“Levaste os meus filhos”, gritaram várias pessoas quando o primeiro-ministro israelita discursava.
“Levaste os meus filhos”, gritaram várias pessoas quando o primeiro-ministro israelita discursava.GIL COHEN-MAGEN / POOL / AFP

Netanyahu diz que não vai parar e ataca a norte e a sul

No dia de homenagem aos soldados mortos, líder israelita não dá sinais de trégua. Egito junta-se ao caso de África do Sul no Tribunal Internacional de Justiça, em Haia.
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As forças israelitas intensificaram as operações militares quer no norte, quer no sul da Faixa de Gaza, no dia em que o país comemorou o Dia da Memória pelos soldados e civis mortos em guerra ou em atos hostis. Benjamin Netanyahu reiterou que Israel “não vai parar até ao colapso do regime terrorista do Hamas”.

No Cemitério Nacional de Israel, no Monte Herzl, no discurso de homenagem aos caídos pela pátria, o chefe do Governo ignorou a dura mensagem da véspera do chefe da diplomacia norte-americana Antony Blinken sobre a condução da guerra pelo seu aliado. Sob protestos de parte do público, Netanyahu prometeu continuar com uma resposta dura aos atentados de 7 de outubro: “Vingar-nos-emos dos que perpetraram o ataque, até ao último deles. Destruiremos as suas armas para que não as possam levantar contra Israel.” Prosseguiu: “Esta guerra é exatamente sobre isso. Ou somos nós, Israel, ou eles, os monstros do Hamas. Ou é a existência, a liberdade, a segurança e a prosperidade, ou a tortura, o massacre, a violação e a escravatura.”

No terreno, foram registados ataques e bombardeamentos de artilharia pesada a leste de Rafah, de onde saíram 360 mil pessoas nos últimos dias, bem como combates em Jabalia, no norte de Gaza, e no bairro de Zeitun, na cidade de Gaza. 

Em Rafah, um veículo da ONU que se dirigia para o Hospital Europeu foi atacado, levando à morte de um funcionário estrangeiro das Nações Unidas, o primeiro não-palestiniano da ONU a morrer durante o conflito. O ataque foi condenado por  Farhan Haq, porta-voz de António Guterres.

Cairo junta-se a Pretória

No domingo, o Egito anunciou a intenção de se juntar formalmente à África do Sul no processo de genocídio contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia. Em comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Cairo afirmou que a sua decisão de apoiar o caso surge “à luz do agravamento da gravidade e do alcance dos ataques israelitas contra civis palestinianos na Faixa de Gaza”. O texto diz ainda que Israel tem sistematicamente “atingido civis e destruído infraestruturas” e “forçado os palestinianos a deslocarem-se e a serem expulsos”.

Depois de ter apresentado o caso ao TIJ em dezembro, e este ter sido aceite em janeiro pelo painel de 15 juízes, outros 27 países juntaram-se ao caso, incluindo as Maldivas, que também anunciaram o apoio formal nas últimas horas. Na sexta-feira, no seu mais recente recurso ao TIJ, a África do Sul voltou a acusar Israel de “violações contínuas da Convenção sobre o Genocídio” e “desprezo” pelo Direito Internacional.

O anúncio do Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio acontece numa altura em que as tropas israelitas continuam a operar ao longo da fronteira Egito-Gaza depois de terem capturado o lado palestiniano da passagem de Rafah. Desde então, o Egito tem-se recusado a coordenar a entrada de ajuda, e continua a recusar abrir a fronteira aos habitantes de Gaza que procuram refúgio.

O Cairo tem sido palco de conversações de paz, mas em paralelo o Egito tem criticado a atuação de Telavive. A tensão aumentou nos últimos dias devido ao cenário de uma invasão terrestre em Rafah. Em telefonema ao secretário de Estado dos EUA, o homólogo egípcio Sameh Shukri, alertou para os “os graves riscos de segurança decorrentes da continuação das operações militares israelitas”. Em fevereiro, as autoridades egípcias advertiram, em notícia do Wall Street Journal, que o tratado de paz assinado em 1979 com Israel poderia ser suspenso se as tropas israelitas entrassem em Rafah ou se os refugiados daquela cidade fossem forçados a dirigir-se para o seu país.

cesar.avo@dn.pt

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