Morreu o último ditador da Coreia do Sul: "O Carniceiro de Gwangju"
O ditador, que ficou conhecido como "O Carniceiro de Gwangju", morreu esta terça-feira (23 de novembro). Foi uma das figuras mais odiadas da Coreia do Sul.
O ditador sul-coreano Chun Doo-hwan permanece entre as figuras mais odiadas do país, apesar de ter sido o primeiro presidente a entregar o poder de forma pacífica.
Chun - que morreu aos 90 anos esta terça-feira (23 de novembro), de acordo com a sua empregada de longa data - era conhecido como o "Carniceiro de Gwangju" por ter ordenado que as tropas do governo pusessem fim a uma revolta em 1980 contra o seu governo numa cidade do sudoeste da Coreia.
Foi uma das ações que levaram à sua condenação à morte por traição.
Mas Chun nunca enfrentou a forca - a sentença foi alterada para prisão perpétua num primeiro recurso, seguido de um perdão presidencial.
Chun presidiu ao crescimento da prosperidade económica da Coreia do Sul e até garantiu os Jogos Olímpicos de 1988 para Seul, mas a história irá lembrá-lo sempre como o último ditador do país.
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Nascido em 1931, Chun entrou para a academia militar durante o auge da Guerra da Coreia e foi utilizando a escalda nas patentes militares para ir ganhando cada vez mais poder na organização e ,consequentemente, no país.
"Revolta de Gwangju"
Milhares de moradores e estudantes montaram protestos em Gwangju contra o governo de Chun, que invocou a lei marcial e depois de 10 dias colocou fim às manifestações de uma forma muito violenta.
Cerca de 200 pessoas foram declaradas mortas ou desaparecidas de acordo com números oficiais, mas os ativistas dizem que o número pode ter sido três vezes maior.
O episódio tornou-se um símbolo da luta pela democracia na Coreia do Sul.
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Chun e algumas figuras políticas de extrema-direita classificaram-no como um "motim" desencadeado por simpatizantes da Coreia do Norte.
"O incidente de Gwangju foi uma espécie de motim com pessoas carregadas de armas. Consequentemente, nós não tivemos nenhuma escolha a não ser utilizar as tropas para acabar com o motim" disse Chun numa entrevista em 2003.
Os seus oito anos de poder foram marcados pelo uso generalizado de tortura contra dissidentes e pela asfixia da liberdade de expressão.
Enquanto esteve no poder, sobreviveu a uma tentativa de assassinato por parte da Coreia do Norte.
Durante uma visita de Estado a Myanmar em 1983, agentes norte-coreanos tentaram matá-lo bombardeando uma cerimónia num memorial a Aung San - o herói da independência birmanesa.
Os mortos incluíram o ministro das Relações Exteriores de Chun e o principal conselheiro económico, mas o alvo escapou ileso - Chun tinha sido atrasado pelo trânsito e não estava presente.
Protestos públicos generalizados contra Chun em 1987 foram de tal escala que ele não teve escolha a não ser aceitar a restauração da democracia no país.
Ele renunciou ao cargo no ano seguinte, depois do seu amigo de longa data e aliado Roh Tae-woo, um colega da academia militar, ter ganho as eleições sul-coreanas.
Batalhas judiciais
Depois do líder da oposição, Kim Young-sam, ter sido eleito presidente em 1993, Chun foi acusado de traição pelo golpe de 1979, por Gwangju e ainda por outras ofensas. Foi condenado à pena de morte.
Chun apelou com sucesso contra a pena, e mais tarde foi perdoado por sugestão do presidente Kim Dae-jung.
Durante o seu julgamento, Chun disse que o caso foi "politicamente motivado" e defendeu as suas ações enquanto presidente do país.
"Eu fiz o meu melhor para salvar o país quando ele estava a enfrentar um perigo iminente", disse ele. Chun negou ainda qualquer envolvimento direto na supressão da revolta Gwangju.
Esteve atolado em batalhas judiciais até aos seus últimos anos.