Marin e Ardern. O futuro após serem as mais jovens chefes do governo do mundo

A finlandesa perdeu as eleições e vai deixar liderança do Partido Social-Democrata, já a neozelandesa surpreendeu ao pedir a demissão em janeiro e agora disse adeus ao Parlamento.
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Jacinda Ardern tinha 37 anos quando, a 26 de outubro de 2017, tomou posse como primeira-ministra da Nova Zelândia, tornando-se na mais jovem chefe de governo do mundo. Um título que a finlandesa Sanna Marin conquistou a 19 dezembro de 2019, tinha então 34 anos. As duas deixam o poder este ano. A neozelandesa demitiu-se de surpresa em janeiro, alegando não ter mais "energia" para o cargo, e despediu-se esta semana do Parlamento. Já a finlandesa perdeu as eleições do último domingo, anunciando que irá deixar a liderança do partido.

A demissão de Ardern, hoje com 42 anos, foi oficializada a 25 de janeiro, depois de o Partido Trabalhista eleger o seu sucessor - Chris Hipkins. O anúncio de que pretendia renunciar tinha apanhado o mundo de surpresa poucos dias antes, tendo sido apontada como um exemplo por muitos - pela reação aos atentados de Christchurch, em março de 2019, a resposta à pandemia de covid-19, ou simplesmente pela sua empatia.

Mas a nível interno, a sua popularidade estava em queda (por causa da inflação e do aumento do crime) e a primeira-ministra era alvo de pressões e abusos online. Em novembro, parecia preparada para se lançar na candidatura a um terceiro mandato, nas eleições previstas para o próximo mês de outubro, mas em janeiro dizia não ter energia para mais e querer dedicar tempo à filha - que nasceu estava ela no poder - e ao companheiro. Os planos de casamento tiveram que ser adiados por causa da covid-19. Na hora da demissão, anunciou que deixava não apenas a chefia do governo, mas também o Parlamento no final do atual mandato.

A despedida oficial foi esta semana, com um discurso emotivo em maori e inglês, que recebeu uma ovação. Filha de um polícia e de uma auxiliar de um refeitório escolar, Ardern lembrou os seus começos humildes e que nunca esperou ser primeira-ministra, desejando contudo inspirar outros a candidatarem-se a cargos políticos.

"Podes ser ansioso, sensível, gentil e transparente nas emoções", afirmou com lágrimas nos olhos e usando uma tradicional capa de penas maori (korowai ). "Podes ser uma mãe ou não, uma ex-mórmon ou não [ela deixou a igreja quando tinha 20 anos para apoiar os direitos das pessoas LGBT]. Uma nerd, alguém que chora, alguém que abraça, podes ser todas estas coisas e não apenas podes estar aqui, podes liderar como eu", indicou.

Emocionada, falou do trauma dos atentados nas mesquitas de Christchurch, no qual 51 pessoas morreram. "Tendo infelizmente visto a nossa nação num momento horrível de dor, concluiu que os países não ultrapassam as tragédias, elas tornam-se parte da nossa psique", afirmou. Ardern foi nomeada pelo sucessor para um cargo não remunerado no projeto Christchurch Call, que ela própria criou após os atentados, com o objetivo de lutar contra o extremismo online. Além disso, irá também trabalhar no prémio Earthshot, do príncipe William, que visa procurar soluções para os desafios climáticos. "A mudança climática é uma crise. Está diante de nós", disse no discurso de despedida, apelando a "tirar a política" do tema.

Se a saída de Ardern foi voluntária, a de Sanna Marin surge depois de a primeira-ministra finlandesa ter falhado a reeleição. Apesar de ter melhorado o desempenho do Partido Social-Democrata - conquistou mais três deputados - isso foi insuficiente face à subida dos conservadores do Partido da Coligação Nacional, de Petteri Orpo (que deverá ser o próximo chefe de governo) e do Partido dos Finlandeses (anti-imigração).

Depois de ter digerido a derrota, Marin, de 37 anos, anunciou que pretende deixar a liderança dos sociais-democratas no próximo congresso, previsto para setembro. Por enquanto, vai liderar as negociações do partido para a formação de governo - Orpo precisará de alianças, à esquerda ou à direita, para ter a maioria - mas afasta a hipótese de poder ter um cargo ministerial em caso de acordo.

Marin apresentou oficialmente a renúncia do governo na quinta-feira, mas continuará como interina até haver acordo para o novo governo. Os seus planos passam por seguir no Parlamento, tendo rejeitado a ideia de concorrer à presidência da Finlândia no próximo ano, quando termina o segundo mandato de Sauli Niinistö - o cargo é principalmente cerimonial.

Especula-se contudo que poderá haver um cargo internacional no seu futuro. Após a Finlândia se tornar no 31.º Estado membro da NATO, um desses cargos poderia ser o de secretária-geral da Aliança Atlântica. Jens Stoltenberg sai em setembro e tem havido pressão para escolher uma mulher para lhe suceder. Outra possibilidade seria um cargo europeu. "Não me ofereceram qualquer cargo internacional", afirmou Marin aos jornalistas, dizendo esperar viver "uma vida mais calma" e admitindo que a sua própria resistência "foi testada algumas vezes durante estes anos".

Em agosto, a polémica instalou-se com vídeos da primeira-ministra a dançar e a beber numa festa na casa de amigos, alguns deles famosos. Houve mesmo uma investigação oficial para garantir que não tinha negligenciado as suas responsabilidades. "Sou humana. Também eu anseio por vezes por alegria, luz e diversão no meio destas nuvens escuras", afirmou na altura. Sem assumir novos cargos, terá mais espaço para poder voltar a dançar.

O líder mais novo atualmente no poder é Ibrahim Traoré, que aos 34 ou 35 anos (não é claro quando nasceu) é presidente interino do Burkina Faso. O capitão é um dos oficiais que derrubou num golpe em setembro outro militar, que em janeiro de 2022 tinha derrubado o presidente Roch Marc Christian Kaboré. Entre os líderes democraticamente eleitos, o mais jovem é atualmente o chileno Gabriel Boric, antigo líder estudantil de 37 anos que tomou posse como presidente a 11 de março de 2022.

susana.f.salvador@dn.pt

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