Lula da Silva: "Luta contra aquecimento global é indissociável da luta contra a pobreza"

O presidente eleito do Brasil deixou claro, no COP27, que o seu país está pronto para participar nas "discussões sobre o futuro do planeta e de todos os seres que nele habitam".

O pesidente eleito do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, defendeu esta quarta-feira que a luta contra o aquecimento global faz parte da luta contra a pobreza, num discurso durante a conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU) COP27, no Egito.

"A luta contra o aquecimento global é indissociável da luta contra a pobreza e por um mundo menos desigual e mais justo", afirmou Lula da Silva.

O futuro Presidente brasileiro também lembrou que não existem dois planetas Terra, todas as pessoas fazem parte da humanidade: "não haverá futuro enquanto continuarmos escavando um poço sem fundo de desigualdades entre ricos e pobres."

Lula da Silva é um dos convidados mais aguardados na COP27, porque o Brasil detém grande parte da maior floresta tropical do planeta, a Amazónia, cuja preservação está ameaçada num contexto em que é essencial manter o equilíbrio da temperatura global.

Lendo um discurso escrito, o líder brasileiro frisou que o convite que lhe foi enviado antes de tomar posse indica "que o mundo tem pressa de ver o Brasil participando novamente das discussões sobre o futuro do planeta e de todos os seres que nele habitam."

Lula da Silva afirmou que o planeta tem alertado a humanidade de que precisamos uns dos outros para sobreviver. Sozinhos, os países estão suscetíveis à tragédia climática, mas esses alertas estão a ser ignorados, salientou.

"Vivemos um momento de crises múltiplas - crescentes tensões geopolíticas, à volta do risco da guerra nuclear, crise de abastecimento de alimentos e energia, erosão da biodiversidade, aumento intolerável das desigualdades (...) Precisamos de mais liderança para reverter a escalada do aquecimento. Os acordos já finalizados têm que sair do papel", salientou.

O futuro Presidente brasileiro que assumirá o cargo em 01 de janeiro de 2023 também pediu recursos para que os países em desenvolvimento, em especial os mais pobres, possam enfrentar as consequências das mudanças climáticas causadas, em grande medida, pelos países mais ricos, que atingem de maneira desproporcional os mais vulneráveis.

"Em 2009, os países presentes à COP15 em Copenhaga comprometeram-se em mobilizar 100 mil milhões de dólares [96,2 mil milhões de euros] por ano, a partir de 2020, para ajudar os países menos desenvolvidos a enfrentarem a mudança climática. Este compromisso não foi e não está sendo cumprido", criticou Luiz Inácio Lula da Silva.

"Isso nos leva a reforçar, ainda mais, a necessidade de avançarmos em outro tema desta COP27. Precisamos com urgência de mecanismos financeiros para remediar perdas e danos causados em função da mudança do clima", acrescentou.

Lula da Silva defendeu não ser possível mais adiar o debate sobre compensações financeiras a países pobres afetados, um tema central que avançou pouco na conferência do clima organizada no Egito.

Falando sobre mudanças na governança global, o líder brasileiro disse ter concorrido e vencido as presidenciais também para propor uma nova governança global e até admitiu a criação de uma governança para o clima, lembrando que muitos tratados multilaterais para evitar o aquecimento global já foram assinados, mas não foram ratificados pelos políticos internamente nos países signatários.

Sobre governação global, o líder progressista voltou a criticar a formação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), lembrando que o mundo de hoje não é o mesmo de 1945, quando o órgão multilateral foi criado.

"É preciso incluir mais países no Conselho de Segurança da ONU e acabar com o privilégio do veto, hoje restrito a alguns poucos, para a efetiva promoção do equilíbrio e da paz", disse Lula da Silva.

Citando dois projetos do seu futuro Governo no plano internacional, Lula da Silva referiu que pretende realizar uma Cimeira dos Países Membros do Tratado de Cooperação Amazónica, para reunir autoridades do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, países que têm parte da maior floresta tropical do planeta no seu território.

Segundo o futuro Presidente brasileiro, a cimeira servirá para os países discutirem de forma soberana a promoção do desenvolvimento integrado da região, com inclusão social e responsabilidade climática.

A segunda iniciativa que anunciou é a oferta do Brasil para sediar a COP30, em 2025, que já havia anunciado no Egito num breve encontro com governadores de estado que têm um espaço especial na COP27.

"Seremos cada vez mais afirmativos diante do desafio de enfrentar a mudança do clima, alinhados com os compromissos acordados em Paris e orientados pela busca da descarbonização da economia global", afirmou Lula da Silva.

"Enfatizo ainda que em 2024 o Brasil vai presidir ao G20. Estejam certos de que a agenda climática será uma das nossas prioridades", completou.

Lula da Silva também mencionou um acordo de cooperação entre Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo firmado neste ano e que pretende fortalecer em seu futuro Governo.

"Juntos, nossos três países detêm 52% das florestas tropicais primárias remanescentes no planeta. Juntos, trabalharemos contra a destruição de nossas florestas, buscando mecanismos de financiamento sustentável, para deter o avanço do aquecimento global", concluiu.

Falando brevemente sobre questões internas, Lula da Silva disse que o Brasil acaba de passar por uma das eleições mais decisivas da sua história, frisando que, do resultado do sufrágio "dependia não apenas a paz e o bem-estar do povo brasileiro, mas também a sobrevivência da Amazónia e, portanto, do nosso planeta."

Lembrando indicadores obtidos nos seus dois primeiros Governos (2003 e 2010), Lula da Silva disse que o Brasil já mostrou ao mundo o caminho para derrotar o desflorestamento e o aquecimento global porque, entre 2004 e 2012, reduziu a taxa de devastação da Amazónia em 83% enquanto o Produto Interno Bruto gerado pelo setor agropecuário do país cresceu 75%.

"Infelizmente, desde 2019, o Brasil enfrenta um Governo desastroso em todos os sentidos - no combate ao desemprego e às desigualdades, na luta contra a pobreza e a fome, no descaso com uma pandemia que matou 700 mil brasileiros, no desrespeito aos direitos humanos, na sua política externa que isolou o país do resto do mundo, e também na devastação do meio ambiente, disse.

"Quero dizer que o Brasil está de volta. Está de volta para reatar os laços com o mundo e ajudar novamente a combater a fome no mundo", concluiu.

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