Mísseis russos na visita da MNE francesa à Ucrânia
Paris rejeita acusação do Kremlin de que o Ocidente está em "envolvimento direto" na guerra e estuda envio de tanques Leclerc.
Moscovo respondeu ao anúncio do envio de carros de combate ocidentais para Kiev com nova salva de mísseis de cruzeiro contra vários pontos da Ucrânia, tendo o Kremlin denunciado o "envolvimento direto" do Ocidente no conflito. Um dos alvos foi Odessa, a cidade recém designada património mundial, onde os chefes da diplomacia de Kiev e de Parisse viram forçados a reunir-se num abrigo antiaéreo.
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Segundo o balanço de Kiev, o ataque russo ficou marcado pelo número 11: foi esse o número de regiões atingidas, bem como o de mortes e de feridos. O exército ucraniano informou que tinha abatido 47 dos 55 mísseis russos disparados, "incluindo 20 perto da capital". Também em resultado dos ataques, foram acionados cortes de energia em Kiev e noutras três regiões como medida de precaução. O objetivo foi "evitar grandes danos nas infraestruturas elétricas no caso dos mísseis do inimigo atingirem os seus alvos", explicou a companhia elétrica DTEK. Duas infraestruturas na região de Odessa ficaram danificadas.

Trabalhadores tentam restabelecer as conexões elétricas na região de Kiev, depois de um ataque russo com 55 mísseis de cruzeiro.
© EPA/SERGEY DOLZHENKO
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Foi nessa cidade portuária que o ministro dos Negócios Estrangeiros Dmytro Kuleba recebeu a homóloga francesa Catherine Colonna. Depois de um passeio a pé pelo centro histórico, que no dia anterior foi inscrito na lista do património mundial da UNESCO - tendo a organização saudado a "cidade livre, cidade mundial, porto lendário que marcou o cinema, a literatura e as artes" -, os dois viram-se na contingência de realizar a reunião num abrigo antiaéreo, no caso a cave do Teatro da Ópera, devido a mais um ataque. Um míssil de cruzeiro disparado de um avião de caça russo Su-35 acabou no mar, abatido pela defesa ucraniana, segundo o comando militar.
"Graças a um míssil russo tive a minha primeira reunião diplomática bilateral numa cave. O café estava quente, merci!", contou a ministra francesa no Twitter. Também Kuleba se referiu ao encontro de contornos "provavelmente" inéditos. Ambos disseram ter mantido uma conversa sobre todos os tópicos na agenda, o que inclui a assistência militar e humanitária a Kiev.
O tema de que mais se fala é sobre tanques de guerra, depois de Berlim e Washington terem anunciado o envio de Leopard 2 e Abrams. O Kremlin denunciou o "envolvimento direto" do Ocidente na guerra da Ucrânia. "Em Moscovo, vemos isto como um envolvimento direto no conflito e vemos que está a crescer", apontou o porta-voz presidencial russo Dmitri Peskov.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros francês negou este ponto de vista. "Respondemos muito claramente que não estamos em guerra com a Rússia e nenhum dos nossos parceiros está. A entrega de equipamento militar à Ucrânia, que é efetuada no âmbito do seu exercício de autodefesa ao abrigo do artigo 51.º da carta das Nações Unidas, não constitui cobeligerância", disse um porta-voz.
Sobre a hipótese de Paris também contribuir com os seus veículos pesados de combate, a ministra realçou que "atualmente a prioridade da Ucrânia continua a ser a aquisição de sistemas adicionais de defesa aérea", tendo destacado que o ministro da Defesa Reznikov o afirmou na véspera. "Penso que vamos responder a este pedido", disse. Aos sistemas LRU e Crotale, já transferidos por Paris, irá juntar-se o novo sistema SAMP/T, de fabrico ítalo-francês.
Sem fugir à questão, Colonna disse que uma decisão positiva "não é impossível", mas terá de ser tomada depois uma avaliação do Ministério da Defesa que responda de forma positiva a duas questões: fornecer um apoio "real e eficaz", tendo em conta a manutenção, logística e prazos de formação; e não enfraquecer as próprias capacidades de defesa. A França conta com uns 200 tanques Leclerc, dos quais 160 estarão em prontidão, e outros 200 para servir de reserva de peças, segundo o Le Point.
O Canadá é o mais recente país a a sinalizar que vai enviar os Leopard 2, depois da Polónia, Finlândia e Alemanha o anunciarem e outros como a Noruega, Suécia, Espanha ou Portugal estarem abertos a essa hipótese.
cesar.avo@dn.pt
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