O cardeal Robert Francis Prevost, nascido nos EUA há 69 anos, mas com um percurso eclesiástico ligado ao Peru, foi eleito o 267.º papa da Igreja Católica. O primeiro papa norte-americano escolheu o nome de Leão XIV. “A paz esteja com todos vós”, foram as suas primeiras palavras às mais de 100 mil pessoas que foram enchendo a Praça de São Pedro desde que, pouco depois das 18h00 locais (17h00 em Lisboa), o fumo branco saiu da chaminé da Capela Sistina.Leão XIV, que falou primeiro em italiano e depois deixou uma mensagem em espanhol para a sua diocese peruana de Chiclayo (não usou o inglês natal), repetiu várias vezes a palavra “paz” ao longo do discurso - especialmente importante no dia em que se celebraram os 80 anos da vitória sobre a Alemanha nazi na II Guerra Mundial. O novo papa, que estava nalgumas listas de favoritos, mas não deixa de ser uma surpresa, falou numa paz “desarmada” e “desarmante” para “todos os povos”.“Obrigado Francisco”, disse também, tendo feito várias referências ao antecessor, que morreu na Segunda-feira de Páscoa aos 88 anos. Leão XIV lembrou que “Deus ama todos” e falou na necessidade de “construir pontes, com o diálogo, com o encontro” para que sejamos “um único povo, sempre em paz”. Leão XIV defendeu uma Igreja “missionária” e “sempre aberta a receber todos”. E a Igreja “sinodal” de Francisco, que apostou nesta ideia de uma Igreja em que todos os católicos caminham juntos, promovendo a unidade e participação de todos. O novo papa, que é também o bispo de Roma, pediu uma Igreja que “mostra sempre caridade, especialmente com aqueles que sofrem”, que procura a justiça e “trabalha com homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo, sem medo”.O até agora prefeito do Dicastério para os Bispos (o poderoso departamento dentro da Cúria Romana responsável por selecionar e gerir os bispos a nível global), é o primeiro papa agostiniano, tendo citado no seu discurso as palavras de Santo Agostinho: “Para vós sou bispo, mas convosco sou cristão.” Como Francisco, tem um compromisso com os mais pobres e desfavorecidos, tendo sido missionário, mas ao contrário do antecessor é mais reservado e discreto.Habemus papamDepois do fumo negro de manhã, que assinalou que a segunda e a terceira votações do Conclave tinham falhado, o fumo branco surgiu às 18h07 locais (17h07 em Lisboa). Apesar da expectativa, muitos acreditavam que a eleição iria demorar mais, mas terá sido à quarta votação (o anúncio surgiu quase à mesma hora do que assinalou a eleição de Bento XVI, em 2005). A multidão rejubilou, mas teve de esperar durante mais de uma hora para conhecer o nome do novo papa.Aos poucos, a Praça de São Pedro foi-se tornando pequena para acolher todos os que queriam ouvir em direto o “Habemus papam”. Coube ao cardeal francês Dominique Mamberti, protodiácono da Igreja, dizer as palavras que 1,4 milhões de católicos (e milhões de outras religiões) esperavam ouvir. Dois terços dos 132 cardeais eleitores tinham conseguido chegar a um nome.“Robertum Franciscum”, disse o francês em latim, acrescentando depois o apelido “Prevost”. Mamberti revelou ainda que o norte-americano, nascido em Chicago (que desde 2005 também tem nacionalidade peruana), tinha escolhido o nome Leonem XIV, Leão XIV. Foram precisos mais uns minutos para que o novo papa surgisse à varanda de São Pedro para receber os aplausos da multidão, não escondendo a emoção do momento.O nome de Leão XVI pode ser uma referência a Leão XIII, que foi papa na viragem do século XIX para o XX e lançou as bases para o pensamento social da Igreja Católica, com uma encíclica que abordava os direitos dos trabalhadores e o socialismo..Porquê Leão? O significado da escolha do nome do novo papa. Trump: “Emoção” e “honra”O presidente norte-americano, Donald Trump, congratulou-se nas redes sociais com a escolha de Prevost. “É uma honra saber que ele é o primeiro papa americano. Que emoção e que grande honra para o nosso país. Estou ansioso para conhecer o papa Leão XIV. Será um momento muito significativo!”, disse.Mas a relação do cardeal Prevost com a atual Administração norte-americana não é a melhor, tendo, no passado, usado as redes sociais para criticar as políticas de Trump para com os migrantes, por exemplo. Não de forma direta, mas partilhando artigos críticos do republicano. Em fevereiro, por exemplo, atacou o “conceito de amor” do vice-presidente, JD Vance.Também a presidente peruana, Dina Boluarte, saudou o novo líder da Igreja Católica. “A sua eleição enche de orgulho a nossa nação, que foi a sua casa, a sua missão e a sua fé”, afirmou, dizendo esperar “que o seu pontificado seja guia de paz, justiça e amor para o mundo”.Em pleno ano do Jubileu em Roma, o novo papa não tem um minuto a perder e a sua agenda mostra precisamente isto. Esta sexta-feira vai celebrar a missa na Capela Sistina com os outros cardeais, a partir das 11h00 locais (10h00 em Lisboa). No domingo, dará a tradicional bênção urbi et orbi (para a cidade e para o mundo) a partir da varanda da Basílica de São Pedro. E, segundo o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, planeia uma audiência com os jornalistas já na segunda-feira..Reações. Marcelo saúda Leão XIV com "profunda alegria", Trump fala em "grande honra" para os EUA