Multidão à porta de um dos estabelecimentos prisionais onde estavam os condenados pelo assalto ao Capitólio, considerados "reféns" pelos apoiantes.
Multidão à porta de um dos estabelecimentos prisionais onde estavam os condenados pelo assalto ao Capitólio, considerados "reféns" pelos apoiantes. EPA/WILL OLIVER

Líderes dos Proud Boys e Oath Keepers (e o "xamã" do QAnon) entre os perdoados por Trump

Mais de 1500 pessoas acusadas pela invasão do Capitólio, há quatro anos, beneficiaram da decisão – mas nem todas a aceitaram. Presidente perdoou também o fundador da Silk Road.
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O presidente norte-americano, Donald Trump, foi mais longe do que muitos esperavam no perdão aos seus apoiantes envolvidos no ataque ao Capitólio, a 6 de janeiro de 2021.

O republicano comutou a sentença a 14 dos condenados e perdoou totalmente mais de 1500 outras pessoas, com mais de 200 a sair da prisão (muitos já tinham cumprido a sentença). Além disso, deu ordens às autoridades para arquivar todos os restantes casos que ainda aguardavam julgamento ou acusação.

Ainda há uma semana, o vice-presidente J.D. Vance tinha dito que as pessoas condenadas por violência "não deviam ser perdoadas", mas Trump ignorou isso. Também as autoridades policiais eram contra tal decisão – mais de 600 pessoas foram condenadas por atacar ou obstruir o trabalho dos polícias, com pelo menos 175 condenados por usar uma arma ou causar ferimentos graves aos agentes naquele dia.

Mas afinal, quem beneficiou dos perdões do presidente?

Henry "Enrique" Tarrio

O líder dos Proud Boys, designado pelo FBI como um grupo extremista com ligações ao nacionalismo branco (promotor da violência racial), foi condenado a 22 anos de prisão por ajudar a planear a insurreição e por conspiração sediciosa - apesar de não ter estado naquele dia no Capitólio.

Foi um dos que foi totalmente perdoado por Trump, tendo já sido colocado em liberdade. Defendeu sempre a sua inocência, dizendo-se um "preso político".

Outros quatro membros do grupo, Joseph Biggs, Zachary Rehl, Ethan Nordean e Dominic Pezzola, condenados a penas entre os 10 e os 18 anos, estão entre os 14 que viram a sentença comutada para o tempo já cumprido. Ao contrário do perdão total, isso significa que ainda ficam com os crimes no registo criminal.

Os Proud Boys desenvolveram um plano, apelidado "1776 Returns", para atacar o Capitólio a 6 de janeiro, data em que a vitória eleitoral de Joe Biden ia ser certificada.

Elmer Stewart Rhodes

O fundador e líder dos Oath Keepers, uma milícia de extrema-direita antigovernamental, tinha sido condenado a 18 anos de prisão por conspiração sediciosa, apesar de também nunca ter chegado a entrar no edifício do Capitólio como Tarrio (apesar de estar presente no local).

O veterano, que usa uma pala no olho depois de se ter ferido acidentalmente com a própria arma, também já saiu em liberdade, após ter visto a sentença ser comutada por Trump.

O mesmo aconteceu a outros membros dos Oath Keepers, formado principalmente por ex-militares e membros das forças de segurança, também estão na lista de beneficiários. Entre eles Kelly Meggs, líder do capítulo da Florida, Jessica Watkins, Kenneth Harrelson, Thomas Caldwell, Roberto Minuta, Edward Vallejo, Jospeh Hackett, David Moerschel e Jeremy Bertino.

Jacob Chansley

Conhecido como o "xamã do QAnon", que começou como uma teoria da conspiração ligada à extrema-direita e se transformou num movimento, Jacob Chansley é um dos rostos mais famosos do ataque ao Capitólio, por causa do chapéu peludo com cornos que usou nesse dia.

Em 2021 reconheceu-se como culpado de um crime de tentativa de impedir um ato oficial, num acordo que lhe permitiu escapar a outras cinco acusações. Foi condenado a 41 meses de prisão, mais de metade deles num instituto de reinserção, tendo sido libertado em maio de 2023.

Apesar de não estar já preso, recebe o perdão total de Trump que, entre outras coisas, devolve por exemplo o direito a comprar armas. Algo que já disse que irá fazer.

A avó MAGA

Nem todos aceitaram o perdão de Trump. Pamela Hemphill, que ficou conhecida como a "avó MAGA" (Make America Great Again), recusou o perdão do presidente. Ela admitiu os crimes e foi condenada a 60 dias na prisão, tendo dito à BBC que não devia haver perdões.

"Estávamos errados naquele dia", afirmou. "Aceitar um perdão só seria insulto à polícia do Capitólio, ao Estado de direito e, claro, à nação", acrescentou.

Ross Ulbricht

Os perdões presidenciais não se limitaram aos eventos de 6 de janeiro de 2021. Trump anunciou ainda ter perdoado incondicionalmente Ross Ulbricht, fundador do site Silk Road e condenado a prisão perpétua por gerir este mercado negro online onde traficantes de droga e outros estiveram envolvidos em trocas ilícitas no valor de 200 milhões de dólares usando bitcoin.

Ulbricht foi detido em 2013 e condenado a prisão perpétua em 2015, mas já saiu da prisão. Para Trump, defendeu a causa de Ulbricht, juntando-se aos libertários que disseram que a condenação era um exemplo de exagero do governo.

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