Macron diz que paz não se constrói com humilhação da Rússia

Presidente francês diz que a paz terá de ser construída sem "humilhar" a Rússia e concorda com uma convenção para a revisão dos tratados da União Europeia, propondo que os líderes dos 27 discutam o assunto na cimeira de junho.
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O Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu esta segunda-feira em Estrasburgo que, para terminar a guerra na Ucrânia, a paz terá de ser construída sem "humilhar" a Rússia.

"Amanhã teremos uma paz a construir. É preciso nunca esquecer isso. Teremos de fazê-lo com a Ucrânia e com a Rússia em redor da mesa (...) Mas isso nunca será feito com a exclusão ou com a humilhação de qualquer uma das partes", disse Macron, durante uma conferência de imprensa no Parlamento Europeu.

Macron também argumentou que, "quando a paz voltar ao solo europeu, teremos de construir novos equilíbrios de segurança" sem "nunca ceder à tentação ou humilhação, nem ao espírito de vingança".

"Porque já devastaram demais os caminhos da paz no passado", acrescentou Macron, traçando o paralelo com o Tratado de Versalhes concluído após a Primeira Guerra Mundial, marcado pela "humilhação" da Alemanha.

Até lá, os europeus devem "fazer tudo para que a Ucrânia possa resistir", mas também devem "preservar a paz no resto do continente europeu e evitar qualquer escalada" de conflito com Moscovo, defendeu o Presidente francês.

Para Macron, a celebração do Dia da Vitória em Moscovo expressou "o desejo de uma demonstração de força, de intimidação", através de um "discurso resolutamente bélico" do Presidente russo, Vladimir Putin.

"Aqui, em Estrasburgo, houve a associação de cidadãos, de deputados nacionais e europeus" para "pensar o futuro" do continente europeu, concluiu Macron.

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse esta segunda-feira, em Estrasburgo, ser "favorável" a uma "revisão dos tratados" da União Europeia (UE), propondo que os líderes dos 27 discutam o assunto na cimeira de junho.

"Teremos de reformar os nossos textos, é óbvio. Uma das formas de fazer essa reforma é a convocação de uma convenção para a revisão dos tratados. É uma proposta do Parlamento Europeu e eu aprovo", afirmou o chefe de Estado francês na sede do Parlamento Europeu, em Estrasburgo (nordeste de França), onde fez o seu primeiro discurso sobre a Europa desde a sua reeleição (em abril passado) e a ofensiva russa na Ucrânia.

A intervenção de Macron, cujo país detém atualmente a presidência semestral do Conselho da UE, inseriu-se nas comemorações do Dia da Europa, assinalado esta segunda-feira.

Em Estrasburgo, a efeméride, que assinala a histórica Declaração Schuman, considerada como o momento fundador da atual UE, juntou, a par de Macron, as presidentes do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia, Roberta Metsola e Ursula von der Leyen, respetivamente, numa cerimónia de encerramento da Conferência sobre o Futuro da Europa.

Ursula von der Leyen defendeu esta segunda-feira a necessidade de fazer alterações aos tratados da UE "se forem necessárias" e considerou que deve ser abandonada a exigência de votação unânime dos 27 países membros em algumas áreas-chave.

"Sempre defendi que a votação por unanimidade em certas áreas-chave simplesmente não faz sentido", referiu a líder do executivo comunitário.

"A Europa deve desempenhar um papel mais importante, por exemplo, no campo da saúde e da defesa. E temos de melhorar de modo frequente o funcionamento da nossa democracia", considerou ainda Ursula von der Leyen.

O Parlamento Europeu pediu na semana passada o início de um procedimento para alterar os tratados europeus.

Um passo arriscado que visa, por exemplo, dar ao Parlamento Europeu o poder de ter iniciativa legislativa ou alargar as competências de Bruxelas em matéria de defesa ou saúde.

O órgão também pôs em causa a necessidade de ter unanimidade dos Estados-membros em diversos temas, nomeadamente na questão da fiscalidade, fonte frequente de bloqueios, como o demonstram atualmente as difíceis discussões sobre um embargo ao petróleo russo.

No entanto, a ideia de uma mudança nos tratados está a receber críticas de alguns Estados-membros, em particular de um conjunto de 10 países, incluindo a Dinamarca, a Suécia, a Finlândia e a Bulgária, que consideram a iniciativa "imprudente e prematura", segundo um documento ao qual a agência France-Presse (AFP) teve acesso.

Os 10 países que se opõem às mudanças propostas - onde se incluem também a República Checa, a Eslovénia e os três países bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia) - apontam para o risco de uma "perda de energia" e sublinham que a revisão dos tratados "nunca foi um objetivo" da Conferência sobre o Futuro da Europa.

"Já temos uma Europa que funciona" como demonstraram a crise da pandemia de covid-19 e a resposta à invasão russa da Ucrânia, e "não devemos apressar-nos a fazer reformas institucionais", alertaram os países no texto, acrescentando que as propostas dos cidadãos "não devem ser instrumentalizadas".

A Conferência sobre o Futuro da Europa é um exercício de auscultação e participação dos cidadãos naquilo que querem que seja o futuro da Europa, segundo a definição de Bruxelas.

A iniciativa começou há um ano, tendo - através de um vasto processo de painéis e grupos de trabalho temáticos que reuniram 800 cidadãos, eleitos e representantes da sociedade civil - aprovado, em 30 de abril, cerca de 325 medidas.

"A mensagem foi recebida", admitiu Von der Leyen aos participantes.

"Há muitas coisas que podemos fazer já", disse, prometendo novas propostas no seu discurso sobre o Estado da União, agendado para 03 de setembro.

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