Mariano Rajoy: “É preciso gastar mais em Defesa e não fazer demagogia”
O ex-primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy defendeu esta terça-feira, na 3.ª edição do Foro La Toja em Lisboa, que os europeus têm de cumprir os seus compromissos em matéria de segurança, sendo este um dos “50 milhões de desafios” que a União Europeia enfrenta. “É preciso gastar mais em Defesa e não fazer demagogia”, afirmou. “Não podemos adiar mais, esperar mais, procrastinar. Temos de investir, temos de contribuir para uma comunidade europeia de segurança e defesa”, disse também o chefe da diplomacia português, Paulo Rangel.
As questões de Defesa no cenário de uma nova ordem mundial marcada pela recente postura dos EUA dominaram o debate na Fundação Calouste Gulbenkian. Rajoy disse que é preciso cumprir o objetivo estabelecido pela UE na Defesa e investir mais, após décadas em que esta esteve “subcontratada” aos EUA. “É preciso deixarmo-nos de eufemismos, é preciso explicar às pessoas a verdade e dizer-lhes que temos de nos defender, pelo que é preciso investir em Defesa. E não se pode enganar as pessoas”, insistiu, num recado também interno para o sucessor, Pedro Sánchez.
Num outro painel, o ex-chefe da diplomacia e antigo presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, explicou que é preciso a Europa “deixar de falar apenas e só em aumentar a percentagem do PIB que gasta em Defesa para se rearmar”. Considera essa linguagem “muito perigosa” e esta visão “muito estreita”, alegando que a necessidade de investir mais em Defesa tem que ser aproveitada para “reforçar a competitividade e recuperar o atraso tecnológico”.
Augusto Santos Silva considerou ainda uma “hipocrisia” dizer que gastar mais em Defesa não vai prejudicar as funções sociais do Estado. Momentos antes, em declarações aos jornalistas à margem do fórum, o seu sucessor no Ministério dos Negócios Estrangeiros tinha defendido que “não existe nenhuma incompatibilidade entre o Estado Social e uma prioridade dada à Defesa”. Rangel respondia a uma questão sobre as declarações do presidente do Conselho Europeu, António Costa, à Renascença. “A ideia de que é necessário escolher entre investir em Defesa ou em coesão social está errada”, defendeu o ex-primeiro-ministro português.
Trump: nem alfa, nem ómega
Em questão de política internacional, Santos Silva falou dos dois projetos que acredita existirem atualmente nos EUA. “Um projeto interno, de destruição da democracia norte-americana e do seu sistema de pesos e contrapesos, e confisco do poder político pelas empresas tecnológicas”, explicou. Já no plano externo, “o que está em curso é um projeto de destruição da ordem internacional baseada em regras e sua substituição por uma lógica de dois ou três poderes, que decidem o que entendem no seu espaço de influência genética”.
Neste cenário, o presidente dos EUA, Donald Trump, não é “nem o alfa, nem o ómega disto. É um ator, é o porta-voz e, em alguns momentos, é o instrumento de um projeto de poder” das empresas tecnológicas .