O presidente moçambicano, Filipe Nyusi, admitiu esta sexta-feira que partilha da “impaciência” que existe no país com a proclamação dos resultados das eleições gerais de outubro. Mas avisou que se houver necessidade de corrigir processos eleitorais, os moçambicanos sabem como fazer, e defendeu a atuação da polícia. Na véspera, pelo menos três pessoas morreram e 66 ficaram feridas nos confrontos entre manifestantes e autoridades..“Naturalmente que essa impaciência temos todos nós, eu também tenho, para ver quando é que a gente sabe com quem fala, como falamos, porque falamos”, disse Nyusi aos jornalistas, citado pela Lusa, depois de visitar um centro comercial, em Maputo, onde duas lojas foram vandalizadas e pilhadas nas manifestações violentas de quinta-feira, de contestação aos resultados eleitorais. “Se não houvesse ação da polícia, a travar, quando eles iam à baixa, acredito que aquelas lojas deles, todas, estariam nesta situação. Mas a polícia conseguiu gerir”, defendeu, pedindo o fim da violência..“Se alguma lei e algumas coisas estão mal feitas, os moçambicanos têm capacidade de corrigir. Porque de facto se reclama que esta coisa não foi feita bem por causa disso, isso é bom. Então, qual é o momento em que vamos fazer, bom isso somos nós que vamos fazer, não há de haver outra pessoa”, disse, recusando as críticas ao Conselho Constitucional, órgão que tem a competência de proclamar os resultados eleitorais em Moçambique. “Manipulámos a opinião do Conselho Constitucional, não podemos tomar decisão nessa altura em manipulação. Isso não é um Estado democrático”, afirmou..A Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique atribuiu a vitória nas presidenciais de 9 de outubro a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975), com 70,67% dos votos. A proclamação, a 24 de outubro, desencadeou protestos populares, convocados por Venâncio Mondlane, candidato apoiado pelo Podemos, que ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas não reconheceu o resultado..Na quinta-feira, oitavo dia das greves convocadas por Mondlane, pelo menos três pessoas morreram e 66 ficaram feridas durante confrontos entre manifestantes e a polícia. O balanço foi feiro pelo Hospital Central de Maputo (HCM), maior unidade do país. “Dos 66 feridos, tivemos 57 possivelmente com lesões causadas por armas de fogo, quatro por queda, três por agressão física e dois feridos com armas brancas”, acrescentou o diretor do Serviço de Urgência de Adulto no HCM, Dino Lopes..O presidente do partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), Albino Forquilha, anunciou a continuação das manifestações convocadas por Mondlane, acusando a polícia de atirar “para intimidar” contra os manifestantes. “Quem devia proteger os manifestantes, assegurar que o processo decorra com harmonia, é a mesma pessoa que atira sobre os manifestantes para intimidar”, disse aos jornalistas. .Já o presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, um dos quatro candidatos presidenciais, exigiu uma recontagem dos votos ou a repetição da votação, como formas de repor a “justiça eleitoral”. O líder do terceiro maior partido moçambicano afirmou que só estas duas soluções permitem a “credibilização” do processo eleitora, fortemente contestado.