Uma apoiante de Noboa entre figuras de cartão em tamanho real do presidente.
Uma apoiante de Noboa entre figuras de cartão em tamanho real do presidente.EPA/JOSE JACOME

Noboa favorito à reeleição no Equador apesar da violência e da crise energética

Algumas sondagens colocam o presidente como vencedor já na primeira volta. A principal adversária é a "correísta" Luísa González, que espera forçar uma segunda volta a 13 de abril.
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Com outro presidente, os cortes da luz durante mais de 14 horas por dia, a tortura e morte de quatro adolescentes depois de terem sido levados por militares ou a guerra aberta com a vice-presidente e as acusações de autoritarismo podiam ter sido motivo para crises políticas e baixa popularidade. Mas nada parece abalar o equatoriano Daniel Noboa, que algumas sondagens dizem que poderá vencer já à primeira volta as eleições desde domingo.

Noboa foi eleito presidente há apenas 15 meses, para terminar o mandato de Guillermo Lasso. O ex-presidente, ameaçado de impeachment, desencadeou pela primeira vez o mecanismo conhecido como "morte cruzada" - que o fez cair, mas também à Assembleia Nacional que o queria derrubar.

Agora, Noboa quer ser eleito para um mandato completo, que os seus apoiantes alegam ser necessário para poder levar a cabo a sua visão do país – que passa por uma maior aproximação aos EUA, o seu país natal.

O jovem empresário de 37 anos – que em 2023 foi o mais jovem presidente eleito do Equador – é herdeiro da fortuna da indústria das bananas do pai, que foi por cinco vezes candidato à presidência.

Nascido em Miami, o atual presidente – que prefere as redes sociais aos discursos e é popular entre os mais jovens – espera que o seu plano para enfrentar os cortes de energia (causados pela seca que esvaziou as barragens) e mão dura contra o crime (está a construir uma prisão de alta segurança ao estilo da que Nayib Bukele criou em El Salvador) sejam suficientes para garantir a vitória à primeira volta.

Mas, para isso, o candidato da Ação Democrática Nacional precisaria de ter mais de 50% dos votos ou 40% com uma vantagem de dez pontos em relação ao principal adversário. Caso isso não aconteça, haverá uma segunda volta a 13 de abril.

Apesar de ter 15 adversários, a única verdadeira ameaça é da "correísta" Luisa González – a candidata da Revolução Cidadã, do ex-presidente Rafael Correa. Os dois já se enfrentaram nas eleições de 2023, tendo Noboa ganho por menos de 400 mil votos na segunda volta.

Luísa González em campanha no Equador.
Luísa González em campanha no Equador.EPA/JONATHAN MIRANDA

A sondagem Ipsos dá 45,5% de intenções de voto a Noboa, frente a 31,3% de González. Já a Informe Confidencial coloca o presidente com 37%, com González a não ir além dos 29% - a margem que vale, historicamente, o "correísmo", com a advogada a parecer incapaz de ir mais além.

O voto neste país de 18 milhões de habitantes é obrigatório para os cidadãos entre os 18 e os 64 anos, e opcional entre os 16 e os 17 e a partir dos 65. O presidente, que tem governado muito por decreto, espera que as eleições lhe garantam também o controlo da Assembleia Nacional, onde a Revolução Cidadã tem o maior número de lugares (48 em 137). O número de lugares vai subir para 151.

Violência

O maior problema para os equatorianos é a insegurança, com o aumento do crime organizado – potenciado pela falta de emprego entre os jovens, que ficaram vulneráveis diantes dos grupos de narcotráfico vindos do México, da Colômbia e até dos Balcãs.

Em janeiro do ano passado, o presidente declarou a "guerra" contra estes grupos (declarou 22 organizações como "terroristas"), colocando os militares a fazerem também o trabalho das forças de segurança.

Noboa lembra que as mortes violentas caíram 15% no ano passado (de 8237 em 2023 para 6962 em 2024) e que o seu objetivo "não se pode conseguir num ano", mas os críticos dizem que ainda continua acima dos valores pré-pandémicos e os especialistas dizem que no final do ano estava a aproximar-se de números homólogos do ano anterior.

A taxa de homicídios é de 47,2 por cada cem mil habitantes, a mais elevada na América Latina e oito vezes superior à de 2016. E estão também a aumentar os casos de extorsão e de raptos.

Os quatro adolescentes que foram mortos.
Os quatro adolescentes que foram mortos.EPA/Mauricio Torres

Além disso, o poder reforçado dos militares gera receios de abusos. O caso mais grave envolve quatro adolescentes, que desapareceram na cidade portuária de Gayaquil e as imagens de videovigilância mostraram a serem levados por um veículo militar. Os corpos carbonizados acabariam por ser encontrados perto de uma base militar, com 16 soldados a serem detidos. O ministro da Defesa pediu desculpas às famílias.

Noboa, que esteve na tomada de posse de Donald Trump, quer melhorar as relações com os EUA e estará a equacionar mudar a Constituição para pôr fim à proibição de instalação de bases militares estrangeiras no país. Uma proibição criada durante a presidência de Correa, para afastar os EUA, que se considera contudo ser crucial para combater grupos criminosos organizados. O Equador é um dos países que aceitou os voos de deportação de imigrantes ilegais vindos dos EUA.

A violência é o principal problema, à frente das questões económicas. Isto apesar de 25% da população viver na pobreza, segundo os dados oficiais. A crise energética também não ajudou, com cortes de eletricidade de mais de 14 horas – uma situação que se poderá repetir este ano, por causa da seca.

A "guerra" com a vice-presidente

A vice-presidente Veronica Abad
A vice-presidente Veronica AbadEPA/JOSE JACOME

O presidente envolveu-se num desentendimento público com a vice-presidente Veronica Abad ainda antes de tomarem posse. As origens do feudo não são conhecidas, mas Noboa acabaria por nomeá-la embaixadora em Israel – de forma a afastá-la do país. Abad falou num "exílio forçado" e recusou uma ordem para mudar-se para a Turquia, por questões de segurança durante a guerra em Gaza.

O Ministério do Trabalho acabaria por suspender Abad, algo que o tribunal revogou, considerandoa medida inconstitucional (ela, tal como o presidente, foi eleita). Ainda assim, Noboa optou por nomear uma vice-presidente interina, Cynthia Gellibert (também ministra da Administração Pública).

A decisão prendia-se com o facto de, segundo a legislação equatoriana, os candidatos terem que deixar o cargo público que desempenham para poder fazer campanha – o que significaria que Noboa teria que entregar o poder na mão da vice.

Noboa no comício final de campanha para as eleições o Equador.
Noboa no comício final de campanha para as eleições o Equador.EPA/JOSE JACOME

Contudo, o presidente acabou por não pedir licença à Assembleia Nacional, optando por emitir uma série de decretos onde comunicava que se ausentava e passava o poder em Gellibert, por períodos máximos de quatro dias que usou para fazer campanha. Contudo, um tribunal considerou estes decretos inconsticionais, mas Noboa ignorou essa ordem. Abad reclama ações contra o presidente.

Sem Noboa, tornaram-se virais as figuras de cartão em tamanho real de Noboa (de fato e faixa presidencial, mas também em T-shirt e jeans ou em calções), que os seus apoiantes usaram para fazer vídeos e fotos que partilharam nas redes sociais.

Apoiante de Noboa com uma das figuras em cartão do presidente.
Apoiante de Noboa com uma das figuras em cartão do presidente. EPA/CARLOS DURAN ARAUJO

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