Morreu o político que quase levou a Escócia à independência
Ohrid, na Macedónia do Norte, vila com o nome do lago que a banha, foi onde morreu de súbito Alex Salmond, o líder nacionalista escocês nascido há 69 anos em Linlithgow, cuja paisagem também é dominada pelo lago homónimo. Salmond fazia parte de um painel de um fórum de diplomacia cultural e desfaleceu depois da sua intervenção - segundo os meios de comunicação britânicos terá sido vítima de ataque cardíaco. Apesar de ter liderado uma campanha pela independência da Escócia que culminou num referendo em que 45% dos eleitores votaram pela secessão do Reino Unido, o rei Carlos e o primeiro-ministro Keir Starmer não pouparam elogios.
Figura controversa, Alex Salmond dominou a política escocesa e influenciou a política britânica durante três décadas. Eleito deputado em 1987, três anos depois ascendeu à liderança do SNP, cargo que manteve até 2000, e depois entre 2004 e 2014. Em resultado da sua aliança com o governo trabalhista de Tony Blair, no final dos anos 1990 a Escócia voltou a ter um governo e um parlamento próprios, a primeira vez desde a sua união com a Inglaterra em 1707. A descentralização foi ratificada por referendo e concedeu poderes próprios em políticas de saúde e educação, por exemplo. No auge da sua influência, convenceu o primeiro-ministro conservador David Cameron a realizar um referendo sobre a independência da Escócia, em 2014. Mas 55% dos compatriotas votaram contra e Salmond demitiu-se da chefia do governo (que liderou desde 2007) bem como do partido.
O SNP continuou a dominar a política escocesa, com o seu delfim Nicola Sturgeon a sucedê-lo nos cargos (2014 a 2023). Em 2018 a relação entre ambos azedou. Duas funcionárias públicas acusaram-no de assédio sexual numa altura em que Sturgeon pediu novas políticas governamentais em matéria de assédio sexual, na sequência do movimento #MeToo. Salmond acusou funcionários próximos da chefe do governo, marido incluído (Peter Murrell, diretor executivo do SNP) de conspirarem contra ele, mas acabou por ser detido e acusado de crimes sexuais. Acabou por ser ilibado em tribunal, um ano depois. O grupo de defesa dos direitos das mulheres For Women Scotland disse que Salmond foi “um titã da política escocesa”.
Em 2021, Salmond criou um novo partido nacionalista, Alba, sem o sucesso de outrora, mas sempre com o desígnio da independência, que contava ter herdado ao colo do avô, e reforçado quando aderiu ao SNP, em 1973, em resultado de uma namorada inglesa que apoucava os seus impulsos secessionistas.
O primeiro-ministro Starmer disse que Salmond “deixa um legado duradouro” e que, “como chefe do governo escocês, preocupou-se profundamente com o património, a história e a cultura da Escócia, bem como com as comunidades que representava.” O rei Carlos III disse sentir-se triste com a notícia da morte de Salmond, cuja “devoção à Escócia impulsionou as suas décadas de serviço público”.