Durante 79 dias, uma tocha percorreu as 11 províncias de Moçambique, uma iniciativa denominada Marcha da Chama da Unidade, e que culmina nesta quarta-feira com a chegada ao estádio da Machava. Foi nesse local, na Matola, que Samora Machel proclamou a independência do país há 50 anos - e é aí que o atual chefe de Estado, Daniel Chapo, preside às cerimónias oficiais, com a presença de 32 homólogos, Marcelo Rebelo de Sousa incluído, entre 40 mil pessoas.“Passavam alguns minutos das zero horas de 25 de junho de 1975 quando um novo país nasceu para a comunidade mundial: Moçambique. A bandeira portuguesa foi solenemente arreada do mastro simbólico no estádio da Machava. Um marinheiro recolheu-a numa bandeja de prata, que um oficial do exército, ladeado por outro da força aérea, segurara”, lia-se na primeira página da a edição de dia 26 do DN. No discurso de proclamação, Samora Machel confirmava que o regime “colonial-fascista” era substituído por outro dominado pelo movimento criado em 1962 resultante da fusão de três movimentos nacionalistas e que teve como primeiro líder Eduardo Mondlane. “República Popular de Moçambique, estado do povo trabalhador moçambicano, será dirigido pela Frelimo”; “Em todos os níveis será afirmada a primazia das decisões e estrutura do partido sobre as do Governo”, afirmou..Horas depois, o líder da Frelimo foi investido presidente no edifício da Câmara Municipal da capital então chamada Lourenço Marques (e que então se pensava que iria chamar-se Can Phumo ou Can-Fumo). O discurso da tomada de posse foi descrito pelo DN como “virulento ataque” ao capitalismo e à Igreja Católica. “O primeiro dia da independência da República Popular de Moçambique foi vivido em alegria e confraternização revolucionárias”, escrevia o DN, a propósito da apresentação dos representantes dos “movimentos progressistas e revolucionários” por parte do homem que foi o primeiro-ministro do governo de transição e desde 25 de junho de 1975 ministro das Relações Externas (e posteriormente, com a morte de Machel, em 1986, presidente). Entre estes estava o primeiro-ministro de Portugal Vasco Gonçalves. Este afirmou que o “povo português, a partir do dia 25 de junho de 1975, é mais livre do que era antes porque vê ascender à independência uma nova nação de expressão portuguesa”. O militar próximo do PCP disse ter encontrado em Machel a “maior compreensão pelo processo” que se desenvolvia em Portugal (o Processo Revolucionário em Curso) e que “o povo português também foi colonizado por Salazar e Caetano”. O repórter do DN escrevia que “nas ruas e cafés da capital as pessoas dirigem-se umas às outras tratando-se por ‘camaradas’ e o novo chefe de Estado, Samora Machel, é designado por ‘camarada presidente’.” Mas “essa esperança e essa coragem, essa felicidade de ser país novo ainda por muitos e muitos anos”, como o DN escrevia numa nota editorial em manchete, cedo se esboroou com a guerra civil desencadeada no contexto da Guerra Fria. O país abriu-se ao multipartidarismo ainda antes da chegada da paz. Porém, mais de três décadas depois, Moçambique mantém-se com os indicadores de desenvolvimento mais baixos entre os países, em especial devido à insegurança alimentar..Marcelo vê um “futuro de esperança” em Moçambique.Galp conclui venda da Área 4 Moçambique por 881 milhões de dólares