Será que a burocracia de Washington D.C. se tornou um obstáculo impossível de ultrapassar para Elon Musk? E será que o milionário estará pronto a desistir do trabalho no Departamento de Eficiência Governamental (conhecido como DOGE) para se dedicar às suas inúmeras empresas, algumas a atravessar momentos difíceis?“A situação da burocracia federal é muito pior do que eu imaginava”, disse Musk numa entrevista ao jornal The Washington Post. “Achei que havia problemas, mas é certamente uma batalha árdua tentar melhorar as coisas em D.C., para dizer o mínimo”, acrescentou o milionário, sem falar em desistência, mas numa mudança de foco — dos cortes nas pessoas (250 mil funcionários já ficaram sem trabalho) à burocracia do sistema informático.Ainda assim, no sábado, Musk escreveu no X que estava “de volta a passar 24 horas por dia, 7 dias por semana no trabalho e a dormir em salas de conferências/servidores/fábricas”. O milionário disse que tinha de estar “superfocado” no X e na Tesla, além do lançamento da Starship — que acabou por não correr a 100% esta terça-feira — “porque temos tecnologias críticas a serem implementadas”..No mês passado, já tinha anunciado que ia cortar a sua presença em Washington a partir do final de maio, mas disse que ainda iria continuar dedicado “um ou dois dias por semana” ao DOGE, que foi encarregado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, de cortar nos gastos federais. Mas será que nem isso?Farto da política?O homem que tem sido presença constante ao lado de Trump na Casa Branca parece estar a fartar-se da política. Numa entrevista durante o Fórum Económico do Qatar, Musk revelou, por exemplo, que vai cortar nas doações políticas. “Vou fazer muito menos, daqui para frente. Acho que já fiz o suficiente”, afirmou o milionário, que foi o maior doador individual nas eleições de 2024, desembolsando 290 milhões de dólares em apoio a Trump. “Se eu vir um motivo para gastar com política no futuro, farei isso. Mas, no momento, não vejo razão", indicou.No mês passado, sofreu um forte revés quando um candidato que apoiou para o Supremo Tribunal do Wisconsin não foi eleito.E o presidente norte-americano também parece estar a fartar-se dele. O site Politico publicou na semana passada um artigo a perguntar: “Por que é que Musk desapareceu dos holofotes?” E referia que Trump passou de citá-lo a cada dois ou três dias na Truth Social a já não falar nele há mais de um mês.Isto numa altura em que a popularidade de Musk está em queda, sendo mais impopular que o presidente. 60% dos inquiridos numa sondagem da Universidade Marquette, no início de abril, tinham uma opinião desfavorável do milionário. Em relação ao seu trabalho no DOGE, apenas 41% o aprovavam.E o que se passa com o DOGE?O departamento liderado por Musk, que ficou responsável por ajudar a limpar o "pântano" de Washington, parece ter ficado para segundo plano diante das tarifas que o presidente anunciou e da guerra comercial que desencadeou, além da Lei Grande e Bonita aprovada pelo Congresso por apenas um voto de diferença. Duas políticas que Musk criticou.Em relação às tarifas, lembrou que é a favor do “livre comércio” e de “tarifas baixas”, defendendo mesmo tarifas zero entre os EUA e a União Europeia. Quanto à Lei do Orçamento, o milionário disse, numa entrevista à CBS (que será transmitida na totalidade só no próximo domingo), estar “desapontado”, considerando que ela contradiz tudo o que fez no DOGE.A promessa era “combater o desperdício, a fraude e o abuso”, e poupar dois biliões de dólares no Orçamento Federal. Para isso, foram fechadas ou esvaziadas de sentido 11 agências federais e cerca de 250 mil funcionários ficaram sem emprego. Segundo a página oficial do DOGE, o trabalho do departamento já terá permitido poupar 175 mil milhões de dólares (1086,96 dólares a cada contribuinte norte-americano) numa combinação de vendas de ativos, cancelamentos e renegociações de contratos/arrendamentos, fraude e exclusão de pagamentos indevidos, cancelamentos de subsídios, poupança de juros, alterações programáticas, poupança regulatória e reduções de força de trabalho. Mas está longe dos dois biliões prometidos e as contas na página oficial nem sempre são corretas, já tendo sido corrigidas em várias ocasiões após serem apontados erros pelos media norte-americanos. Além disso, segundo o modelo orçamental apartidário da Penn Wharton, que monitoriza os dados semanais do Tesouro, os gastos totais da Administração aumentaram. E a dívida pública está apenas ligeiramente abaixo do que estava há um ano. O facto de Musk poder estar menos visível no DOGE não significa, contudo, que não mantenha a sua presença, até porque os críticos alertam para o facto de o chatbot de Inteligência Artificial generativa desenvolvido pela xAI — o Grok — estar a ser usado extensivamente pelo departamento. O que levanta questões sobre a proteção de dados sensíveis dos norte-americanos, que podem estar a ser aproveitados pelo próprio Musk nas suas empresas.Bode expiatórioNa entrevista ao diário The Washington Post, o milionário lamentou que o DOGE se tenha tornado “o bode expiatório de tudo”, culpado pelo que acontece de mal em qualquer lugar, mesmo que não tenha nada a ver com isso. Os democratas, sem grandes argumentos contra Trump, viraram o seu foco para Musk e o DOGE, confiantes de que a ligação do milionário ao presidente vai acabar por trazer problemas. Além disso, foram interpostos vários processos judiciais para tentar dificultar o seu trabalho ou até mesmo pô-lo em causa, considerando que não tem poder para fazer o que fez.Musk também lamentou, na entrevista, que as suas empresas tenham sido afetadas, falando nomeadamente nos casos de Teslas que foram queimados. A empresa de carros elétricos tem sido uma das vítimas do envolvimento do milionário com a política. Na Europa, por exemplo, as vendas caíram para metade em abril, quando comparadas com o mesmo mês do ano passado, enquanto a de outras marcas de carros elétricos subiram 28%.Além da queda em bolsa, que tem sido constante. Curiosamente, bastou a mensagem de Musk a dizer que ia dedicar-se mais às empresas para as ações da Tesla subirem 7%. Além de ser dono do X e da Tesla, Musk também tem a SpaceX.Problemas na StarshipAs entrevistas ao The Washington Post e à CBS, assim como muitas outras esta semana, foram feitas nos escritórios da SpaceX, no Texas, antes de mais um lançamento da Starship, na terça-feira à noite. E que, mais uma vez, não teve sucesso.O foguetão, que um dia se espera que possa transportar 100 pessoas, em voos de longa duração, ou levar 100 toneladas de carga para Marte, acabou por explodir (é o terceiro teste consecutivo em que isso acontece). O ponto positivo é que a explosão não foi imediata, mas depois de ter estado 46 minutos em órbita.Mas, noutra má notícia, o propulsor Super Heavy — que estava a ser reutilizado pela primeira vez — perdeu-se no Golfo do México, em vez de regressar à plataforma de lançamento. Ainda assim, Musk mostrou-se confiante no progresso, anunciando que os próximos três testes vão acontecer ao ritmo de um a cada três ou quatro semanas.