Quando um homem negro morre nos EUA às mãos de polícias brancos é fácil falar em racismo e violência policial, mas quando os agentes responsáveis pelas agressões são também negros, o debate complica-se. "Torna-se mais difícil de engolir. Porque eles são negros e sabem o que passamos", disse RowVaughn Wells, citada pelo The Washington Post. A morte do seu filho, Tyre Nichols, reacendeu o debate sobre racismo sistémico nas forças da ordem norte-americanas. O funeral é hoje, com o elogio fúnebre a ser feito pelo famoso ativista Al Sharpton..Nichols, de 29 anos, foi parado pela polícia de Memphis após uma alegada violação de trânsito (estaria a conduzir do lado errado da estrada). Os agentes insistiram para que saísse do carro e se deitasse no chão, ele deitou-se de lado e disse que só queria ir para casa. Quando os agentes usaram gás pimenta acabou por se levantar na confusão e fugir, sendo disparado um taser (que não parece atingi-lo). Quando foi apanhado de novo, foi pontapeado e espancado já no chão, incluindo na cara, enquanto gritava pela mãe. Acabaria por morrer no hospital, três dias depois, a 10 de janeiro. .Os vídeos das câmaras dos agentes e de vigilância na rua foram revelados na sexta-feira, tendo os cinco sido acusados de homicídio - já tinham sido despedidos. Outros dois polícias, um deles branco (terá sido ele a disparar o taser na interação inicial), foram suspensos enquanto decorre a investigação, foi ontem revelado. A unidade especial de polícia à qual os agentes pertenciam, a Scorpion (iniciais em inglês de Operação Crimes de Rua para Restaurar a Paz nos Nossos Bairros), criada em 2021 para aumentar o policiamento em zonas onde a taxa de criminalidade era elevada, foi desmantelada. Três bombeiros que estiveram no local foram também despedidos, por não terem prestado o auxílio médico adequado..O facto de os agressores serem negros não retira o facto de este ser um crime racista, chamando a atenção para algo que muitos ativistas têm defendido e que se perde no debate quando os agressores são brancos. O problema é "uma cultura policial arraigada de agressão e desumanização dos negros mais do que de racismo interpessoal", escreveu o The New York Times. "É o sistema e as táticas que fomentam o racismo e a violência e não as identidades raciais específicas dos polícias", indicou..Em Memphis, 65% da população é negra, tal como 58% da força policial. Apesar de os defensores da reforma das forças de segurança apostarem na necessidade de a polícia refletir a comunidade em que se insere, este caso mostra aos ativistas que não basta apenas isso. As estatísticas mostram que os afro-americanos são os responsáveis pela maior percentagem de crimes violentos nos EUA (sendo que no caso dos homicídios, eles são também a maioria das vítimas), tornando-se por isso no alvo preferencial das autoridades. Os condutores negros têm mais probabilidade de serem parados pela polícia do que os brancos, sendo que o facto de os agentes serem também negros não altera essa situação..susana.f.salvador@dn.pt
Quando um homem negro morre nos EUA às mãos de polícias brancos é fácil falar em racismo e violência policial, mas quando os agentes responsáveis pelas agressões são também negros, o debate complica-se. "Torna-se mais difícil de engolir. Porque eles são negros e sabem o que passamos", disse RowVaughn Wells, citada pelo The Washington Post. A morte do seu filho, Tyre Nichols, reacendeu o debate sobre racismo sistémico nas forças da ordem norte-americanas. O funeral é hoje, com o elogio fúnebre a ser feito pelo famoso ativista Al Sharpton..Nichols, de 29 anos, foi parado pela polícia de Memphis após uma alegada violação de trânsito (estaria a conduzir do lado errado da estrada). Os agentes insistiram para que saísse do carro e se deitasse no chão, ele deitou-se de lado e disse que só queria ir para casa. Quando os agentes usaram gás pimenta acabou por se levantar na confusão e fugir, sendo disparado um taser (que não parece atingi-lo). Quando foi apanhado de novo, foi pontapeado e espancado já no chão, incluindo na cara, enquanto gritava pela mãe. Acabaria por morrer no hospital, três dias depois, a 10 de janeiro. .Os vídeos das câmaras dos agentes e de vigilância na rua foram revelados na sexta-feira, tendo os cinco sido acusados de homicídio - já tinham sido despedidos. Outros dois polícias, um deles branco (terá sido ele a disparar o taser na interação inicial), foram suspensos enquanto decorre a investigação, foi ontem revelado. A unidade especial de polícia à qual os agentes pertenciam, a Scorpion (iniciais em inglês de Operação Crimes de Rua para Restaurar a Paz nos Nossos Bairros), criada em 2021 para aumentar o policiamento em zonas onde a taxa de criminalidade era elevada, foi desmantelada. Três bombeiros que estiveram no local foram também despedidos, por não terem prestado o auxílio médico adequado..O facto de os agressores serem negros não retira o facto de este ser um crime racista, chamando a atenção para algo que muitos ativistas têm defendido e que se perde no debate quando os agressores são brancos. O problema é "uma cultura policial arraigada de agressão e desumanização dos negros mais do que de racismo interpessoal", escreveu o The New York Times. "É o sistema e as táticas que fomentam o racismo e a violência e não as identidades raciais específicas dos polícias", indicou..Em Memphis, 65% da população é negra, tal como 58% da força policial. Apesar de os defensores da reforma das forças de segurança apostarem na necessidade de a polícia refletir a comunidade em que se insere, este caso mostra aos ativistas que não basta apenas isso. As estatísticas mostram que os afro-americanos são os responsáveis pela maior percentagem de crimes violentos nos EUA (sendo que no caso dos homicídios, eles são também a maioria das vítimas), tornando-se por isso no alvo preferencial das autoridades. Os condutores negros têm mais probabilidade de serem parados pela polícia do que os brancos, sendo que o facto de os agentes serem também negros não altera essa situação..susana.f.salvador@dn.pt