“Não sei como é que um judeu pode votar nela”, diz Trump de Harris
Benjamin Netanyahu terminou a sua visita aos Estados Unidos com uma viagem à Florida para se encontrar com o candidato republicano, Donald Trump. Este aproveitou a ocasião para criticar a provável adversária, Kamala Harris, e disse que consigo na Casa Branca “tudo se vai resolver e muito depressa”.
Na véspera, em entrevista à Fox News, Donald Trump instou Israel a “acabar” com a guerra em Gaza. “Temos de acabar com isto rapidamente. Isto não pode continuar. Está a demorar demasiado tempo”, disse, justificando a urgência pela má imagem que dá a Telavive. “Israel tem de tratar das suas relações públicas. As suas relações públicas não são boas. E têm de fazer isto rapidamente, porque o mundo não está a aceitar isto de ânimo leve”, comentou.
“Se ganharmos, será muito simples. Tudo se vai resolver e muito rapidamente. Se não ganharmos, vamos acabar por ter grandes guerras no Médio Oriente e talvez uma terceira Guerra Mundial. Neste momento, estamos mais perto de uma Terceira Guerra Mundial do que em qualquer outra altura desde a Segunda Guerra. Nunca estivemos tão perto, porque temos pessoas incompetentes a governar o nosso país”, disse Trump ao receber Netanyahu.
De acordo com uma nota da campanha de Trump, este aproveitou para criticar Kamala Harris pela suas declarações no final do encontro da vice-presidente dos EUA com o primeiro-ministro israelita. “Acho que os comentários dela foram desrespeitosos. Não foram muito simpáticos em relação a Israel. Na verdade, não sei como é que uma pessoa judia pode votar nela. Mas isso é com eles. Mas ela foi certamente desrespeitosa para com Israel”, disse Trump.
Este já tinha dito que a vice-presidente é “totalmente contra o povo judeu” pelo facto de não ter presidido ao discurso de Netanyahu no Congresso, na quarta-feira. Kamala Harris preferiu não anular uma viagem de campanha ao Estado do Indiana, tendo acabado por se reunir na quinta-feira com o líder israelita. No final do encontro, esteve à vista o contraste com a troca calorosa de palavras entre Joe Biden e Netanyahu na Sala Oval. A presumível candidata democrata à presidência classificou a conversa de “franca e construtiva”.
Tal como Trump disse horas depois, defendeu o fim da guerra, mas realçou que não ficaria “em silêncio” sobre o sofrimento em Gaza. “O que aconteceu em Gaza nos últimos nove meses é devastador”, afirmou. “Não podemos desviar o olhar destas tragédias. Não podemos permitir que nos tornemos insensíveis ao sofrimento.” Kamala Harris referiu-se às “crianças mortas” e às “pessoas desesperadas e esfomeadas que fogem em busca de segurança”.
Por outro lado, Harris insistiu no direito de Israel a defender-se e apelou à assinatura de um cessar-fogo com o Hamas e à libertação dos reféns. “Como acabei de dizer ao primeiro-ministro Netanyahu, é altura de concluir este acordo”, referindo-se à iniciativa diplomática do presidente Biden. Estas declarações foram recebidas por alguns setores israelitas com críticas, tendo alegado que poderiam complicar os esforços para chegar a um acordo com o Hamas.
A visita de Netanyahu - contestada nas ruas - deixou clara a necessidade de o chefe do Governo israelita não perder quaisquer apoios, seja nos restantes seis meses de mandato de Biden, seja com o futuro presidente, seja quem for. Também Harris, que tem uma posição mais distanciada em relação a Israel, tem um caminho estreito a percorrer para não alienar fatias importantes do eleitorado. “A guerra em Gaza não é uma questão binária. Mas, muitas vezes, a conversa é binária, quando a realidade é tudo menos isso”, disse.
Democrata recebe o apoio que faltava
Foi através de um vídeo publicado no X na sexta-feira, mas de uma data anterior, que o casal Barack e Michelle Obama demonstrou o seu apoio à candidatura de Kamala Harris à presidência. Nele vê-se a vice-presidente a responder a um telefonema no qual ex-presidente e a antiga primeira-dama se afirmam orgulhosos de estar com Harris. “Michelle, Barack, isto significa tanto para mim que mal posso esperar para o partilhar convosco. Mas, acima de tudo, quero dizer-vos que as vossas palavras e a amizade que me têm dado ao longo dos anos significam mais do que consigo exprimir.”
Ao contrário do que era esperado nas primeiras horas após o anúncio de Joe Biden de que não iria tentar a reeleição, numa convenção aberta, o Comité Nacional Democrata decidiu antecipar a escolha até 7 de agosto, através de uma votação eletrónica. Segundo a Associated Press, Harris tem o apoio de pelo menos 3284 dos cerca de 4000 delegados. O prazo para outras candidaturas termina neste sábado.
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