As eleições legislativas belgas realizaram-se no dia 9 de junho, tendo coincidido com as Europeias e, ao fim de quase oito meses, foi formado um governo de coligação chefiado por Bart De Wever, o líder do partido nacionalista e conservador flamengo (N-VA). Apesar de já ter feito parte do governo de coligação de Charles Michel entre 2014 e 2018, é a primeira vez que o partido que pugna pela secessão da Flandres tem as chaves do poder.De Wever, de 54 anos, presidente da Câmara de Antuérpia desde 2013, tinha imposto como limite a data de 31 de janeiro para se chegar a um acordo ou iria renunciar ao cargo de primeiro-ministro. Foi recebido pelo rei Filipe às 22.00 horas de sexta-feira para informar que o acordo entre cinco partidos estava selado. Na sua memória -- e na de muitos belgas -- estaria decerto a mais longa crise política, entre 2010 e 2011, resultado da vitória de De Wever. À época as ondas de choque da vitória do partido nacionalista flamengo impediram um acordo de governo com a sua presença: ao fim de ano e meio, os socialistas, segundos classificados, lideraram o executivo federal. Os meios de comunicação dizem que desta vez o quebra-cabeças da coligação necessitou de 60 horas de negociações para ser resolvido, após sete meses de inatividade, período no qual o liberal Alexander De Croo se manteve em funções. Do seu governo transitaram dois ministros (o socialista Frank Vandenbroucke na Saúde e a democrata-cristã Annelies Verlinden, que trocou o Interior pela Justiça).Estes e outros 12 ministros tomaram posse no palácio real, perante o monarca. O princípio da paridade de género não foi respeitado, uma vez que só há quatro ministras.Com a pulsão secessionista domada (na véspera das eleições De Wever dizia que, se o federalismo funcionar, a independência da Flandres já não será necessária), as políticas governamentais deverão ter como prioridade aplacar o défice de 4,6% do PIB. É de esperar uma guinada à direita em temas como o subsídio de desemprego, que passará a estar limitado a dois anos quando agora não tem limitação temporal. Na segurança, o novo governo abriu portas à utilização do reconhecimento facial através de Inteligência Artificial para “deteção de condenados e suspeitos”.