O G20 vai decorrer de 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro e é Lula quem  vai conduzir a reunião da cimeira de chefes de Estado e de governo.
O G20 vai decorrer de 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro e é Lula quem vai conduzir a reunião da cimeira de chefes de Estado e de governo.Pablo PORCIUNCULA / AFP

Lula entra num “tudo ou nada” diplomático até ao fim de 2024

Brasil é o anfitrião do G20, em novembro, mas pelo meio o presidente tem Assembleia Geral da ONU, reunião dos BRICS, presença na COP29 e cimeira do Mercosul na agenda para afirmar a posição internacional do país.
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Lula da Silva, presidente do Brasil, passará boa parte dos três meses e meio até ao fim de 2024 no estrangeiro, em cimeiras, assembleias, visitas, conferências, reuniões e tomadas de posse. O segundo semestre do ano, cujo ponto alto é o encontro no Rio de Janeiro do G20, pode definir o futuro da posição do maior país lusófono no mundo? Especialistas acham que sim.

“Em resumo, Lula precisa entregar algo no G20, dar a impressão de que não está muito antiocidental na reunião dos BRICS e sinalizar como vai ser a diplomacia do Brasil nos dois próximos anos de mandato nos demais encontros”, diz Vinícius Rodrigues Vieira, professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado. 

“Não diria que este segundo semestre de 2024 é a hora da verdade do Lula mas é, pelo menos, o momento de afirmação”, acrescenta Roberto Georg Uebel, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing. “A maior parte dos eventos vai ocorrer já após as eleições municipais, por isso, não há necessidade de um policiamento sobre o que o presidente pode, ou não, dizer, e depois das eleições norte-americanas, então chegou sim o momento do Brasil se reafirmar nessas viagens”.

Em resumo, eis a agenda internacional de Lula, presidente que, logo na posse, a 1 de janeiro de 2022, disse que “o Brasil está de volta” ao cenário internacional, depois de, sob governo de Jair Bolsonaro, ser visto, nalguns setores, como pária. 

De 22 a 25 de setembro, o chefe de Estado participa na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, e do Call To Action [Chamada à Ação], que está a ser organizado no âmbito do G20 para conclamar todas as nações do mundo a pedir reformas no sistema de governação global.

“Lula falará da questão da reforma na governança global, onde pode antecipar o que vai defender no próprio G20 em relação à aprovação de um imposto global às grandes corporações, porém, sem o apoio dos BRICS e dos países europeus, o discurso soará apenas a retórica e de retórica e soft power este governo está cansado”, diz Vinícius Vieira.

Nos dias 30 de setembro a 1 de outubro, entretanto, o presidente do Brasil fará uma visita oficial ao México para participar na tomada de posse da recém eleita Claudia Sheinbaum.

De 21 a 23 de outubro, Lula participa da cimeira dos BRICS, em Kazan, na Rússia, onde o Brasil vai receber a presidência de um grupo, que inclui ainda Índia, China e África do Sul, além de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irão, nações que se juntaram este ano. “Aí Lula terá de tomar cuidado no seu discurso para não dar a impressão de ter uma atitude pró-Vladimir Putin, será muito desafiador ainda para o Brasil concordar com alguma declaração final porque há um pendor para abraçar posições antiocidentais por parte de Rússia e China e de Irão ou Egito”, adverte Vieira.

A seguir, o presidente brasileiro segue para Baku, no Azerbaijão, onde na COP 29, de 9 a 12 de novembro, será passado ao Brasil o bastão da presidência temporária da conferência do clima mais importante do mundo. Nesta COP espera-se também o anúncio de novas metas para conter o aumento da temperatura global e cálculos para os valores de investimentos necessários para que isso aconteça.

Por ser logo a seguir, talvez Lula se faça representar pelo vice-presidente Geraldo Alckmin na reunião da APEC, Cooperação Económica da Ásia e do Pacífico, a 14 e 15 de novembro, em Lima, no Peru. Criada em 1989, a APEC é composta por 21 países e territórios que representam 56% do PIB mundial e 46% do comércio global. Segundo Vieira, “a APEC, entalada entre COP e G20, talvez não conte com Lula, o que é uma pena porque a relação com o Pacífico não devia ser deixada de lado, a curto prazo é a menos importante mas a longo prazo é relevante”.

A cereja no bolo

Finalmente, o G20, de 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro. É Lula quem conduz a reunião da cimeira de chefes de Estado e de governo do G20, além do comunicado final. “O G20 é o mais importante desses encontros, sem dúvida, porque Lula é o anfitrião, o Brasil terá um ónus maior caso as discussões não rendam frutos”, diz Vieira.

Para o académico, “o país tem, entretanto, uma oportunidade de avançar com uma agenda no combate à fome e de política ambiental e de lançar o citado imposto global corporativo, proposta da OCDE, se houver avanços neste último ponto, a cimeira será considerada uma vitória de Lula”. “De todas as viagens, é o encontro em solo brasileiro o mais determinante”, nota Uebel.

O presidente ainda participa da cimeira do Mercosul, em Montevideu, de 19 a 20 dezembro, com a Venezuela no topo da agenda desde a eleição em que Nicolás Maduro foi confirmado vencedor pelas autoridades locais, resultado contestado pela oposição, pelos EUA e por 10 países da América Latina. “O Mercosul é um grande teste à capacidade da liderança regional de Lula que não depende apenas dele mas também do [presidente da Argentina] Javier Milei”, sublinha Vieira.

Entretanto, com tantas viagens, Lula não corre o risco de negligenciar o Brasil, em ano eleitoral e com fogos a alastrarem no Pantanal, entre outros desafios? Roberto Uebel acha que não: “Até agora, à exceção talvez da ida à coroação do rei de Inglaterra ou da presença uma reunião dos BRICS enquanto havia enchentes no Rio Grande do Sul, as viagens de Lula são úteis porque é importante o país marcar posição numa agenda multilateral.”

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