O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, será esta terça-feira o primeiro líder estrangeiro a ser recebido pelo presidente norte-americano, Donald Trump, na Casa Branca. Algo que, antes de deixar Israel no domingo, considerou ser “revelador” e um “testemunho da força” da sua “amizade pessoal” com o milionário. Mas a relação entre ambos nem sempre foi boa - basta lembrar que Netanyahu reconheceu a vitória de Joe Biden nas eleições de 2020, algo que Trump viu como uma “traição”. “A primeira pessoa que felicitou [Biden] foi Bibi Netanyahu, o homem por quem fiz mais do que qualquer outra pessoa com quem lidei. ... Bibi podia ter ficado calado. Cometeu um erro terrível”, disse Trump numa entrevista em 2021 ao jornalista israelita Barak Ravid, autor de um livro sobre os Acordos de Abraão. Estes acordos, que permitiram a normalização das relações de Israel com vários países árabes, foram uma das conquistas do presidente durante o primeiro mandato. .Trump dá empurrão ao cessar-fogo antes do encontro com Netanyahu.Netanyahu diz que reféns libertadas "passaram por um inferno". Trump também retirou os EUA do acordo nuclear com o Irão, que era criticado por Netanyahu, mudou a embaixada para Jerusalém e reconheceu os montes Golã (território ocupado da Síria) como sendo parte de Israel. O primeiro-ministro israelita também usou a proximidade ao presidente norte-americano como arma política interna - algo que também está a tentar fazer agora.Daí que o vídeo de Netanyahu a dar os parabéns a Biden pela vitória cerca de 12 horas depois de esta ter sido declarada pelas televisões (não foi o primeiro, ao contrário do que Trump disse) não tenha caído bem. “Eu gostava do Bibi, ainda gosto do Bibi. Mas também gosto de lealdade”, afirmou o milionário na entrevista de dezembro de 2021. Netanyahu procurou recuperar a amizade, reunindo-se com Trump ainda antes de ele ser eleito. Ainda assim, há menos de um mês, o republicano partilhou nas redes sociais um vídeo do economista norte-americano Jeffrey Sachs a dizer que Netanyahu era um “profundo e sombrio filho da mãe”. Os EUA estavam na altura a pressionar Israel para assinar o acordo de cessar-fogo, tendo Trump reivindicado depois que este só era possível por sua causa. Ser convidado para ser o primeiro a visitar Washington após a tomada de posse parece mostrar que a “traição” ficou no passado. Netanyahu chegou a dizer que Trump era “o melhor amigo que Israel alguma vez tinha tido na Casa Branca”, com este a devolver o elogio ao oferecer-lhe uma “chave dourada” deste edifício. E quando voltou ao poder apressou-se a retomar o envio de armas para Israel (que Biden tinha suspendido nos últimos meses) e a levantar as sanções contra os colonatos israelitas na Cisjordânia ocupada. O encontro desta terça-feira, que está previsto para as 18.00 locais (23.00 em Lisboa), deverá ser seguido de um jantar. Mas antes, segundo a imprensa israelita, Trump vai ver o documentário sobre as atrocidades do Hamas no ataque de 7 de outubro de 2023. Na agenda da reunião estará discutir “a vitória sobre o Hamas”, como referiu Netanyahu, numa altura em que está previsto começarem as negociações para a segunda fase do acordo de cessar-fogo. A primeira fase termina no final deste mês e a segunda implicará o fim das hostilidades, assim como a libertação dos restantes reféns - o Hamas já disse estar pronto para o diálogo. A discussão deverá ainda focar-se no Irão e no eventual normalizar das relações entre Israel e a Arábia Saudita, o próximo passo dos Acordos de Abraão que caiu por terra com os ataques do Hamas e a invasão da Faixa de Gaza. “As decisões que tomámos na guerra já mudaram a face do Médio Oriente”, disse Netanyahu ainda em Israel, “As nossas decisões e a coragem dos nossos soldados redesenharam o mapa. Mas acredito que, trabalhando em estreita colaboração com o presidente Trump, podemos redesenhar ainda mais e para melhor.”