Considera que a forma como as decisões políticas são tomadas na Alemanha necessita de ser explicada ao resto dos europeus?A Alemanha está atualmente a redefinir a sua posição na Europa. Devido à sua dimensão e peso económico, esta reorientação é crucial também para os seus parceiros da UE. Após os anos Merkel e a breve fase da coligação do “semáforo”, o panorama político em Berlim está a remodelar-se. Questões como as guerras, as alterações climáticas, a migração, a NATO e a aliança transatlântica estão a ser reavaliadas internamente. Além disso, a Alemanha tem agora, pela primeira vez, dois partidos populistas relevantes. Precisamos de falar sobre estes desenvolvimentos, pois também influenciam a forma como a Alemanha irá atuar a nível europeu no futuro.O facto de muitos decisores políticos e jornalistas europeus não falarem alemão leva-os a interpretar a Alemanha através da imprensa anglo-saxónica ou francesa, o que nem sempre oferece uma visão fiel?Tentar compreender a Alemanha apenas através dos olhos dos outros não é muito eficaz. Os meios de comunicação britânicos ou franceses tendem a enquadrar a Alemanha através de comparações, mas isso dificilmente capta a complexidade do seu sistema federal. Um antigo chefe meu, um académico maltês de estudos alemães, disse um dia: “A Alemanha não é um só país - são dezassete: o governo federal e dezasseis Länder”. É precisamente por isso que a Academia Europeia Berlim cria espaços de diálogo para jornalistas de toda a Europa. Queremos possibilitar encontros diretos e perceções em primeira mão sobre o papel da Alemanha na Europa. O que precisamos são de menos interpretações e estereótipos e de mais trocas diretas sobre os desafios comuns que a Europa enfrenta.Nos seminários para jornalistas organizados pela Academia Europeia Berlim, existe preocupação em trazer oradores que demonstrem a diversidade política da Alemanha?O objetivo dos nossos seminários é proporcionar aos jornalistas dos países parceiros um sólido conhecimento de base para as suas reportagens. A seleção dos especialistas é baseada na competência profissional, e não na filiação política. Trabalhamos em estreita colaboração com as nossas embaixadas alemãs e parceiros locais. Ao longo de mais de 15 anos, conseguimos estabelecer um diálogo confidencial e independente que transcende as mudanças de governo. Esta fiabilidade torna a troca de informação credível - vemo-nos como um ator politicamente independente, empenhado na integração europeia.Com base na sua experiência pessoal, existe hoje, fora da Alemanha, uma maior compreensão dos mecanismos de decisão política na Alemanha do que durante a crise do euro?A minha impressão é que as crises dos últimos anos levaram a uma visão mais matizada da Alemanha. A postura austera da crise financeira foi seguida pelo momento “Nós conseguimos” em 2015 e, durante a pandemia, pelo apoio à dívida conjunta europeia. Cada uma destas decisões teve um impacto em toda a Europa - por vezes recebido com irritação, outras com admiração. Hoje, encontro jornalistas por toda a Europa que estão bem informados, conhecem os intervenientes políticos e compreendem a dinâmica da política alemã. Através do nosso projeto, trazemos também esta valiosa troca de informações para Berlim, o que é vital para o nosso trabalho. Isto representa um progresso real em comparação com os anos da Troika.Quão forte é o europeísmo na Alemanha de hoje? O país continua a ser a locomotiva da Europa?Um chamado “voto alemão”, uma abstenção alemã no Conselho, pode paralisar a tomada de decisões europeias. O motor franco-alemão também tem vindo a apresentar dificuldades há algum tempo, o que complica as soluções conjuntas. No entanto, é evidente que a prosperidade da Alemanha depende diretamente de uma Europa funcional. A verdadeira questão é: porque não estamos a avançar? As posições dos partidos mudaram. O antigo “consenso permissivo” em relação à Europa deu lugar a um debate mais aberto. O líder da CDU, Friedrich Merz, por exemplo, defendeu na década de 1990 a remoção da meta dos “Estados Unidos da Europa” do programa do partido. A sua visão de Europa está mais próxima da de De Gaulle do que da de Kohl. Mas essa abordagem não vai ao encontro dos desafios globais atuais nem aproveita plenamente o potencial da Europa. Se a Alemanha e a Europa tiverem uma visão política limitada, ambas perderão poder de ação. O que precisamos são de princípios orientadores europeus claros que incluam e considerem os outros países europeus e os seus cidadãos - visões que não sejam apenas tecnocráticas, mas também socialmente inspiradoras. Estou convencido de que estas visões sérias para o futuro encontrariam terreno fértil tanto na Alemanha como na Europa. .Da França à Alemanha, e em toda a UE, os riscos são enormes e os desafios são para ganhar