Depois da China, Canadá e México, a fúria protecionista de Donald Trump vira-se para a Europa. Em específico, para a União Europeia. No domingo à noite, o presidente norte-americano voltou a queixar-se dos europeus e reiterou que, “em breve”, imporá taxas aduaneiras. Bruxelas aposta nas negociações em paralelo com uma retaliação, tal como a presidente mexicana fez. Questionado sobre se planeia aplicar tarifas sobre produtos originários do Reino Unido, Trump virou-se para o continente europeu: “Pode acontecer, mas vai definitivamente acontecer com a União Europeia. Posso dizer-vos isso, porque eles realmente têm aproveitado. Temos um défice de mais de 300 mil milhões de dólares. A União Europeia, é uma atrocidade o que fizeram.” As mais recentes estatísticas, referentes a 2024, e disponibilizadas pelo governo dos EUA, indicam que a balança comercial é favorável à UE em 213 mil milhões de dólares (207 mil milhões de euros). ."Estão a aproveitar-se de nós." Trump vai impor taxas aduaneiras sobre produtos europeus "muito em breve" .As ameaças a Bruxelas tomaram forma um mês antes de tomar posse. Numa mensagem no Truth Social, Trump disse que a UE deveria “compensar o seu tremendo défice [sic] com os EUA através da compra em grande escala” de petróleo e gás norte-americano ou sofrer as consequências com a imposição de taxas. No mandato anterior de Trump, este impôs taxas ao aço e alumínio europeus, bem como ao vinho e bebidas espirituosas, ao que a UE respondeu com impostos sobre a importação das motos Harley Davidson, por exemplo. “A guerra comercial que já tinha iniciado em 2018-2019, na altura mais tímida, não criou empregos, não contribuiu para reduzir o défice externo americano, e pelo contrário aumentou”, notou o economista Antoine Bouët, citado pela Franceinfo. As tarifas acabaram por ser revertidas por Joe Biden. .“Se formos atacados em matéria comercial, a Europa, enquanto potência que se mantém firme, terá de se fazer respeitar e, por conseguinte, reagir.”Emmanuel Macron. Muitos líderes pronunciaram-se sobre a provável aplicação de taxas a produtos europeus por parte dos EUA, mas coube ao primeiro-ministro polaco e presidente do Conselho da UE o comentário mais profundo. Para Donald Tusk, numa altura de “ameaça russa direta e de expansão chinesa”, seria “um paradoxo cruel” encontrar razões para conflitos entre aliados. “Acho que temos de fazer de tudo para evitar esta guerra tarifária ou comercial totalmente desnecessária e estúpida”, disse aos jornalistas no retiro promovido pelo presidente do Conselho Europeu, António Costa. “Durante as nossas possíveis conversas com os amigos norte-americanos, penso que não podemos perder o bom senso, a consciência dos nossos interesses, mas, ao mesmo tempo, não podemos perder o nosso amor-próprio europeu.”À agência Efe, Norbert Rücker, do banco privado suíço Julius Baer, considera que as tarifas são “um instrumento de choque” usado pelo presidente dos Estados Unidos para obter concessões negociais e não acredita que as medidas sejam para manter, tendo em conta os impactos inflacionistas nos EUA e deflacionistas fora do mercado norte-americano. É nesse contexto que pode ser vista a suspensão da imposição de taxas ao México. Após uma conversa telefónica entre Trump e a presidente mexicana Claudia Sheinbaum, esta anunciou que o governo vai enviara 10 mil agentes da Guarda Nacional para o norte do país, com o objetivo de controlar o tráfico de droga - em especial de fentanilo - e que em troca Washington vai reprimir o tráfico de armas de fogo com destino ao México. Durante o período de suspensão de um mês, os governos vão entrar em negociações mais pormenorizadas. .“A boa notícia é que, nas nossas conversações no fim de semana, uma das coisas que notámos é que os mexicanos levaram muito, muito a sério em fazer o que o presidente Trump disse.” Kevin Hassett, diretor do Conselho Económico da Casa Branca. Já o Canadá -- que tem sentido a retórica de Trump sobre o país converter-se no 51.º estado como uma ameaça à sua soberania -- respondeu de forma mais dura. Além de ter retaliado de pronto com 25% de taxas aduaneiras em produtos no valor de 106 mil milhões de dólares, o governo da província de Ontário rasgou um contrato com a empresa Starlink de Elon Musk e a compra de bebidas alcoólicas (que é feita de forma centralizada) dos EUA foi cancelada.Bolsas em quedaA bolsa norte-americana abriu em queda, tendo recuperado em parte com a suspensão das taxas aos produtos mexicanos. O mesmo não aconteceu na Europa e no Japão. As construtoras automóveis, as empresas tecnológicas e de serviços financeiros foram as mais afetadas. As criptomoedas também sofreram com as ondas de choque das tarifas de Trump.