar esse texto, como fizeram no passado a outras resoluções que pediam um “cessar-fogo imediato” em Gaza.
O Hamas agradeceu o veto e a rejeição da “tendenciosa resolução norte-americana”. Em comunicado, o grupo terrorista alegou que a proposta continha “texto enganoso que é cúmplice” de Israel e “concede cobertura e legitimidade para uma guerra genocida contra o povo palestiniano na Faixa de Gaza”.
O secretário de Estado dos EUA esteve esta sexta-feira em Telavive com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Este insistiu que Israel não pode vencer o Hamas sem entrar em Rafah e que espera fazê-lo com o apoio dos EUA. “Mas, se for necessário, fá-lo-emos sozinhos”, disse. Blinken avisou que uma ofensiva de larga escala nessa cidade no sul da Faixa de Gaza arrisca deixar Israel ainda mais isolado.
susana.f.salvador@dn.pt